Papai, quero casar! - Angela Barros




Papai, quero casar! 
Angela Barros

        Papai não adianta insistir vou casar com o senhor Epaminondas Pedro de Barros, quer você consinta ou não. Por favor, não quero ir embora sem sua benção.

        Maria Amélia desde muito pequena tem um temperamento forte, quando quer alguma coisa vai até o fim. Sabe como ninguém manipular os pais. Como faz isso sempre com muita meiguice, eles acabam cedendo aos seus pedidos. Afinal, o casal tem oito filhos e ela é a única mulher, filha temporã que nasceu quando Antonio, sétimo filho, já estava com cinco anos, causando uma grande  alegria no seio da família Barros.

         Porém, nesse caso será difícil dizer sim para a filha. Com apenas treze anos a menina está perdidamente apaixonada pelo primo paulistano, vinte anos mais velho, que volta dos estudos na Europa junto com seu irmão mais velho Antônio e está hospedado em sua casa antes de voltar para São Paulo.

        Minha filha ele é vinte anos mais velho, vive em São Paulo, acabou de se formar. Sua mãe vai morrer de tristeza com sua ausência, pense bem antes de tomar a decisão mais importante da sua vida. Você sabe que será muito difícil visitarmos você.

        Papai ele é o homem da minha vida, estamos apaixonados!

        Vamos fazer assim, vou conversar com ele, pedi para que fique alguns meses aqui na cidade, assim nós poderemos conhecer melhor o rapaz. Se no final desse tempo ele se mostrar um homem merecedor da sua mão e você ainda continuar sentindo a mesma coisa por ele, veremos o que fazer.

        Os irmãos tinham verdadeira adoração pela irmã. Concordavam com o pai que Amélia deveria pensar melhor a respeito do seu casamento. Afinal, um homem que morou em Portugal, que viajou pelas principais capitais da Europa, frequentou a alta sociedade portuguesa, formado em direito e bem apessoado, o que ele vira naquela quase menina.
       
        Realmente Epaminondas estava no auge da juventude, com um metro e setenta de altura, esbelto, olhos cor de esmeralda, cabelos negros e cacheados era um rapaz bonito, tinha o dom da palavra e grande galanteador. Quando Amélia aparecia seus olhinhos brilhavam, queria muito aquela pequena.

        Logo que o rapaz chegou em sua casa Amélia percebeu os olhares do moço para ela e não se fazia de rogada, retribuía o olhar da mesma maneira.

        Depois de poucos dias a lábia do moço logo fez a menina tremer da cabeça aos pés que sonhava todas as noites com um beijo roubado, dado no jardim da casa quando uma tarde saíram para passear sem a presença dos irmãos.

        E assim os dias vão passando.

        Com a fama de terem voltada da Europa, todas as famílias cariocas convidam os primos para os grandes bailes e concertos da cidade, querem apresentar suas filhas aos rapazes, sabidamente ricos e em idade para casar, deixando Amélia louca de ciúmes espreitando a hora que Epaminondas chegasse e furtivamente fosse até sua janela onde os pombinhos se beijavam apaixonadamente.

        Foi num desses bailes que aconteceu o encontro da antiga paixão de Epaminondas, Emília, filha de nobres portugueses, moça baixinha, tez branquíssima, emoldurada com lisos cabelos negros, nem feia, nem bonita mas, de um sorriso cativante e com um traquejo social que colocava todas as cariocas sem fala.

        Antonio querendo agradar o primo convida a moça para um final de semana na sua fazenda. Nunca iria imaginar o alvoroço que causaria com o convite. Mãe e filha ficam ensandecidas com os preparativos da casa e principalmente com as roupas que usarão. Quero saber tudo sobre essa moça, dizia a menina. Quero estar linda, mamãe!

        No dia marcado, chega a família Albuquerque e Silva deixando todos encantados pela simpatia. Quando Amélia percebe que a moça nem bonita é, acalma-se. Logo finge gostar da moça. As duas conversam amistosamente.

        No jantar da noite anterior a partida dos convidados, Epaminondas senta entre as duas moças e não consegue disfarçar o mal estar. Emília roça na sua perna, faz cochichos no ouvidos do rapaz  e dá risinhos, faz de tudo para atiçar-lo.

        Amélia percebe, seu sangue ferve, só falta soprar fumaça pelas ventas de tanta raiva mas por fora está olímpica, se empina ainda mais na cadeira ciente da sua juventude e beleza. Ela que me aguarde!

        Assim que tem uma oportunidade Amélia pergunta ao amado se eles já se conheciam, ele responde que sim, se encontraram em alguns bailes em Portugal. Para tranquilizar a moça fala da feiura da portuguesa e trocam juras de amor.

        Depois de uma noite de sonhos agitados, ao acordar a moça decide confrontar o pai. Papai já dei o tempo que o senhor pediu para conhecer melhor o homem que quero casar. Os pais dele escreveram exigindo seu retorno. Hoje ele irá pedir minha mão em casamento, por favor, não faça nenhuma objeção.

        Pela felicidade da única filha o pai não exerce sua autoridade e cede aos seus desejos.

        O grande dia chega. A porta da capela abre e ela surge linda nos seus poucos anos de vida. Seu vestido é branco com pequenas margaridas bordadas, o decote princesa deixa a mostra seu colo de onde cai um colar de pérolas minúsculas. Nos cabelos vê-se uma tiara também de pérolas e margaridas. Do alto vem o som de um coral cantando a Ave Maria, o padre abençoa o casal, decreta o até que a morte os separa, abençoa-os e o beijo do felizes para sempre é dado.

        Emília, ainda no Rio de Janeiro comparece à festa. Está estranha, parece triste. Amélia vai ao seu encontro. A moça aproveita o momento a sós com a recém casada e lhe entrega uma carta sem dar muitas explicações. Sem entender o que está acontecendo, a noiva guarda rapidamente a carta dentro da roupa quando o marido aproxima-se.

        Assim que consegue se retirar da sala corre até seu quarto e lê a missiva. Lágrimas brotam dos seus olhos. Não fosse sua criada de quarto segurá-la a tempo teria caído no chão. Vá chamar meu marido, ordena.

        Quando Epaminondas chega Amélia pede para ele fechar a porta do quarto, se joga nos seus braços, cobre o marido de beijos ardentes deixando-o enlouquecido de prazer que levanta a saia da mulher que se entrega ao prazeres do amor.

        De mãos dadas volta pra a festa com o marido.  Amélia está radiante, seus olhos caçam aquela que ousou pensar em destruir sua vida e vai em sua direção. Quando chega bem perto de Emília faz de tudo para demonstrar a feliz intimidade do casal, que sai de mansinho, lágrimas brotam e escorrem pelo seu rosto transtornado.

        Tornada mulher antes mesmo da lua de mel, a menina mais uma vez consegue o que quer.


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