Uma figura impar - Fernando Braga


Uma figura impar
Fernando Braga

Destemido, característica invejável em Sergio, que desde pequeno, não tinha medo de nada. Jogava futebol, bolinha de gude, manipulava muito bem o estilingue que ele próprio fazia, empinava papagaio e sabia brigar. Tudo o que fazia, fazia muito bem, menos estudar, que não era o seu forte.

Fui seu amigo e companheiro e nunca tive problemas com ele, felizmente! Briga de garoto e adolescente, nunca o vi perder uma. Quando percebia que a discussão ia dar em briga, posicionava-se em frente ao adversário, batia boca e de repente fingia que se abaixava e quando o outro olhava para baixo recebia um sopapo, um belo soco de atravessado na orelha esquerda, colocando-o praticamente fora de combate. Sempre que iniciava a briga, o momento inicial, lhe dava grande vantagem. Nunca correu de alguém maior, mais forte, mesmo que fossem dois.

Era honesto, leal e detestava, mesmo por brincadeira, que o chamassem de mentiroso. Sui generis, o Sergio.

O tempo passou, ficou adulto, casou-se, teve dois filhos. E, pelo que se pode deduzir, sempre guardou as mesmas características.

Há uns 5 anos, ele estava na sala vendo televisão quando subitamente se viu frente a dois bandidos armados, que haviam penetrado em sua casa, pulando o muro do vizinho. Após o susto inicial procurou se acalmar, conscientizar, sem qualquer estardalhaço, dizendo que podiam roubar o que quisessem, e que não perturbassem sua mulher que havia subido para dormir com seus filhos. Levou uma coronhada e o aviso para que ficasse quietinho, ou levaria bala. Pediram a chave de seu carro, como abrir o portão e um deles começou a colocar em seu interior computador, televisão, rádio, litros de uísque, enquanto o outro ficava apontando a arma para o corpo de Sergio. Sua esposa acordou e na escada perguntou que barulho era aquele, sendo imediatamente surpreendida pelos ladrões. Pediram então dinheiro e joias.

Sergio disse ter 50 mil dólares guardados em três latas, escondidas que no forro da casa. Para pegar o dinheiro, tinham que pegar uma escada e subir pelo alçapão, situado em um dos banheiros. Fariam isto juntos, mas a condição era que trancassem sua esposa e filhos no outro banheiro, para que ficassem seguros. Com a grande quantia mencionada os ladrões concordaram, prenderam todos, e advertiram que se gritassem, o pai seria alvejado.

Após colocar a escada, um dos bandidos subiu primeiro ao forro, enquanto o outro, ficou apontando a arma para Sergio, que iniciou sua escalada. Subiu, portando uma lanterna, para localizar as latas.  O bandido de cima aguardou, enquanto Sergio procurava as latas que estavam distantes. Teto baixo, sujo, com pedaços de tijolos, telhas, fios elétricos, engatinhando,   localizou a primeira lata e a trouxe, entregando-a ao bandido. Abrindo a lata, a grande quantidade de dólares. Em seguida foi ao encalço da segunda. Localizou-a e novamente trouxe ao bandido, que colocou-a ao lado, muito satisfeito. Foi procurar a terceira, a arma apontada para ele. Exclamou que tinha encontrada a terceira, e o bandido já sentia o sucesso da operação. Debaixo de uma telha, estava um taurus 38, carregado, que Sergio havia, cuidadosamente escondido, para um caso de emergência com este.  Aproximando-se do bandido, para lhe entregar a lata  focou a lanterna nos  olhos dele e disparou dois tiros, o bandido tombou. Logo em seguida, começou a gritar:

— Você me matou, você me matou!

Como se tivesse sido atingido pelo bandido.

 Aproximando-se da abertura do teto, viu o outro bandido agitado, perguntando:

— O que houve? O que houve? Foi quando levou um tiro na cabeça e tombou. Desceu, liberou sua mulher e filhos, que estavam desesperados, imaginando o pior! 

A polícia foi chamada, todos os vizinhos junto ao seu portão. O caso saiu nos principais jornais e todos comentavam que ele havia se arriscado muito. Este, é o Sergio que conheci. Destemido e muito corajoso. Mudou-se logo para um apartamento.

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