Encontro
e Desencontro
José Vicente J. de Camargo
Vinha caminhando com certa
dificuldade, arrastando uma das pernas, quando sinto no ombro um tapinha:
− E aí Zé, quanto tempo,
como vai essa simpatia?
Virei, olhei, esbocei um
sorriso, e, enquanto o tipo me abraçava, remexia a memória a procura de uma
pista de onde o conhecia e, lógico, seu nome.
− Vou indo mais ou menos,
contestei. Recebi umas “espetadas” nas costas, foi bem dolorido, mas já estou
melhor. Recuperando-me aos poucos...
− Não me digas... Mas já
estás caminhando, foram muitas?
− Umas quatro ou cinco. Como
não vi, não sei ao certo.
− Foi muito dolorido?
Brincando lhe contesto:
−Com anestesia teria sido melhor né! É coisa pra
cabra macho...
− Puxa! Então você é mais
uma dessas vítimas...
− Pois é! Para certas
coisas não existe hora, pode passar com qualquer um, um descuido e pronto.
− Mas qual foi o motivo?
− O motivo foi o mais tolo
possível... Resolvi passar uns dias no campo com a Mirna, minha esposa. Estava
precisando descansar, de um pouco de ar puro, comida caseira, ler bons livros,
jogar papo fora. Certa manhã resolvi sair para um passeio com meu cachorro. Entrei
por uma trilha no bosque e, ao ouvir um barulho estranho na mata, o cachorro se
assusta e corre me puxando com força. Eu, não esperando o tranco, tropeço e
caio de quatro. Neste instante sai da mata um...
− Já sei! Um tipo mal
encarado que te quer assaltar, você reage, briga e leva umas nas costas!
− Pô! Vira essa boca pra
lá, que imaginação mais idiota! Não foi nada disso. Foi um quati que atravessou
o caminho.
− Ah! E as espetadas,
pensei.
− Pensou errado, isso sim!
Com a queda tive uma distensão do nervo ciático e estou fazendo um tratamento
de acupuntura.
E rápido completo:
− Tchau! Tenho de ir
andando, até a próxima.
Afastando-me sem esperar
resposta, concluo:
−
Que sujeito mais chato! Deve ter sido algum amigo da onça que me o apresentou. Não
vale nem o esforço pra lembrar seu nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário