LEVAR UM PAPO.
Mario Augusto Machado Pinto
Nem sempre é possível determinar de
antemão se o exercício de uma profissão exige muita ou pouca dedicação, qualidade,
constância ou esforço pra conseguir o chamado objetivo profissional. A minha não é fácil, mas eu gosto. Trabalho
leve no horário que me é mais conveniente e não me deixo pressionar por ter
feito, fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Não tenho maiores preocupações, ganho
muito bem, o circulo da minha atividade é pequeno, atinge alvos específicos.
Não me esforço muito. Por quê? Ora...
Justamente agora estou situado a
observar a chegada do meu alvo atual, o Finin, cara bem colocado: não é nenhum
pé de chinelo, é maneiroso, boa praça; na verdade, mais ou menos. Pelos canais
competentes mandou “entregar seu pedido”: queria falar comigo numa noite
qualquer. Esperava marcação do local e hora. Eu também queria, mas tive
paciência pra esperar a oportunidade e ela veio. Marquei. Por isso estou aqui as
duas de la matina.. Três mesas ao lado
está o Birí com sua companheira dondoca, Anjinho, por quem é gamadão. Gosto de
gente amiga por perto.
De beca elegante, lá vem ele com ares
de bacana, ginga de passista que é entre outras coisas. De frente parece que
não leva nem ferro nem aço. É melhor assim; a conversa fica mais leve.
- Salve gente fina.
- Salve. Se acomode. Tava
aguardando. Como veio?
- Aqui tô só.
- E a patota?
- Cerca. Nunca se sabe, né? Num quero bode.
- Comigo ocê tá seguro. A barra
tá limpa. Não tem precisão.
- Brigadinho, brigadinho, mais lá fora tão me apertando...tá de lascar.
Foi quando começou a contar que
estava nervoso com a campana que tavam fazendo.
Continuou:
- Tu sabe, fiz nome. Não sou careta. Nunca fui galinha morta nem
laranja. Ganho uma bufunfa legal com as mina dos açougue, as balzaquiana e os bambi na boca do lixo e os broto nas do
luxo e já fiz a mala pra vida. Sempre
encontrei babacas, xaropes e anastácios. Nunca mandei ninguém pro andar de
cima, pra cidade do pé junto ou pro colégio. Tô abonado e os meu e minha patota
tem seguro.
- Então que acontece?
- Acontece que outro dia um calgueta falou pra um dos meu soldado que
alguém ia abrir uma avenida com a cesariana que iam fazer na cara da Irene, a
madame chefe. Ela tá antenada, anda com um berrante e quer uma costureira só
pra ela. A barra tá pesada, suja, e a gente faiz boca de siri, mais só isso num
dianta. Na campana, um meu soldado ouviu de um dedo duro que o Brinco quer me mandar
pro dormitório junto com algum dos meu. Me avisou que não é cascata. Mandei a
turma pros mocó e tamo na escuita. Tem otras coisa pra fazê e...
- Mas espera aí: calma ó meu,
pega leve com essa turma, não fica grilado, faz de conta que tá tudo joia...
- Que joia, que nada! Não é fichinha. Tem soldado meu querendo dar no
pé. Sei patavina, mas tô grilado severo, na onda, me comendo pra não estourar a
boca do balão.
- Cara, você não pode fazer isso!
- Claro que não. Tem os número! Esse é que dá a bufunfa grossa. Como é
que vai sê?
- Sempre há solução...
- Craro, ocê tá do outro lado do balcão!
- Não se trata disso. Espalha uma
cascata legal, que o primeiro que se atrever vai pro fundão e você,
pessoalmente, vai tratar...
- Olha: não dianta. Cumpri. Ocê tá avisado e eu gradecido. Certeza que
tem cara lá fora me esperando pra me acertá. Trata do meu pessoal e tira as
argola das oreia do Brinco. Dá um trato nele. É: põe um arribito nele. Tá tudo
previsto pra ninguém ficá na pindaíba. Se cuida. Vô sumi pruns tempo. Guenta
pra mim?
Não esperou resposta. Sabia que
sim. Ficou de pé, pegou o celular e avisou que estava saindo. Pediu o carango
blindado, porta aberta e dois amigos com costureira. Sim, tava c´os berrante. E
saiu sem mais nada.
Ouvi buzina insistente, derrapar
de pneus, gritos e estouros.
Eram os treis oitão do Finin.
A viúva chegou berrando.
Alguém vestiu o camisolão?
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