O CASAMENTO DA PRIMA DORIA
Oswaldo Romano
Neusa
que é minha cunhada vai ser madrinha do casamento. Foi ela quem providenciou o
tecido para seu vestido. Os sapatos ficaram
na loja onde foram adquiridos para serem forrados com o mesmo pano, com garantia
de que no dia, sem dúvida, estariam prontos.
Chegou
o sábado do casamento.
Saiu as 18:00 do salão, rumou pra loja de calçados antes que fechasse. Quando eu e
sua irmã Iracy já estávamos prontos, apressamos Neusa, pois o horário estava
apertado. Ela ligou para o noivo seu namorado Abílio, confirmando que se
encontrariam na sacristia.
—
Vamos, vamos Neusa. Só a noiva tem o direito de se atrasar. - Disse sua irmã.
—
Estou bonita, cunhado?
—
Muito, eu disse. Muito, mas ainda está descalça!
— Sim, fiquei de
propósito, para não me cansar antes da cerimônia. Num instante vou calçá-los e
desço já, já.
Eu e Iracy
estávamos apreensivos andando pela sala.
Correndo, Neusa
subiu a escadaria toda feliz protegendo o vestido, e com euforia, confusa,
soltava sons da marcha nupcial. Puro clima de festa, alegre, extrovertida.
— E, desça logo! -
pediu Iracy.
Apressada,
sentou-se na cama, rasgou o papel que embrulhava a caixa dos sapatos. A tampa
da caixa saiu junto. Deu um grito de horror!
— Iracyyy! Carlosss!
— Desesperada repetia o chamado seguidamente, chorando.
Nós pulamos e nos
batendo nos degraus, com vários empurrões, subimos em socorro da irmã.
Estava jogada na
cama, chorava, batia as pernas, tomada de desespero compulsivo, de ódio,
soltava palavrões a esmo, coisa rara nela. Pensei que ia ter uma crise, um enfarte.
Eu e Neusa,
afoitos, zonzos, olhamos o que ela, apontava na caixa. Sua mão tremia.
Olhamos, um susto! Eram
uns sapatos de homem!
— Iiiiiii. Deram
para você o pacote errado! disse sua irmã, e completou:
— Idiotas, idiotas,
e agora?
— Vamos tentar
resolver isso. Ligo já pra loja, tem o número no papel do embrulho, fiquem
calmas. Calmas porque, tem muito pela noite.
Trilim,
tirilim, tirilim
— Ai que bom,
atenderam, eu disse.
— Atenderam? Ai que
bom. — Alegrou-se Iracy.
Acionei viva voz. Uma fala macia anunciava:
— Obrigado pelo telefonema. Nossa loja
tem seu expediente de segunda a sexta, das 9 às 21 horas. Aos sábados das 9 às
19 horas. Aguardamos sua visita na próxima segunda-feira.
— Merda! - eu soltei, enquanto ouvia o resto:
Desejamos um feliz fim de semana. Esta loja agradece seu chamado.
Mudos. Ficamos mudos...
Já
não havia mais tempo, Neusa calçou os
sapatos que tinha de melhor, soltando fumaça, claro!
Quando
chegamos à igreja, os padrinhos já se posicionavam no altar. O Abílio, tenso
perguntou:
— Você sempre se atrasa?
Ela só olhou para ele com dois olhos apimentados,
iguais aos de Drácula.
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