O MISTÉRIO DA PUREZA!
Carlos Cedano
O
ambiente era de expectativa e mistério! Haveria um dia dedicado a um tema
importantíssimo de nossa religião: a Pureza. Todas as salas ouviriam a palavra do
padre salesiano “sobre o significado da
Pureza, essa bela virtude, na vida de nossos jovens”, no dizer do diretor
da escola.
Dois
dias antes havia um clima de ansiedade e curiosidade entre os jovens. Os comentários
se multiplicavam, mas nem sempre aceitos, alguns não passavam de chutes ou de um
“eu acho que.....” Em outros casos, como
o do Chayo, as indagações tinham sido feitas em casa:
— Perguntei pra minha mãe e me
respondeu que se tratava de um assunto muito importante para evitar pecados! Dos
tenebrosos!
— Só isso? Retrucou um colega.
— Sim! Mas quando lhe pedi para ser
mais clara ela me respondeu que o padre é
quem poderia explicar melhor - concluiu Chayo parafraseando sua mãe.
—Então! Vamos ter que esperar os
dois dias. - disse outro colega com voz
chorosa, tal seu desespero!
A
expectativa continuava aumentando junto com a ansiedade, até que um aluno “corajoso”,
não se conteve e em alta voz disse:
— Então, que p....... é essa tal
da Pureza?
Todos
os meninos olharam pra ele com um profundo olhar de reprovação. Como! Você não
sabe? Parecia ser a pergunta que ninguém sabia responder, mas que todos fingiam
saber! Precisamos ter paciência! Disse outro jovem, com voz forte e ar de
superioridade de quem com certeza, sabia a resposta!
O
dia chegou! Os alunos esperavam com ar contrito e em absoluto silêncio. Um
padre de rosto sisudo entrou e começo logo sua fala que foi um amontoado de
frases apocalípticas e ambíguas. Frases como as seguintes permeavam sua fala:
— Quem atentar contra a Pureza queimará no fogo eterno do inferno! A
Pureza deve ser preservada como uma flor, se ela murchar será a condenação eterna! Será muito difícil obter o perdão de Deus!
Vocês terão que fazer enormes sacrifícios para obtê-lo!
Quando
acabaram as palestras os jovens se reuniram no pátio num silencio cuidadoso e
cheio de suspeitas, à procura dos “condenados”. Aos poucos vieram as perguntas:
Você entendeu a fala do padre? A resposta maioritária foi sim! Outros diziam
que tinha sido uma palestra muito clara! Ninguém ousou discordar!
Subitamente
passou correndo Pedro, o aluno metido a galã, tendo Marcelo no seu encalço com
o rosto cheio de raiva.
Que
será que aconteceu perguntaram, enquanto ao longe se ouvia-se Pedro gritar: Desculpa,
desculpa! Não sabia que era um pecado que ofende a Deus!
—Eu sei. - disse Chayo - Estávamos num grupo pedindo a Marcelo
que nos dissesse, em bom português, o que significava a Pureza. Ele nos
respondeu curto e grosso: A Pureza é a virtude
que se perde no momento que se comete um pecado muito grave! Que ofende a Deus!
Aí
vieram as perguntas:
— Roubar um pirulito o um doce
nos faz perder a Pureza? Desobedecer nossos pais, chutar um colega, xingar
alguém? A todas essas perguntas Marcelo respondeu com um sonoro não! Precisa
ser algo muito, muito grave!
Foi
a vez de Pedro perguntar:
— Beijar ou morder o pescoço da
namorada é pecado que ofende Deus?
— Como? Você fez isso com minha irmã de
onze anos seu desgraçado? E avançou sobre Pedro que botou sebo nas canelas.
Eis
aí - disse Chayo, com sorriso malicioso:
Pedro agora entendeu que a Pureza é algo que perdemos no momento que a
desvendamos!
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