Portunhol - José Vicente J. de Camargo



Portunhol      
José Vicente J. de Camargo                        

Aluguei uma casa para esperar minha noiva argentina que vinha a São Paulo para o casório.

 O proprietário me ofereceu para comprar o mobiliário do quarto de dormir. Como o achei de bom gosto e em boas condições, o adquiri.

Dias depois, ao mostrar o novo lar à pretendente, me indago ao entrar no dormitório:

− Estão faltando os dois criados-mudos...

Mostrando surpresa, ela me pergunta:

− Para que queremos dois criados-mudos? Como eles são?

− Baixinhos e negros combinando com a mobília – completo.

−Nem pense em reclamar com o proprietário, não preciso de criados mudos! – Retruca.

− Mas no Brasil se usa. Novo país, novos costumes... - Respondo

− Esses brasileiros pensam que ainda vivem no tempo colonial, dos escravos e mudos, deve ser para não comentarem as intimidades do casal... ranzinza ela.

− Mas o que você está falando?  - Indago  curioso. Servem para apoiar rádio, relógio, livros e até a dentadura no copo d’água...

− Ah! Você quer dizer “mesitas de luz”? - sorri ela

− Lógico! O que você estava pensando...

− Me imaginava dois nanicos pretinhos e mudos com turbante na cabeça nos abanando...

Gargalhando lhe abraço:


− Deixa pra lá! Vamos ter muito portunhol pela frente... O melhor agora é experimentarmos o colchão...

Nenhum comentário:

Postar um comentário