Podofilia - Fernando Braga



Podofilia
Fernando Braga

Podos=pés; filos=amigo de

Simpático, elegante, boa pinta e amava as mulheres. Douglas era conhecido por todos como conquistador e podófilo inveterado. Gostava das mulheres bonitas e das feias também, mas precisavam ter pés bonitos, com dedos proporcionados e de preferência, com as unhas curtas e pintadas de vermelho. Quando conhecia uma mulher, olhava imediatamente para baixo para ver seus pés, o que todos notavam e comentavam, porque ficavam de olho nele. Se fossem bonitos, ele logo dava em cima. Quando a sandália, sapato eram fechados, conseguia visualizar os pés como seriam, dada a grande prática que adquirira. Dizia ter uma máquina fotográfica dentro de seu cérebro, que imediatamente usava quando via um pé feminino, sendo que desta maneira, conseguia se lembrar dos pés de todas as mulheres que conhecera na escola, na praia, no clube, em festas, das amigas e amigas de suas amigas e, principalmente quando bonitos. É evidente que após os pés, reparava em todo o restante. Uma prima, que tinha, segundo ele, pés grandes e mais feios que tinha visto, com dedão enorme que se sobressaia dos outros, muito pequenos proporcionalmente, dava-lhe a ideia, de um dia fazer uma mala com seu sapato. Era muito brincalhão, gozador e não havia quem não gostasse dele. Como era bem conhecido por esta característica, aquelas com pés feios, se aproximavam dele com sapatos fechados e aquelas que tinham os pés bonitos, pediam-lhe que desse uma nota. Assim acostumou-se a dar notas para os pés femininos, com meio ponto a mais, quando as unhas estavam pintadas de vermelho. Recusava-se a dar nota para os pés de primas e parentes próximas, para não se expor. Dificilmente dava nota alta e apenas uma vez chegou à nota dez, para uma secretaria que namorava um amigo seu. Se o cara brigasse com ela, ele, com certeza, cairia em cima, mas era muito respeitador e repisava que:- mulher de amigo meu, é homem!

Certa ocasião foi para a Rússia, voltando encantado com tudo o que vira em matéria de museus em São Petersburg, o metrô de Moscou, o Kremlin... Mas, o que mais gostou foi ver os pés das russas, com padrão rico de beleza, maravilhosos, bem cuidados e no verão, quase todas usando sandálias abertas e saias curtas.  Para uma delas, que conheceu em um passeio, além de considera-la a mulher mais bonita que havia visto, conferiu-lhe a segunda nota dez de sua brilhante carreira.

Com 38 anos casara-se, segundo ele com a mulher de sua vida, mas... que infelizmente não tinha os pés do jeito que desejava. Uma vez, sua mulher passeando por Copacabana vindo da praia, passando na frente de um hotel, lá estava um turista argentino na calçada, que a vendo, acompanhou-a na sua aproximação, embelezando-se com sua silhueta, mas quando se aproximou mais, olhou para seus pés de disse:

- que peña, pés feos! Seria ele também um podófilo?

Certa ocasião, ele e um amigo foram visitar um conhecido internado em um hospital e ao passarem por uma secretaria, viram uma bela moça, bem prendada, sentada. Entraram no quarto do amigo, mas Douglas estava bem inquieto. Saiu duas vezes para ir ao banheiro fora. Na volta o amigo perguntou a ele se havia reparado na beleza da moça na secretaria e ele respondeu:- vou sair com ela hoje!

- Mas como você conseguiu? Como a cantou?

- Foi simples. Entrei na sala, olhei fixamente em seus olhos e pedi que mostrasse seus pés. Surpresa, ela simplesmente tirou os sapatos. Olhei e disse:

-Gostei! É com você que quero sair hoje. E ela topou.

Aos 42 anos começou sua sina, preparada cruelmente pelo destino. Foi atingido por um tumor, dos piores, muito maligno, junto à mandíbula esquerda. Após duas cirurgias mutiladoras, fez radioterapia, quimioterapia, mas o tumor venceu. Após dois anos, morreu, deixando a bela viúva, que se casou novamente e um casal de filhos bem pequenos. Todos que o conheciam ficaram tristes, chocados e sempre se lembravam da música, que ele sempre entoava:

- Meu pé de anjo, pé de anjo!
-És tentador, és tentador!
-Tens os pés tão lindos

-Que és capaz de excitar o imperador! O imperador!

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