A SEU MODO. - Mario Augusto Machado Pinto




A SEU MODO.
Mario Augusto Machado Pinto

Há muitos anos, vejam só. Estava assim: estudante, num miserê que dava gosto! Se não era a bolsa mensal da Faculdade, ficaria sem um puto. Navegava na pindaíba. Meu pai não me dava mesada e mandava Entrega o corpo ao manifesto! Trabalhar? Onde, como, no quê? Não consiguia péga! Nem sabia datilografia! Falava bem, boas palavras, boas maneiras, bom orador, boa conversa, boa pinta e bom pé de valsa. No mais, zero à esquerda. Às vezes ficava tão grilado que entrava em parafuso.  Achava que as coisas iam melhorar: ia dar um taime.

Estou contente, alegre. Sorrio gostoso lembrando o que aconteceu há tempos sem a ajuda do se Deus quiser, falei com Malú e, no meu entender, foi ali que começou um namorico que prometia. Saíamos bastante, quer dizer, não muito. A minha grana era curta.

Ela é muito bacana, da minha altura – o que me fazia pensar em delicias para meus abraços de polvo – imaginava corpo bem feito debaixo do uniforme, via olhos vivos, ouvia fala mansa e não sei mais o quê. Sei que deu química.

Lembro quando fomos ao chá do Mappin. Pra mim foi ótimo. Tinha preço fixo, comia meu dinheiro, mas achei que valia a pena.

Ela já chegou bacana, abafando à beça. Estava tão, tão, tão que forcei meus pés nos sapatos pra não sair correndo e dar um abraço. Fiquei paradão olhando meu broto chegar, vendo as pernas dela: até hoje são magníficas, magníficas mesmo! Mais: o vestido de seda salientava – ai - o corpo! Que geografia Madona santa! Que coisa! Tenho muita sorte...ainda é um pitéu.

Olá, beijinho no rosto, mãos dadas, tá calor. Entramos e fomos para o elevador. Vazio. 2º andar: lotou e foi ótimo. Ela ficou colada ao meu corpo. Situação difícil pra controlar o documento. Ao sairmos ela disse baixinho Tá ficando acostumado, hein?

Namorados? Nada dissemos. O maitre entendeu e nos levou a uma mesa de canto, perto de um janelão. Bem, conversamos amenidades, colégio, faculdade, comemos biscoitos e tomamos chá, acompanhamos o pianista e cantarolamos algumas músicas, falamos longamente, riamos por qualquer coisa. Eu, como sempre, estava no auge, agitado, ligadão. Nem percebi quando falou algo. Repetiu: está na minha hora. Entendi.  Paguei ao garçom. Descemos, me deu um beijinho e entrou no carro que já estava à sua espera. Acenou tchau e sumiu na Barão.

Segui a pé pra pegar o ônibus, chegar em casa, jantar, telefonar e sonhar com ela.

Estamos casados, temos filhos e continuamos gamados.


Ah, esqueci-me de dizer que ela me chama de Meu pãozinho quente. Toda vez eu penso: Também, com esse forninho...


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