SURPRESAS DA VIDA! - Carlos Cedano



SURPRESAS DA VIDA!
Carlos Cedano

Aquele dia estava exultante. Meu diretor, seu Armando, tinha me comunicado minha promoção à Gerencia Geral de Compras da companhia. Recebi muitas felicitações de meus colegas. Gerente Geral de Compras aos 26 anos, nada mal hein?

Convidei pra jantar meus amigos mais próximos. Foi uma noite feliz, com muita alegria e comida e bebidas das melhores. A conta foi salgada, muito salgada! Porem valeu a pena. No meio da euforia que me invadia chegou a mim a imagem de Madeleine; minha vizinha do oitavo andar, mulher divina sempre em meus sonhos e atendendo meus desejos mais profundos. Estava muito apaixonado por ela!

Agora, pensei com meus botões, farei saber a ela minha nova promoção, tal vez assim deixe de ser tão indiferente. Indiferente? Não!  Pior que isso! Distante e de rosto impenetrável, pra ela eu parecia não existir! Nunca um bom dia e ainda menos um sorriso. Mas ela vai saber.

Aos poucos os amigos foram embora. Fui dormir e a champanhe fez seu trabalho, cai no sono imediatamente; as lembranças e os acontecimentos vividos tinham sido emoções demais para um dia só!

No dia seguinte arquitetei um plano para fazer chegar a Madeleine a revista da empresa com informações de minha promoção. Convenci o zelador para coloca-la debaixo de sua porta e ganharia uma bela gorjeta.

Voltei a cruzar com Madeleine algumas vezes e sempre a mesma indiferença, nenhuma reação no seu rosto! Alguns dias depois sem vê-la e impaciente, fui ter com o zelador, quando me viu, veio correndo até mim e me disse:

— Doutor Paulo, doutor Paulo! Procurei o senhor como um louco!

— Que foi cara! Perguntei ansioso.

— O senhor não sabe? Dona Madeleine não mora mais aqui! Mudou-se de repente sem avisar nada, ontem os caminhões da mudança levaram tudo.

— Deixou o novo endereço? Perguntei angustiado.

—Não senhor, foi a resposta do zelador, perguntei a várias pessoas no prédio e ninguém sabia de nada.

Por minha conta também pesquisei: companhias de mudanças, vizinhos ao prédio e até contratei um investigador e nada. Ela tinha se esfumado. Tive que tomar remédios e fazer esforços gigantescos para evitar cair em profunda depressão. Foi nessas circunstancias que decidi mergulhar intensamente no trabalho e esquecê-la. Decisão difícil e dolorida, mas que lentamente foi funcionando.

Alguns anos depois fui promovido a Diretor Geral, foi na minha gestão que a empresa atingiu seu auge. Foi também nessa fase, que num lampejo de memória, relembrei de Madeleine, mas sem tristeza nem raiva, sorri e achei que tinha superado esse episodio.

Num sábado, ensolarado e descontraído, passeava no shopping e entrei no salão de chá que sempre frequentava. Sentei num canto e quando levantei os olhos, para achar algum conhecido, uma imagem atraiu minha atenção. Sim! Era Madeleine. Levantei-me, me aproximei de sua mesa, puxei uma cadeira, respirei fundo e disse: Madeleine, que bela surpresa reencontra-la, quanto tempo! Você desapareceu de repente e nunca tive noticias suas.

Ela sorriu e disse: eu sempre soube de você, acompanhei sua trajetória profissional. Ela deve ter visto minha cara de espanto e emendou: fui amante de Armando, teu falecido chefe. Como continuava com cara de não compreender a situação prosseguiu: homens como ele, precisam ter alguém que os ouça, escutem suas confidencias e sobre tudo que lhes brindem ternura. E para isso, nada melhor que o leito de uma amante, o repouso ideal do guerreiro!

Você aparecia nas suas confidencias, era o filho que sempre sonhou ter e como nos morávamos no mesmo edifício, achei prudente mudar de endereço. Corria o perigo de uma situação incontrolável, você era um rapaz impetuoso que ainda não tinha alcançado o equilíbrio entre a paixão e amor! Não me entenda mal disse Madeleine, eu amava Armando e era feliz na nossa relação. Gostava de você, mas nesse momento Armando era o homem de minha vida!

E agora? Perguntei. Agora estou livre para continuar amando respondeu ela. Estava aturdido porem feliz, aquele sentimento que tive por ela não estava apagado, simplesmente guardado e parecia voltar com força avassaladora! Vou te ligar disse ela, este encontro não foi por acaso! Fui embora como hipnotizado e sorridente!


Um ano depois recebi uma ligação no escritório. É sua esposa! Disse a secretária. Halo meu amor respondi. Paulo? Estou saindo do consultório da doutora Maria, você vai ser pai! Vem cedo pra casa meu amor. Estou saindo já Madeleine! Respondi eufórico.

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