PASSOU DA CONTA - Crônica de Oswaldo Romano


PASSOU DA CONTA
Oswaldo Romano       
Crônica


                                                              
        Eu já estou aguentando, no limite.

        O quadrado tomou conta até do vigário. Fica entre a Bíblia e seu sermão do dia. Só falta descer do Altar Mor,  seguir com ele pelo corredor da Igreja, e pedir que os demais o acompanhem, ligando os seus. Exagero? — Espere pra ver. Qual o mal? — Nenhum.

        Nas ruas, nas praças, nas escolas, nos ônibus, nos shoppings, enfim em qualquer espaço, lá está ele.

        A cozinheira trabalha com o pescoço torto, modo de segurá-lo. Entrei na sala de um restaurante, duas mesas eram tomadas por crianças, pouco acima dos 12 anos. Detestava aquele barulho desordenado que antes faziam. Logo procurava outra mesa.  Mas ali foi diferente. Para minha surpresa imperava um silêncio de velório.

        Eram sete. Todos cabeças baixas, nos colos, os quadrados. Antes, esses meninos, na total algazarra combinavam qual seria a próxima maldade. Um barulho lindo dos crescidinhos, mas irritante.

        Já estou com dúvidas. Não sei o que mais prefiro. Quando não estão tutoriando, parecem estátuas com seus fones pendurados nos ouvidos. Alguns se arriscam gingar o corpo. Aos olhos de quem os vê parecerem malucos ou perobos.

        Tenho feito muitas viagens de carro. Antes recomendava muito o silêncio e ordem das crianças no banco traseiro. Não precisa mais, ficam pregados, assim como as jovens mães, mudos.

        Numa das viagens, atendo uma chamada do blootooth no carro. Veja o que aconteceu:

Atendi - Alôooooo

        — Wado - Era minha nora— O Fábio (Fábio é seu marido) disse para você não esquecer de... brrr brrr rbrrr burrirrr, piauuuuu, toque, toque, toque. Sempre acontece! Faltou o resto do que ela dizia. Caiu a ligação.

        Fiquei preocupado do que fazer. Falava não esquecer. Esquecer o quê? Pensando, continuei dirigindo.

        Eis senão quando, sinto do banco de traz bater no meu ombro. Eu atento na direção pergunto: — Oi, o que é?

        — Sou eu, a Cris, disse alto, Caiu a ligação né!! Vou ligar de novo!


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