SITE
DE ENCONTROS
Jeremias
Moreira
A
porta do elevador fechava quando o Julio ouviu o apelo insistente do Xavier que
vinda apressado pelo corredor:
—
Desce! Desce!
Julio
estendeu o braço e impediu que a porta fechasse. Quando chegou, o Xavier estava
ofegante. Muito mais por seu estado de excitação do que pela corrida que dera.
Ambos são médicos e têm consultórios no mesmo andar daquele edifício. Estavam sós
no elevador e o Xavier pôs-se a contar a história. Havia um mês se inscrevera
num site de encontros. Ele é casado, mas sentia falta de uma transa diferente,
mais sacana. Fizera contatos com diversas mulheres, que não levaram a nada, até
que conheceu a Jussara, uma mulher casada, de Campinas. Trocaram diversas
mensagens e por fim fotos. Aprovaram-se mutuamente e a oportunidade de um
encontro surgiu nessa tarde. Ela estaria livre e marcaram no restaurante Frango
Assado da rodovia Anhanguera. De lá iriam a um motel que ela conhecia.
—
Cara, a mulher é uma nave espacial. Totalmente liberada. Você tem que ver as
sacanagens que ela escreve. Ela é viciada em sexo.
Xavier
estava eufórico. Cancelara todas as consultas da tarde para ir a esse
encontro. O maior galinha, lembro-me do
Xavier do tempo de faculdade, que fazia loucuras para sair com uma garota.
Dias
depois Julio encontrou Xavier e assustou-se com o estado do colega. Ele estava com um braço numa tipoia e um
hematoma no olho esquerdo. Impressionado perguntou que acontecera. Xavier o
puxou de lado contou:
—
Cara, que ótimo falar com você. Até que enfim vou poder me desabafar com
alguém.
Ele
fora ao tal encontro com a mulher de Campinas. No motel, alugaram uma suíte com
hidromassagem. Assim que entraram a Jussara tirou a roupa, foi para a banheira
e dengosa, chamou por ele. Xavier sentiu-se um touro. Livrou-se das roupas e se
atirou na hidro. Nesse momento a porta da suíte foi arrombada e surgiram dois
sujeitos armados. Histérica, a mulher abriu um berreiro. Um dos homens deu-lhe
um tremendo tapa. Xavier, interviu e levou uma coronhada no braço e outra no
rosto. Advertiram que os matariam se não se acalmassem. Assim começou a virada
na tarde maravilhosa que Xavier projetara. Os homens queriam dinheiro e
ameaçaram deixá-los na rua, assim como estavam, pelados. Jussara entrou em
desespero. Seu marido a mataria, implorava chorando. Xavier precisava evitar
que fossem expostos. Ele tinha quatro cartões de crédito e poderia sacar mil
reais de cada. Negociaram, um dos homens
ficaria com a mulher, como refém, enquanto o outro iria com Xavier sacar o
dinheiro e fazer compras com os cartões. Qualquer tentativa de fuga ou de
alertar a polícia, matariam a mulher. Foram para Campinas e Xavier executou
direitinho o que lhe era ordenado. Algumas horas depois, o bandido o deixou
numa das ruas da cidade e levou seu carro. Ele sentiu-se literalmente perdido.
Não podia ir à polícia e contar a história verdadeira. Estava preocupado com a
mulher, mas acreditou no melhor, que a soltariam, agora que conseguiram o
dinheiro. Hesitante, rumou para uma delegacia. Mentiu, disse que fora
sequestrado em São Paulo. A mesma história contou para sua esposa. Da Jussara,
não tivera mais notícias. Sua conta no site de encontros fora cancelada e
Xavier estava muito preocupado por ela.
De repente, ele interrompeu seu relato. Elucubrou por um tempo e pela
primeira vez conseguiu ver o incidente por outro ângulo. O de que Jussara
fizesse parte da quadrilha. Nesse caso teria sido vítima de um golpe. E,
certamente, um trouxa. Seria demais para seu orgulho. Preferiu não pensar nessa
possibilidade.
—
É Julio, vivemos num mundo violento. - Concluiu.
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