A FILA ANDA - Ledice Pereira


A FILA ANDA
Ledice Pereira

Maurício voltava à cidade São João da Boa Vista de onde aos vinte anos para a Faculdade de Arquitetura, em Campinas, indo morar em uma república com cinco amigos.

Nunca mais voltou até porque seus pais também acabaram se mudando de lá.

Formado há dez anos  se estabeleceu em São Paulo, onde conseguiu emprego numa Empresa de Engenharia e Arquitetura e, por ser muito talentoso e competente, acabou sendo convidado a integrar a sociedade.  

Trabalhava e viajava tanto que atribuía a isso sua dificuldade em manter relacionamentos amorosos. Tinha terminado o último há alguns dias e estava aliviado.

Naquele dia estava nostálgico. Fazia quinze anos que partiu de São João. Bateu uma vontade de rever os amigos, Laura, a antiga namorada que deixara para trás e de quem nunca esqueceu,  alguns primos, a escola onde estudou.

Aproveitou uma folga de sexta-feira, perfeita pra emendar com o fim de semana, e partiu logo cedo.

Maurício nem sentiu a distância, tantas eram as lembranças que lhe vieram à mente.

Logo percebeu que a cidade estava mudada, havia crescido. Tinha até trânsito. Dirigiu-se à casa dos primos e soube de todas as novidades. Fulano se casara, Sicrano se formara Advogado, Beltrano se divorciara.

— E Laura? - perguntou ao primo Gerson.

Houve certo mal estar. Os primos se entreolharam. E não tiveram tempo de responder. A porta se abriu e ela entrou. Acompanhada de duas crianças de uns três e cinco anos, e estava grávida.

Tinha se casado com seu primo Renato, que vinha logo atrás.

Ele sentiu vontade de não estar ali.

“o que é  que eu estou fazendo aqui idiota que eu sou achava que ela estaria me esperando por todos esses anos que ela linda como era teria ficado solteira esperando este asno que aqui está e olha como ela está feliz com seus filhos e o babaca do Renato com essa cara de apaixonado ele que era um boboca gordinho que ninguém olhava pra ele e eu tenho que fazer esta cara de pastel e agora o que faço eu já falei que vou ficar o fim de semana e quero sair daqui o mais depressa possível e o pior é que ela nem parece ter me reconhecido de imediato ficou me olhando e quando eles disseram quem eu era nem demonstrou nenhuma emoção ela que dizia que não viveria sem mim tenho vontade de gritar de dizer a ela que ainda a amo mas por que eu não pensei mais em mim em nós só pensava em trabalhar queria ficar numa posição financeira boa pra poder pedi-la em casamento”...

E Maurício, diante da decepção sofrida, fingiu ter recebido uma ligação importante que o obrigava a retornar a São Paulo imediatamente.  


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