O ASSASSINATO DO SENHOR FONSECA (parte III) - Oswaldo Romano



O ASSASSINATO DO SENHOR FONSECA
(parte III)

Oswaldo Romano 
                                                                               
            — A investigação vai indo muito bem, Poá. Todavia está mascarada.

            — Claro doutor. Tirando da frente a máscara que esconde o que queremos, fica tudo resolvido.

            — Vamos montar campana noturna por uma semana.

 (Um novo silêncio) Poá teve vontade súbita de explodir, mas se conteve. Tomou como uma revanche do delegado pela nova decisão.

            — Você sabe Poá. Sempre o assassino volta ao local do crime. Desconfia ter deixado algum rastro. Como você não comparece lá há semanas, veja com dona Thereza o dia certo para começar.

            — Óh, óh,óh Jurandir. Desculpe, Dr. Jurandir.

            — O senhor disse que é conterrâneo da família. Acho justo que o senhor dê um trato melhor na investigação. Mas... Não é exagero? A noite...

            — Poá, o que conseguimos até agora? Nada! Nada!

            — Puxa doutor... A otoridade agora pegou pesado!

            — Pura realidade, concorda?

            — Ok,ok,ok. Se é assim e o Dr. quer, vamos lá.

O detetive comunicou a nova medida apenas a viúva  Thereza,  pedindo sigilo absoluto.  Iria chegar depois que todos se recolhessem. Informou já ter a chave do portão principal.

Na noite, dando início a investigação, vestiu seu grosso capote, botas, colete a prova de balas, e o conhecido boné de lã que cobre as orelhas.

Passaram-se quatro noites no maior silêncio. Na quinta, Poá, contornando a biblioteca, subiu numa pequena mangueira e alcançou seu telhado. Deu uma olhada nas telhas. Era madrugada. Concluiu que estavam em ordem. Ressoava em seus ouvidos as palavras do delegado:

Poá! O que conseguimos até agora? Nada! Nada.

 Por volta das três horas, corujas que vinham apenas se comunicando com seus horripilantes pios, considerados mau agouro, moveram-se desesperadas. Espantaram as demais aves e os marrecos se puseram a gritar.

— Finalmente! Um fato novo. Acho que invadiram a chácara pela cerca lateral. Essa agitação das aves, não me engana...

Poá ficou rígido: “É agora! Melhor me posicionar. Por sorte não poderia estar num lugar melhor”.

Tião que ocupava um quartinho tipo edícula, acordou. Abriu cuidadosamente a porta. Conhecia como ninguém aquele terreno. E,  saiu portando uma lanterna apagada.

Poá encolheu-se sobre as telhas, pondo em atenção todos os seus sentidos. Descobriu as orelhas. Sacou a arma. Olhava para o vulto  do Tião e para a direção da cerca.

A lanterna do Tião lambia com rápidos fachos aquela direção, alcançando por vezes também onde Poá estava escondido. Quando ela vinha, Poá abaixava a cabeça escondendo a cara.

Tião passando no meio das touceiras da cana, usadas para a garapa, acendia com breves intervalos sua lanterna. A luz era vista ora aqui, ora lá. Poá ficava louco, queria ajudar, atirar, mas qual era a lanterna do invasor?

Ninguém apareceu. Lanterna acesa, o Tião voltou para a edícula.

Poá ao descer do telhado, passando frente a famigerada porta, olhando-a, não deixou de blasfemar:

— Maldita porta. Fala, fala maldita. O que foi que aconteceu? Ninguém vai escutar. Juro que vou... Não, não juro nada. Quero que você se lasque. Bem... Lascada você já está. Sabe o que é arrombada, sua, sua prostituta.

Quando amanheceu Poá já estava em casa.

Imaginando uma série de possíveis acontecimentos Poá ligou para dona Thereza.
O pirobo atendeu, a voz tremia:

— Um momentinho por favor.

 Percebeu-se que o pirobo se apavorou.

— Bom dia Poá.

— Bom dia dona Thereza. Vou pedir ao doutor Jurandir suspender a campana. Sinto que não vamos colher resultado. Ainda, esta noite (e contou o acontecido).

— Poá, havia pensado a mesma coisa, e justo esta noite lembrei que o Tião tem um revólver que é do Fonseca e não lhe avisei. Esquecimento meu.

— Caramba! Dona Thereza! Fui seguro por Deus! Poderia ter acontecido outra desgraça!

Na delegacia.

— Dr. Jurandir. Perdemos esse round. Mas, quero continuar no caso. Amanhã estarei lá de novo. Porém de dia, combinado?

                       — Ok. Vou ligar para a Thereza.

            — Tudo bem, mas já falei com ela. Ela concordou.

Poá usando nova estratégia, portou-se na chácara como uma visita de férias. Perambulava pelo jardim, tinha conversas curtas com os empregados e quase sempre voltava a se acomodar no banco da churrasqueira. Seu pensamento navegava pelo mundo.

            Enfastiado, lembrou que era sábado. Levantou-se e foi até o campinho. Jogadores chegavam, ele ali era um desconhecido. Tão logo o Walter assinou a presença, Poá que sabia ser o assassino da mulher, o convidou para uma conversa a sós, e o levou até o carro. Tião que estava no gramado, foi dizendo aos companheiros:
— Aquele homem está investigando a morte do patrão

— Mas, o Walter é um coitado, adiantou-se um. Vamos lá.

— Não, não é conveniente, alertou Tião. Poá é o nome dele. É gente boa, deixa se entenderem.

No carro.

—Já vi seu prontuário no sistema. Tenho pouco tempo para encerrar a investigação sobre a morte do Sr. Fonseca.

 — Sim, mas não tenho nada com isso! Meu caso...

— Olha, olha lá, seus companheiros estão vindo. Vamos sair daqui.

Poá ligou o carro, e arrancou. Com o carro em movimento, mostrou uma série de acidentes que poderiam acontecer com ele. Por pouco não o convenceu a assumir a morte do Fonseca, pressentindo ter sido ele. Sentiu insegurança do acusado.

O caso está difícil, tinha que apertar alguém.

Rodando, acabou estacionando na delegacia.

— Desça Walter, desça. É muito perigoso ficar no carro. O bandido vê carro de policial, não pergunta duas vezes, mete balas.

Entraram na delegacia. Poá foi diretamente para a sala do Dr.Jurandir. Entregou Walter que ficaria sob a metralha do delegado, este deveras surpreendido.


(próximo capítulo, em breve)

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