PARA
CIMA E PARA BAIXO
Oswaldo U. Lopes
Curioso, o caminho para cima que não é fácil, em geral é pouco lembrado. O
sucesso como que esconde as dificuldades morro acima.
Era o que pensava Henrique Junqueira, empresário vitorioso,
jovem engenheiro, formado no ITA, especializado em desenvolver e produzir
produtos de alta tecnologia.
Curioso porque o caminho para baixo que sua empresa agora
trilhava, não tinha nada escondido. O sucesso da entrada no mercado de ações na
Bolsa, uma vitoriosa IPO (Initial Public Offering na sigla em inglês, como
falavam os entendidos, ou abertura de capital em tupiniquim = Oferta Publica
Inicial) que custara caro, mas trouxera para a empresa o tão necessário capital
para alavancar seus projetos, rolara morro abaixo, as ações da empresa em
matéria de desvalorização só perdiam para o BTG-Pactual.
O cenário era claro, havia um processo de espionagem interna
que levava para os concorrentes o desenvolvimento de seus projetos sem os
custos que esse desenvolvimento tinha na sua empresa.
Resultando produtos similares a preços mais baixos, vendas
em baixa e máquinas paradas. Conversara com colegas e amigos, a sugestão de
proteção através de patentes não tinha sentido no seu negócio que era todo
baseado em software.
Era isso que ele pensava enquanto aguardava o tal japonês da
estadual. Recomendadíssimo o investigador Sergio Hiroito devia chegar logo. O
nó era que o Hiroito era investigador da policia civil especializado em crimes
do tipo homicídios, latrocínios e congêneres. Bem, mas aqui havia um crime, alguém
estava vendendo coisas de sua empresa, traindo a ele e os colegas cujo emprego,
renda e vida familiar dependiam da capacidade do negocio prosperar e não da
capacidade de murchar como agora.
Sergio Hiroito chegou, alto para o padrão japonês, magro e calado.
Pediu o organograma da empresa, fez algumas perguntas, checou a cadeia de
conhecimento e se deteve em quatro nomes, engenheiros também do ITA e todos
colegas contemporâneos ou mais novos do que Henrique. Eram o Claudio, o Flavio,
o Mauricio e o Joaquim.
Hiroito nem pensou em vê-los, pediu apenas a chave dos caros
deles e desceu para o estacionamento.
Na volta foi direto ao ponto:
— Engenheiro Mauricio o que o senhor esta fazendo é crime,
não vai ser difícil obter um mandato judicial e abrir seus segredo fiscal,
bancário e telefônico. Garanto que vai ser mais fácil do que o do Lula.
Rapidamente se armou uma pequena confusão e o engenheiro
Mauricio abriu o bico e foi oficializada uma negociação com demissão por justa
causa, como Henrique preferia. Não adiantava persegui-lo muito, era melhor
vê-lo pelas costas, embora vê-lo morto não fosse também uma má ideia.
Restava a pergunta de um milhão de dólares:
— Senhor Hiroito, como a simples inspeção dos carros levou-o
a resolver o caso?
— Bem, veja, sua empresa esta nessa crise já faz quase dois
anos e dos quatro que há um bom tempo não ganham bônus, só o Mauricio tinha um
carro do ano e um Honda HRV o carro mais desejado do momento.
Dentro do carro dos outros três aquele cheiro enjoativo de
fraldas e mamadeiras, lenços de papel e panos espalhados por todo lado e dentro
do porta-luvas, além de chupetas e potes de alimentação de nenês.
O do Mauricio não, limpíssimo e ainda tinha um perfume
profundo e forte característico de mulher, digamos de programa. Ele estava
vivendo muito acima do que seria normal. Em suma, tinha se vendido para a concorrência.
É o tal japonês da estadual era precioso, ou algo parecido,
mas não publicável, pensou Henrique feliz e pronto para enfrentar de novo o
trabalho.
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