A
LENDA DA VAMPIRA PERUANA
Carlos
Cedano
Em
1993 me iniciava como jornalista de um tabloide de Lima “A VOZ DO POVO” e fui
designado para cobrir a famosa lenda da “vampira peruana” na cidade de Pisco na
costa sul do Peru. Nesse ano se completariam os oitenta anos da maldição de
Sarah Roberts uma tecelã de algodão nascida em East Lancashire (Inglaterra).
A
lenda que mais se conhece e se transmite oralmente nos diz que em junho de mil
novecentos e treze Sarah Roberts foi condenada à morte por oficiais de East
Lancashire depois que foi acusada de bruxaria, vampirismo e assassinato.
Segundo
se acredita, ela ainda estava viva quando foi jogada num caixão de chumbo,
amaldiçoando aqueles que determinaram seu destino, jurando se vingar em oitenta
anos. O medo teria levado as autoridades a proibir seu corpo no cemitério e
nenhum lugar queria aceitar o caixão de uma mulher que teria sido uma das três
noivas do Conde Drácula!
A
primeira coisa que fiz foi saber como ela teria chegado ao nosso país, mais
exatamente a Pisco, um pequeno e miserável povoado de pescadores e lugar de
embarque do pisco, uma eau-de- vie
peruana a base da destilação da uva Quebranta,
que era exportada para as outras
cidades do país.
Por
isso fui falar com o delegado de policia, que tinham me indicado como contato, Roberto
Angulo. Ele me recebeu com cordialidade e sentados num bar começamos a
conversar sobre a lenda da dita “vampira peruana”. Logo uma inglesa aqui em Pisco? Disse pra ele mostrando minha
enorme surpresa e curiosidade!
―
Pois é Gustavo porém existe uma explicação que não sabemos, até que ponto é
verdadeira! A lenda conta que por causa
das acusações não havia lugar nenhum na terra onde Sarah pudesse descansar já
que ninguém queria ter os restos mortais dela. Seu marido J. P. Roberts viajou
o mundo tentando encontrar um lugar para enterrar sua amada esposa, ela acabou
sendo aceita aqui em Pisco. Que argumentos ele usou? Não os conhecemos!
―
Mas então ela já estava morta, né? Comentei pra o delegado.
―
Sim, e no dia seis de junho deste ano de 1993 foi o “grande dia” que segundo a
lenda aconteceria a ressurreição da vampira. As mulheres grávidas fugiram pra
longe com medo de que seus filhos fossem “usados” por Sarah para reencarnar-se
neles. O restante da população muniu-se de “kits” completos contra vampiros:
alhos, estacas de madeira e cruzes benzidas pelos padres da igreja. A multidão
foi pra o cemitério para aguardar a ressurreição, esperaram muito tempo e nada
aconteceu!
―
Então, esse foi o fim da lenda?
―
Acredito que sim, mas não fique muito tranquilo Gustavo por que os medos são
permanentes e alguém poderá inventar uma nova explicação para a não
ressurreição da vampira, o inconsciente coletivo é muito criativo!
No
dia seguinte voltei pra Lima e chegando escrevi uma reportagem de três
capítulos curtos sobre a Lenda da Vampira
Peruana, para minha surpresa eles causaram enorme alvoroço e excitação nos
leitores da capital e em toda a mídia restante.
________________
No
ano de 2007, quatorze anos após minha primeira visita, houve um terremoto de
grau superior a sete na escala Richter em toda a região onde se localiza Pisco.
Naquele ano eu então trabalhava num jornal de circulação nacional e fui enviado
como chefe de uma equipe de três jornalistas para cobrir o evento. A cidade era
uma desolação total, a maior parte das casas estava literalmente no chão, mais
de quinhentos mortos e milhares de feridos e o número de desabrigados era
enorme!
Soube
que o delegado Angulo ainda estava na ativa, agora como chefe da delegacia de
investigações. Ele me recebeu com muito carinho, estava um pouco envelhecido, porém muito dinâmico e se dispôs ajudar-me na
minha labor jornalística.
Almoçávamos
todos os dias no mesmo restaurante e sempre brindando com deliciosos pisco-sours falando inicialmente sobre a
tragédia da cidade, mas inevitavelmente em algum momento de nossa conversa
voltamos ao passado e indaguei:
― Sobre o assunto da vampira não se
falou mais, né?
Ele
me olhou durante um tempo como meditando o que iria me dizer e por fim:
― Vou confiar-lhe um segredo Gustavo que
guardo nestes últimos quatorze anos, tenho sua palavra de honra de que você o guardará
só pra você?
Sem
titubear lhe respondi:
―
Com certeza pode confiar em mim, tem minha palavra!
―
Ok - disse
- me espere na parte central da Plaza de
Armas hoje às vinte horas.
Na
hora marcada já caminhávamos até o laboratório forense da Delegacia, o lugar
estava vazio, sem nenhuma alma. Subimos até o segundo andar, entramos na sua
sala. Logo ele se dirigiu a uma enorme estante de aço num canto do escritório e
enquanto o abria me disse:
― No dia da fracassada ressurreição e após
a dispersão das pessoas achei importante dar uma olhada na lápide de Sarah
Roberts, estava quebrada e mais tarde com ajuda de alguns colegas abrimos o
túmulo para ver o que continha. Além de alguns ossos percebi que também havia
um crânio praticamente intacto. Guardei-o discretamente num saco e o trouxe
aqui para o laboratório.
― E dai? Perguntei ansioso.
― No dia seguinte o entreguei para o
legista. Esperei durante algumas semanas pelos resultados. Eles estão aqui
neste envelope! - Disse Roberto e me o
entregou.
Li
o laudo que dizia em resumo, que as características morfológicas do crânio pertenciam
a uma mulher alta, branca e com certeza de origem saxônica. No que acabei de
ler o laudo o delegado retirou o pano que cobria um vulto redondo retirado do
armário, era um crânio e ao contemplá-lo senti um intenso terror,
seus caninos, além de pontiagudos e enormes, tinham o formato típico daqueles de
um vampiro! Fiquei paralisado por alguns minutos antes de recuperar-me do medo causado
por essa visão inesperada!
No
dia seguinte voltei para Lima e pedi licença médica por alguns dias!
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