O crime da Rua Polônia -. Fernando Braga


O crime da Rua Polônia.
Fernando Braga


       Sr. Moses, agora com 75 anos, viera da Polônia ainda jovem, um dos poucos sobreviventes do nazismo, trazendo consigo sua esposa Sara. Em São Paulo, trabalhou muito vendendo roupas, conseguindo com muito sacrifício, uma loja na Rua 25 de Março. Dizia que apesar dos turcos, conseguiu ganhar muito dinheiro. Com economia foi comprando apartamentos para alugar, e também uma excelente casa térrea na rua Polônia no Jardim Europa, uma mansão em terreno de 1200 metros.

       Aos 60 anos já possuía  22 aptos alugados, administrados por uma firma de advogados. Foi, muito auxiliado por Sara, que também lhe deu duas filhas Esther e Monica.

       Esther aos 22 anos, casou-se com um médico neurologista, também judeu, o que deixou a família muito contente, oferecendo uma esplêndida festa em seu casamento. Contudo, após quatro anos, com surpresa geral, o casamento foi desfeito. Felizmente não tinham filhos.

       Mais três anos, Esther casou-se novamente, agora com Rodrigo, descendente de espanhóis. Apesar da insatisfação da família,  de não ter se casado com um israelita, seu marido foi aceito na colônia. Logo tiveram três filhos e viviam felizes. A mais nova, Monica, seguiu o caminho da irmã e casou-se com um descendente de italianos de nome Giuseppe e logo teve também dois filhos. Quando sua querida mulher morreu, Moses continuou morando na mesma casa, sozinho. Realmente rejeitava a ideia de se mudar ou morar com qualquer um de seus genros, embora os tratasse bem.

       Recebia com certa frequência a visita das filhas, dos netos e raramente dos genros.

       Agora um septuagenário, começara a doar suas propriedades às filhas, mantendo   contudo, o Uso Fruto. Suas filhas moravam em aptos doados por ele, um pouco apertados para as suas exigências e ocasionalmente, o pai lhes dava dinheiro para ajudar a pagar algumas despesas. Seus maridos eram empregados em boas firmas, mas o ganho estava bem aquém do que pensavam merecer. Havia alguma dificuldade para pagar a escola dos filhos, o clube que frequentavam. Moses, realmente não facilitava muito a vida deles, mas nada deixava faltar que fosse essencial.

       Manteve os quatro empregados da casa: a cozinheira Marluci, que tinha um quarto nos fundos do quintal, Raimundinha de 30 anos era a faxineira, uma nordestina arretada, forte, alegre, bem e cobiçada, Aristides o jardineiro, um baiano disposto ao trabalho, que tinha uma quedinha pela faxineira e finalmente, o seu Juvenal de 48 anos, o chofer particular. Pagava a todos muito bem, sem atrasos nos salários, e Moses era querido por todos eles.  

       Embora grande, casa com muito cômodos, Moses, no dia a dia, utilizava sua cozinha para comer, seu quarto para dormir e principalmente seu escritório de 50 metros quadrados. No escritório, tinha três armários colocados em duas paredes, dois grandes e um menor, totalmente cheios de livros que colecionou durante toda sua vida. Continha ainda um lavabo,  sua grande mesa, com uma cadeira de couro giratória, geladeira, ar refrigerado, uma televisão de 40 polegadas, poltronas confortáveis que usava para leitura, um sofá cama, onde com constância tirava  sonecas. 

      Tinha ainda um cofre pesado, de 80 cms de altura por 40 de largura, escondido, onde supunha-se guardava coisas particulares, como joias, Dólares e Euros. Havia uma janela alta, protegida externamente, por uma grade de aço. A porta de entrada do escritório era maciça com fechadura de segurança, que não permitia abrir ou fechar, se a chave estivesse na fechadura do lado oposto.

       Evitava sempre que entrassem no interior de seu recanto preferido, mesmo suas filhas, netos,  principalmente os genros.

        Ficava muito, a maior parte do dia no escritório, onde escrevia, lia e ouvia músicas clássicas.  Usava muito seu chofer para levá-lo ao clube Hebraica, hoje Ben Gurion, onde mantinha amigos, jogava cartas. Ia ocasionalmente ao cinema, teatro e também para o Guarujá, onde tinha um apto na praia, ocasião em que levava a cozinheira junto.

       Seu escritório era limpo duas vezes por semana pela faxineira que espanava os livros, aspirava o pó dos vários tapetes, limpava o lavado e tudo, sob sua observação. Não gostava que mudasse a posição de seus livros. Quando ele se ausentava por uma semana, deixava tudo bem trancado. Nestas ocasiões permitia a faxineira entrar em seu escritório para limpá-lo, mas sempre sozinha. Para isto tinha uma copia de sua chave, guardada em local bem seguro, que ela, somente ela conhecia e que não podia mostrar a ninguém, nem aos familiares.

       Quem não gostava de Moses eram os dois genros que o achavam muito sovina, que embora tivesse lhes comprado o apartamento em que viviam, doado a maior parte dos bens, não facilitava muito a vida deles. Sentiam-se merecedores! Comentavam isto com as esposas e mesmo com os filhos, mas todos defendiam o velho, enfatizando o quanto ele havia trabalhado, o que lhes havia dado e que no final, tudo seria deles.

        Os genros, mesmo assim, não se conformavam e comentavam entre si, que o velho ia longe, que bom seria se morresse logo e não ficasse empatando!

        Brincando, dizia um ao outro: “Vamos esperar mais um ano e se ele não pifar, vamos dar um jeitinho! É isso aí meu irmão!” - E morriam de rir!

       Como foi referido, a faxineira era charmosa, uma alagoana gostosa, de cabelos negros, que chamava atenção, até de Rodrigo, o genro,  quando raramente ia visitar o sogro.

       Conversa vai, conversa vem, um dia encontrou-a na porta da casa e após sorriso e abraço, apertado deu-lhe uma cantada e ela caiu. Passaram, no final do dia, após o termino de seus trabalhos, a frequentar um motel. Ele lhe dava alguma grana e pedia que nunca comentasse com ninguém, porque se sua esposa soubesse a casa iria cair! E ela também seria mandada embora! O fato é que nestas andanças, eles conversavam muito, falavam das pessoas da casa e ficaram até amiguinhos.

       Certo dia ela disse a ele que no escritório do Sr. Moses havia algo interessante, um segredo, mas que não poderia revelar. Ele se interessou muito, mas ela se negou a contar, mesmo lhe oferecendo 300 reais. Ele esperava que um dia ela não resistisse, e contasse. Chegou a comentar este fato com Giuseppe, uma vez que eram bem entrosados, confidentes e ambos, sacanas.

       Certo dia, após o jantar, o Sr. Moses voltou para seu escritório, trancou a porta e passou a ouvir músicas clássicas. Naquela noite, Marluci, a cozinheira, pediu licença para dormir em casa de sua irmã, que estava doente. Ele acedeu, perguntando se ela precisava de alguma coisa.

       No dia seguinte, Moses não apareceu para tomar o café e mesmo para o almoço. Ninguém falou nada, pensando que ele houvesse saído. Ninguém sabia dele, nem mesmo o chofer.  Foram ao seu quarto e nada, tudo limpo. Ele não havia dormido lá. Desceram ao escritório, que continuava fechado, e ouviam um ruído que podia ser da vitrola ligada. Chamaram por ele, bateram fortemente na porta e nada.

       Telefonaram às filhas, que logo vieram, muito preocupadas. Telefonaram no celular do pai e nenhuma resposta. Bateram à porta, e nada!

        Chamaram seus maridos, que logo se dispuseram a vir ajudar. Verificaram no clube, no Guarujá e ninguém vira o velho.

        Já estava anoitecendo quando decidiram chamar a polícia.

     Quando eles chegaram, pediram a chave da porta e todos disseram que ninguém a tinha. Foi quando Raimunda vendo a agitação e pensando no Sr. Moses, que poderia estar lá dentro passando mal, desmaiado, foi buscar a cópia da chave, entregando-a ao policial.

       Eles, não conseguindo abri-la, percebendo que era uma chave de segurança, decidiram o uso de ferramentas e da força. Os policiais entraram dentro do escritório e lá estava Moses, deitado em seu sofá, inerte, roxo, já um pouco duro e evidentemente morto. Observaram a chave na fechadura da porta arrebentada.

      Deixaram os familiares entrarem, não tocarem em nada, mesmo no corpo e houve aquele desespero, com choro e gritaria, menos por parte dos dois genros que se mantiveram mais calmos e procuravam consolar sua família. Os empregados também entraram e as reações foram as mesmas. O corpo mostrava sinais de machucadura no pescoço, nos braços supondo-se agressão física. Poderia ter sido morto!

       O fato foi comunicado aos familiares que ficaram petrificados, e um comentando com o outro, não acreditavam que aquilo pudesse ter acontecido.

Um assassinato?

       Os dois genros ficaram pálidos, preocupadíssimos.

       O corpo foi levado para necropsia para confirmação da causa mortis. A sala foi fechada para que ninguém entrasse lá.

       A autopsia confirmou a morte por asfixia!

Um assassinato!

       Todos os suspeitos deveriam permanecer na casa, ajeitando-se da melhor maneira possível, pois espaço era mais do que o suficiente. Os genros logo reclamaram que tinham que trabalhar, não tinham roupas. Um guarda acompanhou as filhas até seus aptos para trazerem o necessário e os genros avisaram do ocorrido em seus trabalhos e que precisavam de uma dispensa temporária, por ordem policial. Com os empregados, o mesmo sucedeu.

       Foram convocados o delegado Mario Gabo, o experiente detetive Lupércio Moraes  e seu auxiliar Watson da Silva, para conduzirem uma investigação.

       Um por um, foi sendo chamado para prestar declarações.

       Todos do departamento de polícia estavam,  em princípio, muito, muito intrigados.

       Uma vez que a morte por asfixia fora confirmada, quem teria conseguido entrar no escritório, se encontrava-se fechado por dentro? E como sair, deixando a chave por dentro da fechadura?

        O detetive Lupércio, com experiência e muita astúcia, logo imaginou que deveria ter outra entrada naquele escritório. Interpelou as filhas, que disseram desconhecer o fato, mas que seu pai havia feito várias reformas na casa e não as deixava entrar lá  durante este tempo todo. Os genros foram igualmente chamados um a um para declarações.

       Disseram gostar muito do Sr. Moses, que se davam perfeitamente bem, e não conheciam nada sobre o escritório, onde o sogro, que  evitava que qualquer um entrasse.

       Após a saída dos genros, devido à insegurança, intranquilidade que ambos apresentavam, principalmente Rodrigo, tornaram-se suspeitos. Para o detetive Lupércio, deveriam ser submetidos ao teste do Polígrafo Detector de Mentiras, que com 93% de certeza, poderia mostrar que não falavam a verdade.

      O teste feito nos dois. O resultado mostrou que Rodrigo mentia. Tornou-se o principal suspeito. Falou-se até em prendê-lo, para que não fugisse para o exterior.

     As filhas e os netos também foram investigados, mas não se tornaram suspeitos.

     As investigações agora, foram para o lado dos empregados.

      Marluce, pacata, adorava a todos, principalmente dona Sara, que precocemente havia morrido com um enfarte e foi excluída. Chamaram o chofer, que deu declarações firmes, negando qualquer envolvimento. Se quisesse matá-lo, tinha tido muitas chances de fazê-lo quando viajavam, mas deu para perceber que ele também adorava o Sr. Moses.

      Chamaram o baiano, o jardineiro, que era pobre e morava com seus pais em uma casinha na favela Paraisópolis. Este também se enroscou em responder algumas perguntas. Via muito pouco o patrão. 

Jurava não ter a menor ideia de como aquilo poderia ter acontecido.

       Levantou alguma suspeita no delegado, mas não em Lupércio.

      Toda a equipe procurava por um alçapão, uma porta falsa que desse para o escritório na sala, única maneira de alguém entrar.

 Watson, o ajudante de Lupércio, franzia a testa e dizia:

— Homem invisível não existe!

        Faltava investigar apenas Raimunda. Quando ela entrou e cruzou as pernas, todos sem exceção olharam um para o outro e pensaram:

Que alagoana! Será que o seu Moses tinha alguma coisa com ela?

       Fato é que ela era a única que tinha uma chave do escritório. 

Quando o patrão  saísse fechando a porta, ela poderia ter entrado, se escondido e cometido o ato. Ela ou alguém a quem entregasse a chave. Mas como fechar a porta por fora deixando uma chave por dentro?      Também, como houve uma luta, dificilmente seria ela, embora fortinha. Tornou-se também uma suspeita!

      Não conseguiam nenhuma andar muito com a investigação. Procuraram no  quintal, e  também resultou negativa. Escarafuncharam o resto da casa. Nenhum indício!

     Após dois dias de investigação que não levara a nada, Lupércio e seu assessor Watson resolveram conversar novamente com cada um dos suspeitos. A primeira a ser chamada foi Raimunda, que veio muito nervosa, como se escondesse algo, o que logo foi percebido por Lupércio e também por Watson. Ela continuava negando qualquer conhecimento do fato.    Resolveram também aplicar nela o teste do Polígrafo, que se mostrou alterado, principalmente quando perguntaram se mantinha alguma relação maior, de amor, com alguém daquele ambiente. Negou, mas o teste mostrava que mentia.

       Resolveram ameaçá-la, dar um blefe, dizendo que o teste a incriminava. Seria detida como suspeita, que deveria arranjar um advogado para defendê-la ou indicariam um advogado da Defensoria Pública, que faria sua defesa de graça.

       Nesta hora, tremendo, disse que conhecia um segredo do escritório que poderia ajudar a policia. Levada até lá, pegou uma pequena escada e puxou um livro de tamanho grande, que estava preso à estante. Neste momento a estante correu e se afastou um metro para o lado, mostrando uma pequena abertura na parede.

       Todos se aproximaram e desceram por uma escada estreita.  

Acenderem a luz, caminharam por um corredor todo cimentado e foram sair em outra porta, onde puxando um cordão, outra porta se abria, saindo na estufa do Sr. Moses, parede forrada com azulejos. Para fechar esta porta falsa era só entrar e puxar novamente o cordão. Para abrir esta porta pela estufa, tinha que pressionar um azulejo com a cor diferente.

       Estava explicada a entrada do bandido no escritório!

       Raimunda continuou dando explicações: - Um dia eu estava fazendo a limpeza, espanando os livros, retirando alguns do lugar e ao puxar um deles, a estante se afastou mostrando a abertura na parede. Quando fez esta descoberta, estava sozinha, pois Sr. Moses tinha ido para o Guarujá. Acendi a luz e caminhei até o final e fui dar   na estufa, puxei um cordão visível e uma porta se abriu, local cercado de plantas. Ao voltar, puxei novamente o cordão e a porta se fechou. 

Voltando ao escritório puxei novamente o mesmo livro e a estante se fechou. Fui até a estufa pelo jardim e lá vi um azulejo de cor diferente, que pressionado fortemente, a porta secreta se abriu. Com uma carinha de marota ela sorriu e disse:

       — Fiquei abismada! Mas, viram como sou viva!

      — Você é uma graça. -  logo afirmou Watson.

      — O Sr. Moses devia ter esta passagem secreta caso algum bandido invadisse sua residência e então, ele poderia escapar e chamar a polícia. Nunca comentei com ele que eu havia descoberto esta passagem, porque me mandaria embora.

      — Já que você esta disposta a nos ajudar e não é criminosa, conte o restante que você sabe - disse Watson. Logo Lupércio pediu que se calasse, porque ele era o chefe, ele que fazia as perguntas.

      — Você contou este segredo para alguém de sua intimidade?

       Envergonhada olhou para o chão e respondeu:

— Sim. Para duas pessoas, Rodrigo e   Aristides, com quem tive um caso.

       — Você se refere Rodrigo, o marido de Esther? Você estava tendo caso com ele?

       — Sim! Eu gostava, e ele me dava dinheiro! No começo eu não ia contar, mas ele me deu 2000 reais e eu acabei cedendo.

       — E com Aristides, o jardineiro, como foi?

       — Um dia ele me pegou a força e acabei gostando. Tenho o sexo na flor da pele. Contei para ele também, para agradá-lo! Ele não deu importância ao fato.

      — E você não participou da trama?

       — Juro por Deus que nada tenho a ver com isto! Não sou ladra, nem assassina!

       — OK, por enquanto você está dispensada, mas não conte esta entrevista para ninguém, se não sua patroa vai saber!

       Raimunda perguntou:

— O cofre do Sr. Moses continua no escritório? Não entrei mais lá!    Era um cofre pesado, onde ele guardava muita coisa de valor. Contei isto também aos dois.

       Lupércio trocou ideias com o delegado Gabo e seu assistente Watson, chegando à conclusão de que agora tinham explicações sobre a entrada no escritório e a possibilidade de um dos dois serem o assassino.

      Watson perguntou:

— Porque vocês tiraram o outro genro Giuseppe do páreo. Os genros deviam ser confidentes e podem ter praticado o ato juntos!

— Desta vez você em razão meu caro Watson!

      Foram imediatamente ao escritório procurar pelo cofre e nada encontraram.

      Reuniram-se novamente e chegaram à conclusão, de que mais de um bandido ou até três, deviam estar presentes, ou os dois genros, para terem conseguido transportar o pesado cofre.  Um só não conseguiria. Também para terem sufocado o Sr. Moses, seria mais fácil se fossem no mínimo dois.

      Agora estava ficando claro, mais fácil, e até mais interessante desvendar os fatos! Watson poderia ter razão! Os dois genros!

       Vasculharam o túnel onde encontraram algumas marcas recentes de solas de sapato, mostrando que realmente era mais de um.

       Foi declarada a prisão preventiva dos dois genros, que negavam de pés juntos, nada terem a ver com a morte do sogro. Suas mulheres e mesmo os filhos começaram a duvidar da inocência dos pais, pois eles viviam se queixando, desejando a morte do velho.

      Arguidos, eles confirmaram saber da existência do túnel, mas nunca tentariam contra a vida do sogro. Arrependiam-se amargamente, de terem muitas vezes comentado que o velho precisava morrer!

      Na prisão choravam de desespero. Tiveram que arranjar um advogado, que era bom, muito bom, mas muito careiro.

      Prenderam também Aristides e começaram a ameaçá-lo. Foram até sua casa na favela, conversaram  com seus pais que juravam a honestidade do filho, que era trabalhador, muito embora duvidassem de suas amizades, alguns com passagem na polícia. Deram alguns destes nomes ao delegado. A polícia foi em casa de cada um, procurando falar com aqueles amigões de Aristides.

      Em uma das casas, a vizinha vendo a movimentação, chamou um dos policiais e reservadamente, contou que vira alguns carregando um objeto pesado sobre um carrinho de pedreiro, que parecia um armário de ferro ou algo semelhante.

       Isto foi um dado importante, devia ser o cofre!

       No dia seguinte foram à prisão, colocaram Aristides em uma sala para depoimento.

        Disseram-lhe:  

— Meu amigo! A casa caiu! Achamos o cofre na casa de um seu amigo, na favela da Paraisópolis. 
          
     — Isto vem mostrar que você e seus amigos entraram na casa e mataram o seu patrão!

      — Comece a contar tudo se quer diminuir sua pena, que certamente será de 30 anos.

      Aristides resolveu contar tudo! Jurou não ter participado do assalto.
       
Havia comentado com uns amigos de bar sobre o que ouvira de Raimunda, dando todos os detalhes para entrar e sair no interior do escritório da casa e a presença de um cofre, cheio de dinheiro e joias. Os amigos se interessaram e planejaram tudo!

     — Eu lhes forneci uma cópia da chave do portão dos fundos.  Nunca pensei que fossem matar o velho! Eu gostava dele!

      — Por volta da meia noite, sabendo que a empregada não estava, penetraram no quintal da casa, acharam a estufa, abriram a porta falsa, percorreram o subterrâneo e penetraram no escritório. Deitado no sofá, seu Moses dormitava e ao ver os bandidos, levantou-se rápido e tentou correr para a porta. Lutou com os quatro, mas foi dominado e depois asfixiado com uma corda no pescoço.

    — Acharam o cofre, que devia para eles conter uma riqueza, como um cofre de piratas.

    — Disseram que foi muito difícil carregá-lo pela casa, mas sendo quatro, colocaram o cofre sobre um tapete e o deslizaram até o quintal, colocando-o no banco traseiro do um carro roubado. Abriram o portão dos fundos, saíram, deixando tudo completamente na mesma em que haviam encontrado. Antes, dois deles voltaram ao escritório, colocaram Moses sobre o sofá cama, fecharam a porta por dentro e saíram pelo esconderijo. Todos usaram luvas.

      — Eles abriram o cofre com maçarico. Disseram terem ficado frustrados porque dentro do cofre só havia papelada! Negaram-se a fornecer mais dados.

       Aristides, para se livrar, dedou os quatro amigos, que foram presos.
       
Assim, uma vez esclarecido, todos ficaram muito felizes, principalmente os dois genros, que foram recebidos com os braços abertos pelos familiares e em seus trabalhos todos reconheciam a injustiça daquela prisão temporária.

       Raimundinha foi inocentada, embora tenha fornecido dados preciosos a Aristides, que permitiu o crime.

      Os dois genros estavam agora delirantes de alegria, recuperados moralmente e prontos para dividir a fortuna do velho.

      Como é bom ser honesto, pensavam eles!

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