SOLUÇÃO
RADICAL
Carlos
Cedano
Dona Olivia descansaria nesse
domingo e ficaria mais tempo na cama, a semana tinha sido intensa no escritório
de advocacia. Pegou o jornal que sua empregada tinha deixado cedo no criado
mudo, e mal começou a lê-lo quando sua pequena sobrinha Mariana apareceu e se
jogou na cama:
―
Oi tia querida, posso ficar aqui com
você?
―
Certamente meu amor é sempre uma alegria ter
você perto de mim! Disse a tia Olivia abraçando-a fortemente. Já
faz mais de doze anos, pensou a tia, que minha irmã Marlene faleceu e me pediu
pra ser a madrinha de sua filha que batizei com o nome de Mariana a seu pedido.
“Prometa-me
minha irmã querida que você cuidará de minha pequena com o mesmo amor que sinto
por ela e por você, a vida me escapa e você é a única pessoa na qual confio”.
Sempre lamentei que minha linda
irmã tenha se casado com a primeira e única paixão, Oswaldo, cara que não soube
nunca amá-la e nem entender a qualidade de uma pessoa como ela e que nunca teve
outro motivo para desposá-la que não o dinheiro de nossa família.
― Conta pra mim - disse a pequena Mariana - as lembranças da infância e juventude de
você e de minha mãe, não me canso nunca de escutá-las até parecem contos de
fadas!
Dona Olivia sorriu e disse-lhe que
agora contaria pra ela sobre o dia do aniversário de dezoito anos de sua mãe Marlene:
Apareceu a família em peso à casona do
casal Maldonado, seu Humberto e dona Marcela, teus avôs maternos querida,
também estavam presentes os amigos mais próximos da família e...
Esse
dia Marlene estava linda com vestido cor de rosa e veio correndo agitada e
muito emocionada me disse, Olivia,
Olivia! Quer saber de uma coisa minha irmã? Conheci Oswaldo, filho do casal Faria
que acabou de chegar de Europa onde se graduou de engenheiro, vem comigo vou te
apresentar a ele! E pra lá fomos de mão dadas. Ele me impressionou fisicamente,
alto, moreno de olhos verdes e de uma beleza que atraia todos os olhares
femininos, ele não caminhava, desfilava! Mas algo já me dizia que era alguém a
ser observado, parecia uma pessoa cuja vaidade era mais forte que inteligência!
Sim, fiquei quieta e não falei isso com minha irmã, mas como poderia fazê-lo?
Minha irmã estava no céu e não escutaria e, ainda pior, eu era apenas irmã
caçula...
―
Namoraram muito tempo? - Perguntou Mariana
enquanto se aconchegava na tia para curtir melhor a historia.
―
Não muito, o jovem casal de namorados
sofria enorme pressão familiar de ambos os lados além da pressão social, os
amigos tinham certeza de que era uma união destinada à felicidade, seria o
casamento do ano na nossa cidade. Não passaram nem quatro meses quando se realizou
o pedido formal de casamento. Houve uma
bela reunião com muitos convidados.
―
E daí, tia? Conta minha tia! Você parece
distraída em alguns momentos.
―
As coisas se aceleraram, o casamento foi
marcado para cinco meses depois. Durante esse tempo foi tudo uma correria e
muito trabalho, mas todos pareciam felizes!...
Eu
sentia que tudo se precipitava, as emoções e os desejos se sobrepunham ao bom
senso e à serenidade. Não faltaram algumas vozes que com discrição comentavam que as coisas
estavam indo rápido demais, minha prima Sarah, criatura muito amiga coitada,
fez um leve comentário nesse sentido que chegou aos ouvidos de Marlene, pronto!
Foi motivo para uma discussão bastante violenta entre elas, faltou pouco, muito
pouco para nossa prima ser banida da família. Eu no fundo de meu coração concordava
com ela, mas vendo a reação de minha irmã, não tive coragem de arriscar seu
carinho e sua amizade! Até agora me arrependo de minha falta de caráter!
―
Imagino que a festa foi ainda mais linda,
né tia? E pra onde foram na lua-de-mel?
―
Sim minha querida Mariana! Muito linda e muito concorrida, porem com exageros
quanto às comidas e bebidas! A lua-de-mel? Só podia ser para Europa, foi
decisão de seu pai, seria através dos
olhos dele que sua mãe conheceria Europa. A viagem durou mais de três meses...
Quando
partiram minha irmã era uma mulher linda, feliz e com um monte de ilusões
quanto ao futuro de seu casamento e de sua própria família. Ela irradiava essas
certezas, além do que, tinha se casado com um homem que considerava maravilhoso!
Mas ver minha irmã de volta de sua vigem de bodas é uma das lembranças mais
tristes e dolorosas de minha vida. Aquela mulher de sorriso espontâneo e feliz
tinha sido substituída por uma mulher triste e amarga. Todos perceberam a
mudança de Marlene, mas não foram feitas perguntas!
O
casal foi veio morar na nossa casona, mas o ambiente rapidamente mudou, o lugar
se transformou com o sofrimento da Marlene, com a tristeza silenciosa de meus
pais e a arrogância de Oswaldo. Tive que fazer um enorme esforço para manter
minha sanidade e não deixar-me envolver pelo ambiente tenebroso que se
instalou! No ano seguinte faleceu meu pai e logo minha mãe. Morreram ambos de
tristeza na opinião dos amigos!
― Pelo que sei tia, minha mãe ficou grávida na
Europa, é isso mesmo?
―
É isso mesmo Mariana querida, e quando
confirmaram a gravidez começou a preparar seu enxoval. Eu ajudei e algumas
amigas de sua mãe trouxeram roupas pra você, já sabíamos que você seria uma
linda menina. Um mês após que você nasceu fizemos seu batizado, eu fui a
madrinha e seu tio Roberto, irmão de seu pai, o padrinho. Foi uma cerimonia
bonita e simples.
― Você nunca fala de meu pai tia, por
que isso? Indagou Mariana.
Vou
ter que recorrer a uma mentira piedosa pensou Olivia e
disse:
― Seu pai tinha que viajar muito como engenheiro, ficava pouco tempo em
casa, dizia que tinha muito trabalho, isso talvez contribuísse para o
esfriamento da relação entre eles. Sua mãe pouco comentava da vida do casal,
era muito discreta.
Foi
logo após do nascimento de Mariana que as coisas pioraram, Oswaldo mostrou
rapidamente seu caráter cruel e seus vícios e defeitos. Deixou de trabalhar e
saía todas as noites voltando completamente bêbado e o que era pior, brigava
com minha irmã e jogava todas suas frustrações sobre ela que resignada não
respondia. Como sofri ver a minha irmã nessa situação que durou muito tempo. Mariana,
nesse então com dois anos foi afetada pelo ambiente familiar tenso o que acentuava
o sofrimento de Marlene.
Um
dia Oswaldo chegou, como sempre, muito bêbado e alterado, minha irmã fechou o
quarto por dentro, queria preservar o sono da pequena Mariana. Sai de minha
cama e vi meu cunhado caminhando cambaleante em direção ao jardim que acabava
numa profunda ribanceira, chovia fortemente e ele sem controle continuou
caminhando até a beira do jardim, o segui, ele parou de repente e eu atrás dele
vi uma oportunidade, o empurrei fortemente e caiu de uma altura de quinze
metros sobre um monte de pedras. Voltei a meu quarto, me troquei e fui a dormir
curiosamente senti-me calma.
No
dia seguinte a empregada veio a dizer-me apavorada, que seu Oswaldo tinha
sofrido um terrível acidente, chamei a polícia e o resgate.
Chegou
a policia, levaram o defunto para os exames periciais que comprovaram alto
consumo de álcool e drogas, o legista concluiu que tinha sido um lamentável
acidente...!
O
mais difícil foi confortar com minha irmã que chorou desconsoladamente, ainda
amava o canalha! Não resistiu, começou a definhar e pouco tempo depois morreu.
Dona Olivia olhou pra sua sobrinha e
viu que ela tinha adormecido, com cuidado levantou-se e foi tomar um banho e enquanto
o fazia pensou: Se tivesse sabido que seria tão fácil
assim, teria adotado essa solução muito tempo antes, oportunidades não faltaram!
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