A VINGANÇA DO PAJÉ - Carlos Cedano

 

A VINGANÇA DO PAJÉ
Carlos Cedano

O pajé Irajá vivia às turras e com medo do sogro o cacique Cauã. “Esse veado sempre está falando para todo o mundo que minhas danças, meus rituais e poções não funcionam, eu acho que é por que casei com  a filha dele, desde  então o cara não me suporta! Me considera um iba (ruim, feio, imprestável). Ele abusa por que  tem físico avantajado, sem dúvida mais forte do que eu e por isso vive tirando sarro de minha cara!”

“A semana passada ele veio esbaforido e pediu-me pra lhe preparar cauim (uma bebida alcoólica fermentada a base de milho) para agradar sua mulher e deixá-la feliz, era dia de areté (dia festivo). Nada melhor que uma noite de amor! - me disse o safado.  Caprichei, oh se caprichei! Preparei a bebida numa cuia grande para garantir o resultado. Quando Cauã veio buscar a poção, apressado e grosso como sempre, pegou a cuia e foi embora muito rápido sem  agradecer.  E, ainda pior, não ouviu o que tinha pra lhe dizer”.

“No dia seguinte chegou furioso à minha oca,  berrando tanto que o pessoal da aldeia começou a juntar-se, o cacique me disse que minha caium não tinha funcionando, que eu era um enganador, um embusteiro que sua mulher tinha ficado brava chamando-o de broxa. Mas minha vingança não acaba aí!

A novidade espalhou-se em toda a aldeia e nas vizinhas e quando o pessoal quis saber o que realmente tinha acontecido o pajé foi muito claro: Eu falei pra o Cauã que a poção tinha que ser bebida aos poucos e lentamente por que era muito forte...

E o cacique Cauã bebeu tudo de uma vez só? Indagou um dos índios.

Não, não!  Interrompeu o pajé, não era pra ele beber, era pra sua mulher beber! Viram o que acontece quando se é tão apressado?  A poção quando é bebida por um homem o efeito é contrario, ele broxa e dura alguns meses!


O pajé pensou: Pois é, muitas vezes mais vale esperteza do que força!

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