A Ilha do Cardoso - Ledice Pereira


A Ilha do Cardoso
Ledice Pereira

Jorge e Elaine estavam casados há quatro anos. Eram felizes e se amavam embora fossem muito diferentes.

Enquanto ele era aficionado por aventuras, ela tinha medo de tudo, de altura, de barata, de piscina, de mar, de insetos e outros medos.

E quando ele lhe disse que iriam para a Ilha do Cardoso naquele feriado ela, embora não quisesse decepcioná-lo, fez de tudo para que ele desistisse.

Mas, ele estava decidido. Nada do que ela  dissesse o faria mudar de ideia.

No dia marcado, ainda durante a viagem ela tentou convencê-lo a ficarem em Cananeia, numa pousada que conheciam do tempo de namoro, onde poderiam recordar momentos românticos e até beber um vinhozinho  abraçados.

Ele, entretanto, estava excitadíssimo com a possibilidade de passar um fim de semana no meio do mato, literalmente entre cobras e lagartos, fazer trilhas no meio da Mata Atlântica, ficar isolado da civilização, sem celular nem luz elétrica.

 Para isso havia reservado um casebre de pescador para se hospedarem.
Meu Deus aonde vim amarrar meu  burro esse homem é um louco e não tem a mínima sensibilidade para perceber que está me deixando em pânico eu queria ser a mulher ideal mas definitivamente isso não combina comigo não vou pregar o olho a noite inteira e nem sei se vou sair de dentro do casebre ou se vou ter mais medo ainda dentro dele e se me aparece uma cobra o que faço então eu trouxe botas e um agasalho de mangas compridas meias repelente tomadinha anti-mosquito mas se não há energia elétrica de que me adiantam as tomadinhas em que enrascada fui me meter deveria ter sido firme e dizer a ele que eu não viria deveria ter deixado ele vir sozinho mas essa minha mania de querer agradar sempre sua burra agora aguenta

Depois de cinquenta minutos de viagem em um barco de pescador, nada confortável, chegaram ao destino, a comunidade de Marujá.

Jorge estava eufórico. Elaine, calada, só observava.

Ele que havia se recusado a passar protetor solar e se proteger com um boné, estava parecendo um pimentão vermelho.

Na ilha de Marujá dirigiram-se logo à casa alugada. Ela se surpreendeu com a limpeza e ordem que encontrou ali. Os donos, muito simples, mas hospitaleiros, mostraram-lhe o quarto onde iriam ficar.

No fogão a lenha, uma peixada borbulhava cheirosa. E Elaine se sentiu mais acolhida.
Eram 16:00h e estava faminta. Lavou-se na pequena pia do único banheiro existente e dirigiu-se à cozinha. Deliciou-se com a iguaria.  

Jorge mal comeu. Estava febril. Pegara uma insolação.

Teve que se medicar com os remédios caseiros que o pescador e sua mulher prepararam.

Elaine saiu sozinha para conhecer o lugar e adorou tudo, embora sem se aventurar nos esportes radicais.


E Jorge só melhorou no final do feriado. Voltou frustrado por não ter aproveitado nada do que planejara.

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