O ASSASSINATO DO
SR. FONSECA IIII
Oswaldo
Romano
— Oi Poá! Uma
visita surpresa!!!
— Ah, sei, sei.
Senta aí Walter.
— Doutor, ele quer
falar com o senhor - disse Poá.
Walter virando-se assustado e
admirado com o investigador, nada pode dizer, pois Poá distanciava-se.
—
Não dotor, não tenho nada a falar,
não!
—
Então me diga: Eu soube que você trocou de advogado.
—Sim
dotor. É que ele não tinha a OAB. Agora
o novo parece ser muito bom.
—
Mas muito mais caro, não é Walter
—
É. Paciência dotor, fazer o que...
O que o Dr.
Jurandir e nem o Poá sabiam, era que Walter para contratar o novo advogado
havia vendido sua motocicleta. Quando o delegado insinuou ser o novo advogado muito
mais caro, Walter não entendeu que o doutor jogou uma isca.
Nisso volta o Poá.
—
Poá, já tivemos um papo, e eu tenho gente esperando.
—
Tá bem doutor. Podemos ir?
—
Pode. Fale com o Tico. Uma viatura leva o moço até a chácara.
Logo mais, Poá voltou para à sala.
—
O que achou, doutor?
—
Huuumm... Depois a gente se fala.
A simplicidade, ou a esperteza do
Walter deixou o delegado sem forças. Nos bastidores dizem, “em cima do muro”.
Na manhã seguinte, Poá estava no seu
posto: O banco da churrasqueira!
Há muito havia
aprendido uma das regras do bom agente: “Não é correndo que você desembaraça os
nós de uma investigação”.
Levantava em intervalos regulares para esticar
as pernas e fazer o que ele chamava de ronda. Numa dessas parou na caixa da
churrasqueira. Tinha restos de carvão sobre cinzas, pedaços de caixa de papelão,
papéis. Costumes de alguns que no fim da
festa usa-a como lixeira.
Com a pazinha, foi
revolvendo aquele lixo.
Opá! Deu com uma
luva cirúrgica, depois outra. Sabia do uso de luvas na churrasqueira, mas das
grossas para proteger as mãos do calor. Cuidadosamente fez um embrulho
destinado ao laboratório. Menos mal, aparecia alguma coisa para animar a
investigação. Estava ficando nefasto este crime.
Foi pedido um prazo
de cinco dias pela Polícia Científica. Poá foi até o Instituto reclamar por um
prazo menor. Conseguiu em dois dias, porém pelo processo exotérmico.
Atendia o que ele
precisava. Conhecendo os produtos principais que as luvas manipularam, teria
elementos para continuar a investigação.
No ímpeto de novas
descobertas, solicitou a viúva Thereza permitir uma visita no dormitório que o
falecido Sr. Fonseca ocupava.
Foi-lhe permitido.
Quando preenchia seu relatório na delegacia, comentando o fato com o delegado,
convidou-o para acompanhá-lo.
— Então doutor,
vamos juntos?
— Como sabe Poá,
estou atrasado com muitos processos. Não tenho saído nem para almoçar. Quando
vai ser essa visita?
— O senhor é quem
marca.
O delegado
consultou sua agenda.
— Poá. O resultado
das luvas ficará pronto na quarta. Vamos marcar para quinta? O que você acha?
— Bom... Vou avisar
a madame. Será quinta a tarde, certo?
— Maravilha.
Na segunda feira
Poá acertou com a viúva, e recomendou.
— Sabe dona
Thereza, permita-me recomendar deixar o aposento sem arrumar ou limpar até
quinta. Falo isso porque está na consciência de toda dona de casa mostrar
ordem.
— Tudo bem, Poá. Tudo
bem.
Os primeiros dias
da semana correram com poucas novidades. O Tião na terça, aproveitando um dia
de muito sol, cuidou do jardim, deixando os caminhos entre os canteiros muito
bem varridos. Até então só recolhia as folhas, alegava tempo úmido que prendia
as folhas no chão.
Na quarta quando
cheguei fiquei encucado. Havia podado alguns galhos, mas da mangueira um pouco mais,
inclusive aquele que usei para subir no telhado.
Muita coincidência,
mas para mim motivo de nova e profunda avaliação.
Cruzando com dona
Thereza, ela disse rapidamente.
— Então, vocês vêm
amanhã?
— Sim. Sim, à
tarde.
E a árvore, a
mangueira! Eu sou um investigador. Tenho que ser realista. Mas, a danada da Lei
de Murphy me acompanha. Explícita regra de perseguição. Reflexão, aforismo. Foi
o que aprendi no último compêndio estudado.
Passando por Tião
pressenti que me olhou com sarcasmo. Achei-o insolente. Cumprimentou com uma
risadinha como quem dissesse: suba agora no telhado, suba, quero ver!
Tudo isso é
pressentimento. Falta de acontecimento mais consistente. Impossível que ele
tenha me visto subir no telhado. Aliás pretendia voltar lá embora não tenha
visto nada de errado. Só notei, que algumas telhas foram mudadas de lugar. As
marcas escuras do tempo nas telhas, deixam esverdeados os sinais das águas que escorrem
pelo telhado. Se os traços perdem a sequência, as telhas foram mudadas. Quis saber
o motivo.
Procurei o Tião.
— Tião? Vocês
fizeram alguma reforma na biblioteca ultimamente?
— Não, senhor.
— Pintura, reboque,
calhas, ou alguma garibada?
— Não, senhor.
— E a casa
principal, foi reformada recentemente?
— Não, senhor. Pode
ter acontecido a troca de uma torneira, alguns rodízios emperrados dos vidros.
Vidros trincados, esgoto entupido, sabe, nóis
tem ela como qualquer mansão. Precisa cuidados.
— Como é que você
me explica a troca de telhas na biblioteca?
— Puxa! A
biblioteca está separada. Achava que o moço não estava atento! Assim o senhor
vai encontrar agulha no palheiro!
— É meu trabalho
Tião. O seu não é cuidar do jardim, cortar grama, podar arvore?
— É sim. Até garapa
eu faço.
— E as telhas?
— Telhas! Telhas.
Tô lembrado, sim. No ano a mangueira deu uma carga de fazer inveja. Os meninos,
treparam e se acomodaram encima do telhado de onde estava fácil apanhar as
frutas. Não estavam nem aí. Quebraram telhas, se divertiram. Fui eu quem
arrumou. Agora na poda me vinguei, liquidei com aquele galho.
— Como era seu dia
a dia com o Dr. Fonseca? Conversava muito, muito papo...
—
Qui nada seu, sisudo, mais não aborrecia.
Quinta- Feira, um
dia considerado importante para Poá. Não veio cedo como de costume, mas por
volta do meio dia. Na quarta combinou com Dr. Jurandir encontrarem-se as 14:00
h.
Por volta das 13:00
h. dona Thereza avisou Poá que iria sair e que a Lourdes estava a disposição
para recebê-los.
— Sabe Poá. Quero
deixa-los à vontade, ela disse.
Poá achou a atitude da madame educada.
Melhor porque ficaria à vontade. Quando deu 14:30h o Dr. Jurandir chegou acompanhado
do seu motorista, deu uma volta no jardim, parou na biblioteca, viu a porta
reforçada com travessas pregadas. Conversaram ali mesmo na churrasqueira e
informou o Poá que os exames das luvas chegariam no fim do dia.
— Maravilha! Comemorou Poá.
— Poá. Recebi um recado sobre aquela
intimação da terça. Comparecer sem falta, as 16:00 h. no Fórum da Barra Funda,
hoje. Meu depoimento é indispensável. Deixo você pesquisar aqui, desejo-lhe boa
sorte, mas me vou! Dificilmente você
vai ter sucesso nesse aposento. Eles dormiam em quartos separados. Quantas
vezes já quebramos a cara, acreditando que o assassinado deixaria escrito o
nome do seu executor.
— Nossa, doutor! O doutor me anima!
Vira essa bo...
— Vai... fala? Vira essa boca pra
lá.
— É doutor, se falar o bicho pega...
Esse
movimento desusado criou um desconforto entre as pessoas da casa. O motorista portava
uma câmera profissional. Enquanto delegado e investigador conversavam, ele não
parava de tirar fotos do local e imediações.
—
Novamente estou só.
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