A MESMA HISTÓRIA DE SEMPRE - Oswaldo U. Lopes


A MESMA HISTÓRIA DE SEMPRE
Oswaldo Lopes

         De novo na nossa história só o endereço. Estão atrasados para jantar na casa dos amigos. O de sempre, ela demorou um pouco mais, uma ultima olhada no espelho, ele ficou impaciente, pegou a chave do carro e foi esperar sentado ao volante. Ela entra, precavida vem com o GPS, e digita o endereço. Seguem em silêncio, mas pelo menos vão.

         A certa altura ela pede para ele virar, na próxima rua, à esquerda. Ele contesta, diz que é à direita. Preocupada com o atraso ela se cala evitando confusão. Ele vira à direita e da com os burros n’água, percebe que foi burro mesmo sem água para dar. Com extrema dificuldade admite que fez besteira contra um GPS e faz o retorno. Ela, complacente, diz que no máximo chegarão alguns minutos atrasados.

         Totalmente perdido ele ainda ensaia uma semi-bronca:

— Você está com o GPS, não devia ter me deixado virar errado. Devia ter insistido, afinal quem sabe mais “você ou o GPS”?

— Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos à beira de uma discussão, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite!

Porco chauvinista teria dito minha avó. Empedernido, isto sim. Machista filho da puta, digo eu. Endereço novo nunca visitado eu de olho no GPS e ele tem certeza que é à direita. Ideia de jerico, de onde tirou isso? Esse traste é assim desde que casamos e já lá se vão trinta anos Sabe tudo qualquer que seja o assunto, de feijoada a churrasco. De vinho francês a zurrapa de São Roque. Só aguento por causa dos filhos. Chega mandão, sempre cheio de razão, cheio de assunto como diria a Yvete. Dá vontade de jogar o GPS pela janela fechada, o ruim é que aí não vamos chegar nunca.

Chegam. Ele desce do carro, abre a porta de traz, pega as flores, abre a outra porta para ela, beija-lhe a mão e sorri:

— Desculpe, foi uma bobagem sem par, como muitas que eu faço. Você estava com o GPS era lógico que sabia indicar o caminho. É uma pena, mesmo gostando tanto de você, ainda escorrego num restinho de machismo. Qualquer dia precisamos tomar um champanhe, não para esquecer, mas para lembrar o quão idiota eu posso ser às vezes.

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