Por
onde andará Joana?
Ledice Pereira
Nora acordou sentindo-se deprimida naquele
dia chuvoso. Sentia-se assim sempre que
o tempo estava feio.
— Não sei por que fico assim triste quando o dia está escuro.
Tenho vontade de permanecer na cama. Por que será que isso acontece comigo?
E ela preparou seu café, tomou, pegou o
livro que esquecera na sala no dia anterior e voltou a se deitar.
Teve que acender a luz, pois parecia
noite e a chuva agora caía torrencialmente.
Entretanto, não conseguiu se concentrar.
Seu pensamento voou longe, para um passado distante.
Naquele dia, também chovia muito. Eu estava na escola e
brincávamos na sala de jogos já que não podíamos ir pra fora. Meninos e
meninas, todos juntos. Joana estava de blusa azul marinho. Ficou toda manchada.
Eu tinha visto tudo de onde eu estava, mas não tive coragem
de contar nada. Fui covarde!
É que os meninos me olhavam como se fossem me fuzilar. Eles
não tinham certeza se eu tinha percebido alguma coisa.
Ela era a melhor no jogo de tênis de mesa. Vencia todos nós.
E acho que eles resolveram se vingar.
Bem que eu tinha reparado que eles conversavam num canto.
O campeonato começou e ela estava radiante, ganhando.
De repente, ela estava no chão, desacordada.
Tinha sangue no cabelo loiro e no supercílio, de onde se
espalhara pela blusa.
Nos juntamos em volta dela e, quando os professores
perguntaram o havia acontecido, ninguém sabia (ou queria dizer).
Eu tinha visto quando Jorge deu uma
raquetada na cabeça dela. Uma não, algumas. E os outros ficaram em volta para
acobertar.
Ela foi levada para a enfermaria da
escola, depois para um Pronto-socorro, Levou cinco pontos nos supercílios. E
teve que ficar afastada por uns dias.
Nunca mais quis participar dos jogos.
Os pais tiraram-na da escola.
E logo, consegui que meus pais me
tirassem de lá também.
Com certeza isso contribuiu para me tornar
medrosa, triste e solitária.”.
— Por onde andará Joana?
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