O SEGREDO DE DONA ANGELINA - Oswaldo Romano



O SEGREDO DE DONA ANGELINA
 Oswaldo Romano

            No desespero fui procurado pela Natália, informando com compulsivo choro, que sua mãe Angelina estava morrendo. Eu sou o Sebástian,  seu vizinho, nossas casas são geminadas.

            Moramos num Village, na cidade de Eze, França. A filha Natália e Angelina moram sós. O pai havia falecido há quatro anos deixando a mulher e dois filhos, Natália e Josep.

            Não sou muito de presenciar velório, enterro e muito menos ver alguém morrendo. Não quero acreditar no fim. Fico inerte indefeso e só de pensar eu morrendo, não saberia como me comportar.

            Mas precisei socorrer a moça. Assim que cheguei foi um choque para dona Angelina. Minha presença levantou desconfiança, acho que ela aceitou a morte. Questionava a Natália, o porquê eu estava ali. Foi-lhe dito que precisava de ajuda para vira-la na cama.
            — Não quero, ela disse, fico assim mesmo. Onde está Josep que não me visita?
            — Mãe, já chamei.
Nesse momento Angelina compreendeu o drama, e disse:

            — Não vai dar tempo de o Padre chegar Natália. Vou confessar com Sebastian, em nome de Deus.

            Surpreso com o pedido, para não contrariar a fúnebre vontade da moribunda sinalizei que Natália saísse. Retirando-se disse:

            — Mãe, vou na sala junto a imagem de Santa  Ângela, fazer sua reza.

            — Filha, você se lembra da oração?

            — Natalia retirando-se... Sim mãe. Vou rezar alto para a senhora ouvir:
Da sala chegavam às primeiras palavras...

            “Deus, nosso Pai, quando o sofrimento vier nos visitar, e, na aflição, não quisermos aceitá-lo, dai-nos força para não cairmos no desespero. Conservai viva e inabalável a nossa esperança. Na hora da dor, fazei-nos compreender, Senhor”.

            — Angelina me chamou para bem perto e disse: Moço, Sebástian. Escute bem, preciso revelar um segredo.

            — Hum... Mas comigo? - Não gostei, mas naquela situação não pude esquivar-me. — -Qual é o segredo Dona Angelina? Pode falar...

            — Natália não é minha filha. Ela não pode saber. Foi recolhida da porta de casa, chorava muito dentro de um cesto. Você fica com o segredo e só  conte isto ao meu filho Josep. Ele deve guardar como eu guardei, até seu último dia. Avise-o, se contar à Natália ou a qualquer outra pessoa, vai viver muito infeliz e amargar profundas crises pelo resto de sua vida.

            — Dona Angelina, me diga porque?

            — Porque... Vou contar para você o mistério: Quando achei o bebê, tive um abalo, quase desmaiei. Surgiu do nada, a Santa Ângela de quem sou fiel devota, abriu seu manto rubro e abençoou a criança. Olhou para mim e levantando as mãos, disse:- “Guarde em segredo este achado. Só o revele no leito de morte à pessoa confiável. Quem souber, deverá continuar com este mistério. Este bebê chegou de um espaço repleto de espanto e sofrimento. A partir deste momento, deixo a alma desta criança livre, e exorcizada”.



Escuta Sebástian, falou Angelina, prometa cumprir e fazer cumprir este segredo. Depois de contar ao Josep, este segredo vai sumir da sua vida, se apagar na sua memória. Tudo para você,  será um sonho esquecido.


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