A ROUPA NOVA DO REI - Hans Christian Andersen


A ROUPA NOVA DO REI 

Este é um conto que trata da vaidade humana. Quanto maior a vaidade, mais tolos nos tornamos. E costumamos alimentar a vaidade uns dos outros. 

Era uma vez um rei muito vaidoso e que gostava de andar muito bem arranjado. Um dia, um alfaiate espertalhão deu-lhe o seguinte conselho:

- Majestade, é do meu conhecimento que apreciais andar sempre muito bem vestido, como ninguém; e bem o mereceis! Descobri um tecido muito belo e de tal qualidade que os tolos não são capazes de o ver. Com um manto assim Vossa Majestade poderá distinguir as pessoas inteligentes das pessoas tolas, parvas e estúpidas que não servirão para a vossa corte.

- Oh! Mas é uma descoberta espantosa! - respondeu o rei. - Traga-me já esse tecido e faça-me a roupa; quero ver as qualidades das pessoas que tenho ao meu serviço.

O alfaiate aldrabão tirou as medidas do rei e, daí a umas semanas, apresentou-se, dizendo:

- Aqui está o manto de Vossa Majestade.

O rei não via nada, mas como não queria passar por parvo, respondeu:

- Oh! Como é belo!

Então o alfaiate fez de conta que estava vestindo o manto no rei, com todos os gestos necessários e exclamações elogiosas:

- Vossa Majestade está tão elegante! Todos vos invejarão!

A notícia correu toda a cidade: o rei tinha um manto que só os inteligentes eram capazes de ver. Um dia, o rei decidiu sair para se mostrar ao povo, desfilando pela cidade, com sua comitiva real acompanhando.

Toda a gente fingia admirar a vestimenta, porque ninguém queria passar por estúpido, até que, a certa altura, uma criança, em toda a sua inocência, gritou:

- Olha, olha! O rei está nu!

Ninguém conseguiu segurar o riso. Todos gargalharam e só então o rei compreendeu que fora enganado. Envergonhado e arrependido da sua vaidade, correu a esconder-se no palácio.


(Baseado no conto de Hans Christian Andersen)


*****

Abaixo vídeo encenação da história:






Leonardo da Vinci - BIOGRAFIA - Walter Isaacson - CURIOSIDADES

Leonardo da Vinci

Leonardo da Vinci é considerado um gênio, pois utilizava seu talento nas artes, medicina, engenharia, arquitetura e física.


Leonardo da Vinci, reconhecido como um dos mais completos artistas de todos os tempos, era um pintor que, além de obras de artes, com pinturas muito famosas e mais reproduzidas pelo mundo todo, também utilizava sua genialidade e talento no ramo da medicinaengenhariaarquitetura e física.

Leonardo di Ser Piero “da Vinci” nasceu em 15 de abril de 1452, em Vila de Vinci, na Toscana, Itália. Leonardo era filho da camponesa Caterina Lippi e do tabelião Piero da Vinci. Seus pais não eram casados, e ele acabou sendo educado por parentes próximos, como sua madrasta e avó, já que sua mãe entregou a sua guarda ao pai quando o artista tinha apenas 5 anos de idade.

Leonardo da Vinci passou a juventude na cidade de Florença, num período de grande excitação artística e cultural. Posteriormente, ainda viveu em Milão, Roma e, por último, na França

Apesar de todos acharem que “da Vinci” trata-se de seu sobrenome, isso não é real. Escolheu-se essa denominação devido ao vilarejo onde nasceu. Traduzindo para o português, seria algo como Leonardo da Vila da Vinci, que se resumiu em Leonardo da Vinci

Como era da Vinci?



Leonardo da Vinci

Relatos antigos apontam que Leonardo tinha cabelos louros, nariz aquilino e olhos azuis. Na biografia de da Vinci escrita por Walter Isaacson, o autor define o artista com a seguinte frase: “O maior gênio da história era filho ilegítimo, gay, vegetariano, canhoto, muito disperso e, às vezes, herético”. Isaacson também afirma que da Vinci era um grande ativista pelos animais, do tipo que faria inveja aos militantes de hoje.

Quando jovem, Leonardo da Vinci chamava atenção por ser dono de uma beleza física inigualável. É difícil conseguir visualizar todas essas características na imagem que conhecemos de da Vinci, já que a maioria das pinturas que o retratam são dele já mais velho.
Leonardo da Vinci morreu aos 67 anos, em 2 de maio de 1519, em Cloux, na França. Foi enterrado na igreja de Saint-Florentin, em Amboise.

Um artista completo

Engana-se quem acredita que da Vinci seja chamado de gênio somente por conta de suas obras de arte. Seu talento ia muito além disso, sendo uma das figuras mais importantes do período conhecido como Renascimento, que foi um movimento artístico, científico e cultural ocorrido na Europa entre a Idade Média e a Idade Moderna, período compreendido entre os séculos XIV, XV e XVI. 
Entre suas obras mais famosas e conhecidas estão “A última ceia” e “Mona Lisa”. Mas as suas criações não pararam por aí. Ele realizou inúmeros estudos no que diz respeito às mais diversas áreas, como arquiteturaengenharia civilMatemáticaesculturaóptica e até anatomia humana. Leonardo da Vinci possuía uma grande criatividade e a habilidade de unir arte e ciência em resultados e estudos incríveis. 
O artista tinha o hábito de registrar tudo em seus cadernos, desde rascunhos, pensamento, emoções  até outros tipos de reflexões. Algumas anotações eram escritas utilizando códigos e até de trás para frente.

Obras de Da Vinci

Da Vinci deixou um grande legado artístico, principalmente, no que diz respeito às suas obras. Criou técnicas que até então nunca tinham sido utilizadas e transformou o mundo das artes. Ele aperfeiçoou o uso do sombreamento, o chamado sfumato, em suas pinturas. 
Já na escultura, utilizava o uso da perspectiva para modelar objetos em superfícies bidimensionais e até tridimensionais. Nas artes plásticas, foi um dos primeiros italianos a usar a técnica de óleo sobre tela. Geralmente, retratava em suas pinturas temas religiosos.
Em sua trajetória como artista, da Vinci criou mais de 30 obras, contudo, nem todas foram concluídas, é o caso de “A adoração dos magos”, “São Jerônimo no deserto” e a “Batalha de Anghiari”. Inúmeros desenhos, esboços e páginas de notas foram encontradas após sua morte.
Catalogamos as principais obras de Leonardo da Vinci em ordem cronológica. Confira:
  • “Anunciação”: 1475-1480
  • “Adoração dos Magos”: 1481
  • “A última ceia”: 1498
  • “Mona Lisa ou La Gioconda”: 1503-1505
  • “A Virgem e o Menino com Santa Ana”: 1510
  • “São João Batista”: 1514

A Última Ceia

“A Última Ceia” é uma pintura sobre a parede do refeitório do Convento de Santa Maria Delle Grazie, em Milão, Itália, na qual Da Vinci utilizou a técnica de afresco mais comum, que era a de têmpera de ovo sobre reboco úmido. A pintura representa o momento bíblico em que Cristo compartilha sua última refeição com os discípulos.
Estudiosos de Da Vinci afirmam que o momento retratado é aquele em que Cristo afirmava "um de vós me há-de trair" e os discípulos estarão perguntando "Sou eu, Senhor?". A análise baseia-se na agitação dos apóstolos na pintura, por meio de gestos dramáticos e expressões que demonstram apreensão e inquietação. Essa obra de Leonardo da Vinci tornou-se a marca registrada do artista.

A Última Ceia

“A Última Ceia”, uma das mais importantes de Da Vinci. ***


“A Última Ceia” também é vista com uma perfeita simetria em sua composição, já que distribui os 12 apóstolos em quatro grupos de tríades e Cristo como o elemento central. Traçando duas diagonais, teremos como ponto de intersecção a fronte de Cristo, centro e ponto de fuga da composição, para onde todo o movimento é convergido.

“Mona Lisa”

“Mona Lisa” ou “La Gioconda” é um quadro feito por da Vinci e está entre os mais famosos e populares do mundo. Trata-se de uma pintura em óleo sobre madeira de álamo feita utilizando a técnica do sfumato. Retrata a figura de uma mulher com um sorriso tímido e expressão introspectiva. Atualmente, está exposta no Museu do Louvre, em Paris, França.
Mona Lisa

O quadro de Mona Lisa está exposto
no Museu do Louvre, em Paris


Apesar de seu rosto ser um dos mais reconhecidos da história, a identidade da modelo que posou para Leonardo da Vinci continua sendo um dos maiores mistérios da obra. Há várias teorias sobre quem tenha sido, mas três parecem ser mais relevantes e de credibilidade, sendo transmitidas ao longo da história

primeira teoria e tida como a mais provável, por Giorgio Vasari e outras evidências, é que a moça retratada é Lisa del Giocondo, esposa de Francesco del Giocondo, figura importante da sociedade de Florença. Estudiosos afirmam existir documentos que fazem menção a Leonardo pintando um quadro de Lisa.
A segunda hipótese é de que se trata de Isabel de Aragão, a duquesa de Milão. Retratos da duquesa comparadas ao da modelo Mona Lisa revelam existir semelhanças claras entre ambas.
E a terceira e última hipótese, bem mais polêmica, é de que a figura  representada no quadro trata-se do próprio Leonardo da Vinci vestindo roupas femininas. Essa teoria tem sido apontada baseada nas semelhanças entre a modelo de “Mona Lisa” e os autorretratos que da Vinci pintou. 

Física, Natureza e Anatomia

Leonardo também era inventor e cientista. Entre os rascunhos de seus cadernos, também estavam os seus desenhos. Muitos deles contribuíram para estudos no ramo da Física
Havia anotações que mostravam desenhos de espelhos côncavos que concentrariam raios de luz a partir de diversos ângulos, ajudando a entender mais sobre o funcionamento da Óptica. Teoremas iniciais referentes à inércia, à força e à ação/reação também foram encontrados entre os rascunhos do artista.

O Homem Vitruviano
O Homem Vitruviano é um dos desenhos mais
conhecidos de Leonardo da Vinci e perfeito quanto
à simetria do corpo humano. ***** 

Apaixonado pela natureza e tudo que a envolvia, afirmava que o bom artista também deveria ser um bom cientista para melhor compreender e descrever a natureza. Ele também estudava ações até então não despertadas pela curiosidade de outras pessoas, como a funcionalidade dos moinhos, e de que forma acontece o voo de pássaros.
Não há como deixar de destacar a sua curiosidade pela anatomia humana e toda a sua funcionalidade. Relatos apontam que da Vinci chegava a ficar noites inteiras em hospitais a fim de saber como era a funcionalidade do corpo. Dessas observações, passava para o papel por meio de desenhos de partes do corpo humano e seus detalhes de estudos de observação.




Sua famosa obra “O Homem Vitruviano”, de 1492, é uma ilustração que conta com um desenho de uma figura humana com proporções perfeitas, com os braços e as pernas estendidos dentro de um círculo e de um quadrado. Ela foi inspirada em uma célebre passagem do arquiteto romano Vitruvius.

Curiosidades de da Vinci

Leonardo da Vinci, além de artista, possuía outras inúmeras habilidades nas mais diversas áreas. Mas há também alguns fatos curiosos sobre a sua vida em meio a tanto talento e inteligência.
O artista foi o responsável por um grande número de invenções a frente do seu tempo e que depois de muitos anos (e séculos) é que tomaram forma propriamente dita, passando por alguns ajustes. Entre os itens estão um modelo de paraquedas, asa-delta, tanques blindados, escavadeiras, robô, aparelho para mergulho submarino e até uma ponte giratória. Da Vinci até tentou desenvolver a primeira máquina que voava com homens, em 1498.

Desenhos dos protótipos e invenções de Leonardo da Vinci.******

A biografia escrita por Walter Isaacson vai virar filme. Da Vinci será interpretado nos cinemas pelo seu xará Leonardo DiCaprio. Uma curiosidade sobre o ator é que seu nome foi inspirado, justamente, no artista italiano.


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Leonardo da Vinci.*




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 LEONARDO DA VINCI
BIOGRAFIA 

Por:   Walter Isaacson
Veja vídeo de  Tatiana Feltrin
 comentando magnificamente esta obra: 



AS FÉRIAS DE RAQUEL - Ledice Pereira



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AS FÉRIAS DE RAQUEL
Ledice Pereira



A ESTRADA vazia, com aquelas retas intermináveis, provocava sono em Raquel.

Gostava de se aventurar por novos caminhos em busca de paisagens diferentes, não importava a DISTÂNCIA.

Aqueles poucos dias de descanso, vinham sendo aguardados por ela ansiosamente, apesar de Marcos, preocupado, tentar fazê-la desistir da ideia de ir sozinha para tão longe.  

Estava dirigindo já há cinco horas e o sol do meio dia batia de frente, atrapalhando-lhe a visão.

Era hora de dar uma parada, tomar um café, esticar as pernas, ir ao banheiro, recobrar forças.

Pra variar, havia fila no banheiro feminino. Um ônibus de excursão acabara de estacionar.

Aproveitou para se pentear, retocou o batom enquanto aguardava a vez.

Vagou pelo enorme restaurante, procurando algo que lhe apetecesse. Achou as porções muito grandes. Não tinha vontade de almoçar. Costumava comer mais tarde. Pediu um café, um pão de queijo, sentou-se em uma pequena mesa, procurou na bolsa o celular, buscando algum recado.

Desconfiou estar sendo observada. Disfarçou. Passou novamente os olhos pelo aparelho para ver se tinha deixado escapar alguma mensagem. Nada.

Aqueles olhos penetrantes, atrás do JORNAL parcialmente aberto, continuavam a olhá-la insistentemente. Estava incomodada. Levantou-se bruscamente, dirigindo-se ao caixa.

Viu-se seguida.

Sentiu um calafrio. As MÃOS suavam geladas.

Foi em direção ao carro, mas parou como se tivesse esquecido algo. Fez menção de voltar. Deu de cara com o dono daquele OLHAR persistente. Ele sorriu. Um sorriso gélido, sarcástico.

Ela se dirigiu a um grupo que se reunia à frente do ônibus.

Ele a seguiu. Parecia fazer parte do grupo.

Correu os olhos pelo JARDIM, pensando no que fazer, para onde correr.

O homem parecia se divertir.

Ligou para Marcos. O namorado sempre tinha boas soluções.
Caixa Postal. Deixou recado para ele ligar assim que pudesse.

Estava apavorada.

Voltou ao restaurante. Ali havia muita gente. Estaria mais protegida. Talvez conseguisse despistar seu algoz.
Um dos garçons percebeu que alguma coisa estava errada.

Perguntou-lhe se precisava de algo.

Ela contou que alguém a estava seguindo. Ele não teve dúvidas, tirou o celular do bolso e discou. Tinha amigos no posto de polícia perto dali. Pediu reforço policial.

Em minutos, um carro de polícia estacionou no pátio.

Raquel não viu mais o ônibus ali estacionado, o que não garantia que o homem tivesse embarcado nele.

Abordada pelos homens da viatura, explicou, nervosa, o que havia acontecido.

Por sua descrição, soube que havia várias reclamações como aquela. O homem era procurado. Atacava mulheres sozinhas. Usava de crueldade. Ela fizera bem em voltar ao restaurante.

O modus operandi do sujeito era sempre o mesmo. Fazia-se passar por integrante de um grupo de turismo, mas vivia nos arredores. Devia esconder-se em algum casebre por ali.

Escoltaram-na até a primeira cidadezinha. Foram muito atenciosos. Aguardaram, inclusive, que ela se acalmasse. Recomendaram que dormisse ali para continuar a viagem no dia seguinte.

Foi o que Raquel fez.

Parou na primeira pousada. O lugar era agradável e limpo. Quando Marcos retornou sua ligação, ela contou o que tinha acontecido. Ele, preocupado, disse que estava indo encontrá-la, embora ela tentasse convencê-lo de que não seria preciso.

Marcos chegou de ônibus, por volta das nove e meia da noite. Ela o abraçou fortemente. A presença dele a tranquilizava. Com seu jeitinho, ela havia conseguido que o dono do lugar servisse o jantar fora do horário habitual.

Custou a dormir, ficou agarrada a Marcos a noite inteira, tendo um sono agitado.

 Na manhã seguinte, ao descerem para o café da manhã, ela estancou.

O homem estava ali. Olhou-a com aquele sorriso debochado, medindo-a dos pés à cabeça. Estava acompanhado de uma linda jovem que devorava todas aquelas guloseimas como se não comesse há vários dias.

Nem as delícias ali dispostas atraíram Raquel. Tremendo, agarrou-se em Marcos, que nada entendeu, puxando-o para irem embora.

Só quando já estavam perto do Posto Policial, ela contou ao namorado porque saíra dali tão de repente, desistindo de continuar sua viagem.

O rapaz fez questão de parar e avisar os policiais onde deveriam encontrar o meliante.

 A viatura saiu imediatamente em direção à pousada.

Lá chegando, encontrou o dono do lugar desesperado, tentando ligar para o serviço de ambulância local. Não sabia explicar o que havia acontecido. Dirigiu-se à cozinha para atender a um pedido do cliente, quando um grito o fez voltar à saleta de refeições. A jovem jazia no chão perto da mesa. O sujeito havia sumido.

Os paramédicos, ao chegar, constataram que a moça parecia ter sido vítima de uma tentativa de estrangulamento. Havia manchas no pescoço. Entretanto, o coração batia, ainda que lentamente.

Levaram-na para o hospital mais próximo.

Ao chegar a São Paulo, Raquel ligou para a pousada e ficou sabendo do acontecido. Um tremor tomou conta de todo seu corpo. Havia escapado por pouco.








Personagens e a globalização - José Vicente J. Camargo





Personagens e a globalização
José Vicente J. Camargo



Sempre gostei de observar Personagens!

Para onde vou, ou estou, procuro analisá-las atentamente, A expressão facial, os olhos se miram algo, porte físico, alguma deficiência, trejeito? As mãos – delicadas, ásperas? Corte do cabelo – curto encaracolado ou comprido liso? Seu traje – surrado, na moda, limpo ou sujo? O gênero, cor e raça complementam a inspeção que minha memória deposita no subconsciente para um dia busca-la quando necessário.

Essa atração por personagens utilizei em várias ocasiões quando fiz, recentemente, uma viagem ao nordeste brasileiro – rico em tipos característicos próprios. Entre as tantas que analisei, um grupo me chamou a atenção, não só pelo contraste entre seus figurantes, como também a importância da revolução tecnológica da comunicação – a globalização trouxe na aproximação dos seres humanos de diferentes partes do mundo deixando-os mais sensíveis, mais receptivos uns com os outros.

É conhecido o caráter hospitaleiro e prestativo do nordestino. Essa característica as senti num dos hotéis em que me hospedei, no café da manhã, servido no restaurante “pé na areia” aberto ao mar verde esmeralda com a brisa refrescante massageando o rosto. Mal entrei, me rodearam os garçons – todos jovens de bermudas, camisetas e havaianas me cumprimentando com a mão estendida, tapinhas nas costas, largo sorriso me mostrando as mesas expostas de frutas, jugos, queijos, frios e demais guloseimas que certamente não pertencem ao cardápio familiar de seus humildes lares. Enquanto me apresentavam o menu matinal iam me perguntando se passei bem a noite, qual passeio do dia pretendia fazer, quantas cadeiras e guarda-sóis de praia queria que reservassem, se a esposa estava bem que horas viria para o café e demais perguntas e gentilezas nunca antes tivera presenciado nesta viagem.  Depois, um me acompanhou à mesa, outro a cobria de pratinhos com os quitutes selecionados e outro me trazia o café com leite fumegante conforme pedido. Para finalizar, apresentavam-se com seus nomes: Sou Raul, às suas ordens; sou Antônio, ao seu dispor; sou Messias, se precisar de algo é só chamar...

Enquanto degustava o café, continuava na minha observação do vaivém dos garçons e suas referências gentilezas para com os hóspedes num hotel de um pequeno povoado turístico banhado por mar, praias e lagoas paradisíacas. Sendo a economia local baseada unicamente no turismo, e o desemprego grande, o potencial já empregado, se aprimorava para a conservação do mesmo.

O clímax da minha observação se deu, quando, entram no restaurante duas senhoras de peso e altura acima do normal que, de imediato as rotulei como europeias, dado à pele alva já avermelhada pelo sol, trajando vestidos leves de cores tropicais, chapéus de abas largas, óculos escuros e o indispensável lencinho perfumado de secar o suor indesejável. Uma delas, a mais velha e menos gorda, se apoiava em uma bengala pois era manca de uma das pernas. A outra, beirando os cinquenta anos, vestia um conjunto de praia que deixava visualizar a flacidez das gorduras comprimidas pelo maiô apertado. Mas ambas demonstravam um semblante de felicidade com certa superioridade tal qual misses entrando na passarela para vencer. O brilho de seus olhos competia com os do sol e suas pálpebras piscavam como as asas das borboletas que pousavam nas frutas maduras. Seus narizes perfilados acima lembravam os das belezas gregas. A cena transmitia a quem a visse, um ar de harmonia e paz lembrando a “incrível leveza do ser”. O motivo de tal encenação se deixa explicar, quando os garçons, ao vê-las, correm a rodeá-las dando em cada uma um abraço com um beijinho em cada face. Dado a falta de reação delas para ato tão incomum – impossível de acontecer em seu país de origem − avaliei que não era o primeiro café da manhã que curtiam no restaurante. Seguindo a praxe, os jovens serviçais se desdobram para atende-las, principalmente a manca. A sentam em cadeira confortável e a carregam para debaixo de um frondoso chapéu-de-sol seguida pela companheira em ligeiros passinhos na ponta do pé e pela fila de bandejas repletas de pratinhos, copos e xicaras contendo as solicitações do bufê:

− Eu sou o Raul, às suas ordens
 Obrigada, obrigada!
− Eu sou o Antonio, ao seu dispor
Obrigada, obrigada!
− Sou Messias, se precisar de algo é só avisar
Obrigada, obrigada!

Após o café da manhã, as carregam para as cadeiras de repouso estendidas na praia sob coqueiros verdejantes. Ao passarem por mim, com semblantes sorridentes, me lembram as odaliscas carregadas em macas douradas nos tempos dos faraós.

Não sei quantos dias ficaram no hotel, só descobri que eram francesas e de português só sabiam o básico “Bom dia e Obrigada”. O diálogo entre as partes se dava por mímica acompanhada de alegres sorrisos e olhares. Este grupo de personagens me marcou dado ao seu contraste. As duas senhoras se olvidaram por alguns dias dos bullyngs que provavelmente sofrem desde a infância dado ao defeito físico e ao excesso de peso. Ali, no hotel, passaram dias cortejadas com abraços, beijinhos e gentilezas que nos países nórdicos não é, nem de longe, um costume. Os jovens sentiram orgulho por terem seus serviços reconhecidos com tantos “obrigada, obrigada!”, coisa que para muitos hóspedes passa indiferente.

Esse exemplo de valorização pessoal, de confraternização de diferentes povos é um de muitos benefícios que nos trouxe a globalização...



Peru ou bacalhoada? - José Vicente Camargo





Peru ou bacalhoada?

José Vicente Camargo



Era uma manhã de segunda-feira de primavera. O ar estava fresco após a chuva fina da madrugada. O sol prometia esquentar aquele céu azul de brigadeiro que nos dá mais ânimo pra enfrentar as preocupações do momento. Tinha acabado de voltar de uma viagem de férias e hoje seria o primeiro dia do “conta-conta como foi” no escritório.  Ao emergir da escada do metrô direto na calçada da avenida, levo um susto. Como, já chegou?
As árvores dos canteiros já estavam embrulhadas em luzes de Natal. Simultaneamente, percebo que as vitrines das lojas que também estão recebendo os primeiros retoques natalinos: “o tempo corre, não dá tempo nem pra arquivar as fotos da festa do ano passado e lá vem o Natal, e com ele as indecisões chatas de sempre, onde e com quem passar, arrumar tempo pra compra dos presentes, dar qual presente pra quem e a principal que é – o que preparar para a ceia ”

Para esclarecer essas dúvidas serão dias de discussão com a família, pais, parentes e amigos. Até por tudo num único saco, leva tempo e muito palavreado. Mesmo assim, no final, tem sempre alguém que reclama e se diz prejudicado.

Me recordo do “vaivém” do ano passado, se fazia churrasco no puxadinho de fora ou pernil na mesa da sala. A maioria foi pelo churrasco, mas os idosos se queixaram do sereno da noite e que no próximo ano iriam querer voltar ao conforto da sala com um prato mais leve para a digestão noturna como peito de peru ou bacalhau ao forno.

Com esses pensamentos complicados, chego ao escritório e, como esperava, sou cercado de perguntas sobre como passei as férias, se isso, se aquilo, se tenho dicas para dar, etc. Eu resumo o máximo possível ao mesmo tempo em que procuro saber das novidades no trabalho.

Por aqui tudo em ordem, nada de novo, me dizem os colegas. A não ser o sorteio que faremos com o resto do dinheiro que sobrou do bolão que organizamos para o “vencedor do brasileirão”. Como participante do bolão, seu nome tá na lista do sorteio. A prenda é surpresa da colega Marilu, ela que deu a ideia, escolheu a prenda e é quem vai sortear o nome do ganhador.

Após essa recepção, vejo na minha mesa várias pastas para analisar, corrigir e encaminhar ao Diretor para aprovação. Portanto, sem perda de tempo, mergulho no trabalho de corpo e alma deletando outros pensamentos e assim continuo nas próximas semanas. Porém, com a aproximação do Natal, me assaltam novamente as dúvidas sobre os preparativos para a festa do Menino Redentor. O local e convidados a família já definiu, mas falta a cereja do bolo: o que servir de prato principal? Uns, mais jovens, querem churrasco novamente, os mais velhos optam por peru, talvez um tender, ou um bacalhau light... E eu fico, como nos anos anteriores, na encruzilhada levando broncas e reclamações quando algo sai errado no cardápio escolhido. Este ano, penso em  delegar essa função a outra pessoa, quem sabe ao meu irmão mais velho? Minha esposa há anos já definiu a parte dela: comprar os ingredientes para o preparo da ceia e os enfeites da mesa.

Dias depois chego ao escritório mais tarde depois de uma visita a um cliente e encontro o ambiente em reboliço:     
                                                                                                                                                                                                                                                                        – Hoje cedo fizemos o sorteio do bolão, diz Marilu. Sobre sua mesa tem uma carta que Papai Noel deixou:

Abre! Abre! Gritam todos na sala. Marilu continua:

− Você foi o sorteado! No envelope está o local, dia e hora para a retirada da prenda.

Abre! Abre!

Abro o envelope, tiro um “voucher” e leio:

Você foi agraciado com um “Cruzeiro Natalino all included” para duas pessoas, retirar na agência etc, etc...”

Sou abraçado pelos colegas pela sorte que tenho, mas depois, no metro de volta a casa, fica uma frustação:

Natal sem a família completa, sem filhos, pais, será que nos perdoarão?
Vou deixar a esposa decidir! Por mim daria a Marilu a viagem de navio assim fico com pontos positivos para quando a convidar para um almoço no motel da avenida e eu continuo com água na boca para que a minha sugestão para o prato da ceia seja a escolhida:
“leitão pururuca... “