AS FÉRIAS DE RAQUEL - Ledice Pereira



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AS FÉRIAS DE RAQUEL
Ledice Pereira



A ESTRADA vazia, com aquelas retas intermináveis, provocava sono em Raquel.

Gostava de se aventurar por novos caminhos em busca de paisagens diferentes, não importava a DISTÂNCIA.

Aqueles poucos dias de descanso, vinham sendo aguardados por ela ansiosamente, apesar de Marcos, preocupado, tentar fazê-la desistir da ideia de ir sozinha para tão longe.  

Estava dirigindo já há cinco horas e o sol do meio dia batia de frente, atrapalhando-lhe a visão.

Era hora de dar uma parada, tomar um café, esticar as pernas, ir ao banheiro, recobrar forças.

Pra variar, havia fila no banheiro feminino. Um ônibus de excursão acabara de estacionar.

Aproveitou para se pentear, retocou o batom enquanto aguardava a vez.

Vagou pelo enorme restaurante, procurando algo que lhe apetecesse. Achou as porções muito grandes. Não tinha vontade de almoçar. Costumava comer mais tarde. Pediu um café, um pão de queijo, sentou-se em uma pequena mesa, procurou na bolsa o celular, buscando algum recado.

Desconfiou estar sendo observada. Disfarçou. Passou novamente os olhos pelo aparelho para ver se tinha deixado escapar alguma mensagem. Nada.

Aqueles olhos penetrantes, atrás do JORNAL parcialmente aberto, continuavam a olhá-la insistentemente. Estava incomodada. Levantou-se bruscamente, dirigindo-se ao caixa.

Viu-se seguida.

Sentiu um calafrio. As MÃOS suavam geladas.

Foi em direção ao carro, mas parou como se tivesse esquecido algo. Fez menção de voltar. Deu de cara com o dono daquele OLHAR persistente. Ele sorriu. Um sorriso gélido, sarcástico.

Ela se dirigiu a um grupo que se reunia à frente do ônibus.

Ele a seguiu. Parecia fazer parte do grupo.

Correu os olhos pelo JARDIM, pensando no que fazer, para onde correr.

O homem parecia se divertir.

Ligou para Marcos. O namorado sempre tinha boas soluções.
Caixa Postal. Deixou recado para ele ligar assim que pudesse.

Estava apavorada.

Voltou ao restaurante. Ali havia muita gente. Estaria mais protegida. Talvez conseguisse despistar seu algoz.
Um dos garçons percebeu que alguma coisa estava errada.

Perguntou-lhe se precisava de algo.

Ela contou que alguém a estava seguindo. Ele não teve dúvidas, tirou o celular do bolso e discou. Tinha amigos no posto de polícia perto dali. Pediu reforço policial.

Em minutos, um carro de polícia estacionou no pátio.

Raquel não viu mais o ônibus ali estacionado, o que não garantia que o homem tivesse embarcado nele.

Abordada pelos homens da viatura, explicou, nervosa, o que havia acontecido.

Por sua descrição, soube que havia várias reclamações como aquela. O homem era procurado. Atacava mulheres sozinhas. Usava de crueldade. Ela fizera bem em voltar ao restaurante.

O modus operandi do sujeito era sempre o mesmo. Fazia-se passar por integrante de um grupo de turismo, mas vivia nos arredores. Devia esconder-se em algum casebre por ali.

Escoltaram-na até a primeira cidadezinha. Foram muito atenciosos. Aguardaram, inclusive, que ela se acalmasse. Recomendaram que dormisse ali para continuar a viagem no dia seguinte.

Foi o que Raquel fez.

Parou na primeira pousada. O lugar era agradável e limpo. Quando Marcos retornou sua ligação, ela contou o que tinha acontecido. Ele, preocupado, disse que estava indo encontrá-la, embora ela tentasse convencê-lo de que não seria preciso.

Marcos chegou de ônibus, por volta das nove e meia da noite. Ela o abraçou fortemente. A presença dele a tranquilizava. Com seu jeitinho, ela havia conseguido que o dono do lugar servisse o jantar fora do horário habitual.

Custou a dormir, ficou agarrada a Marcos a noite inteira, tendo um sono agitado.

 Na manhã seguinte, ao descerem para o café da manhã, ela estancou.

O homem estava ali. Olhou-a com aquele sorriso debochado, medindo-a dos pés à cabeça. Estava acompanhado de uma linda jovem que devorava todas aquelas guloseimas como se não comesse há vários dias.

Nem as delícias ali dispostas atraíram Raquel. Tremendo, agarrou-se em Marcos, que nada entendeu, puxando-o para irem embora.

Só quando já estavam perto do Posto Policial, ela contou ao namorado porque saíra dali tão de repente, desistindo de continuar sua viagem.

O rapaz fez questão de parar e avisar os policiais onde deveriam encontrar o meliante.

 A viatura saiu imediatamente em direção à pousada.

Lá chegando, encontrou o dono do lugar desesperado, tentando ligar para o serviço de ambulância local. Não sabia explicar o que havia acontecido. Dirigiu-se à cozinha para atender a um pedido do cliente, quando um grito o fez voltar à saleta de refeições. A jovem jazia no chão perto da mesa. O sujeito havia sumido.

Os paramédicos, ao chegar, constataram que a moça parecia ter sido vítima de uma tentativa de estrangulamento. Havia manchas no pescoço. Entretanto, o coração batia, ainda que lentamente.

Levaram-na para o hospital mais próximo.

Ao chegar a São Paulo, Raquel ligou para a pousada e ficou sabendo do acontecido. Um tremor tomou conta de todo seu corpo. Havia escapado por pouco.








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