A melhor pizza da cidade - Antonia Marchesin Gonçalves

 


A melhor pizza da cidade

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                        Na recente viagem que fiz para Atlanta e Miami (USA), alguns fatos pitorescos aconteceram. Em Atlanta, após os maridos terem tido reuniões de negócios. Eles chegaram no fim da tarde e com fome combinamos com outro casal, irmos a, segundo indicação, jantarmos na melhor pizza da cidade.

 

                        Chamamos o Uber, o motorista, um rapaz novo que nos levou à tal pizzaria. Ao chegarmos, descobrimos que estava fechada, tentamos convencer o motorista a nos levar de volta para o hotel, o qual não concordou nos deixando na calçada numa rua deserta. Chamamos um novo carro que nos levou na segunda opção de pizzaria, também indicada como a melhor. O local parecia um galpão e era enorme com mesas compridas, eram mesas comunitárias.

 

                        Achamos uma mesa de seis, era a menor, nos sentamos à espera do garçom ou garçonete para fazer o pedido, não tinha. Os pedidos eram feitos nos caixas, a bebida nos servíamos e não tinha nem talheres e pratos, mas rolos de toalha de papel. A pizza tinha que ser comida com as mãos e as mesas altas e os bancos para sentar também, ficando com as pernas que não tocavam no chão.  Levamos na esportiva não era ruim, mas não dá para comparar com a nossa. Satisfeitos chamamos o novo Uber, um carro médio guiado por uma mulher.

 

                        Ao entrarmos vimos que o banco do motorista totalmente para trás, mal cabendo nos três. Ela era grande em todos os sentidos, o peito enorme emendando com o abdome em cima da direção, por isso o banco tão atrás, a mãos não seguravam com os dedos envolvendo a direção tamanho cumprimento das unhas em formato de garras. Guiava com os braços totalmente esticados entre o peito e a direção. Voltamos em silêncio até chegarmos no hotel, quando descemos entramos e desatamos a rir muito da nossa aventura.

Mudanças forçadas - Antonia Marchesin Gonçalves

 




Mudanças forçadas

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                        Mudanças em geral não são bem aceitas pela maioria das pessoas, muito pior quando são impostas contra a vontade dos cidadãos, como na cidade de Petrolândia. Ela estava localizada às margens do Rio São Francisco. O seu centro e todo povoado foram alagados para a construção da Usina Hidroelétrica de Itaparica.

 

                        Os ribeirinhos como são chamados tinham o rio como meio de sobrevivência, isto é, através da pesca que tinham o seu pão de cada dia. Era o caso da família de Isadora, filha caçula de quatro irmãos homens e ela única mulher. Os dois mais velhos já casados, todos pescadores, ela era a única a estudar e queria continuar a estudar, com os seus catorze anos já cursava a nona série e o sonho dela era fazer a faculdade de pedagogia.

 

                        Com a mudança de Petrolândia a chance dela seria maior em continuar os estudos, no fundo do coração ela ficava dividida, sabia que a família sofreria com as consequências da mudança, mas não tiveram escolhas. Realmente o recomeço foi difícil, a nova cidade não ficava longe do rio, mas tinha mais estrutura e com isso todos se adaptaram, principalmente Isadora que conseguiu completar os estudos e agora está prestando o vestibular para a tão sonhada pedagogia, realizar o seu sonho de ensinar os seus conterrâneos.


Nova Petrolândia - Yara Mourão

 




Nova Petrolândia

Yara Mourão

 

Construção de personagem

 

Alzira já tinha dois meninos correndo pela casa e um na barriga que a cada dia ficava maior. Ela também tinha essa agitação, pois trabalhava do nascer do sol ao fim do dia auxiliando o marido Nestor. Ele, pescador a vida toda, trazia quilos de peixe para Alzira limpar todos os dias. Ela já tinha muita prática; era rápida, um olho nos peixes, outro nos meninos. Cantarolava canções de mar, de ninar, se adoçava ao ver tudo feito, limpo, posto no gelo para vender à beira do rio. Aos clientes, mãos turistas, sempre tinha um sorriso de quem gosta do que faz. Amava sua casinha às margens do grande rio. Conhecia bem os ruídos das águas, sua cor, sua correnteza. Para Alzira ali era sua terra, suas águas, seu lugar de ser. Entretanto, aquele dia nasceu diferente.

 

NOVA PETROLÂNDIA

 

No meio daquela tarde, Alzira pegou o caminho de terra batida e foi a pé até a beira da estrada. Parou, olhando calmamente para um lado e outro. Viu o rasgo cinzento do asfalto cortando impiedoso o chão barrento; viu a desolação das margens vazias de casas, de plantas, dos bichos que conhecia. E pensou nas águas que viriam até quase à beira desse caminho inóspito, afogando toda uma vida de construção e luta.

 

Ela andou mais um pouco, sacudindo a cabeça para limpar os pensamentos. Chegou junto a um casebre na beira da estrada. Um casebre, pensou, pode ser outra coisa. Imaginou ali uma casa, com uma cama grande para os meninos, um fogão para ela, uma mesa na porta para dar de comer a quem passasse… Alzira não esperou nem seu sonho terminar. Entrou. Falou das águas que viriam; disse que sabia fazer comida boa, que os meninos tinham de crescer e aprender a trabalhar.

 

Acertaram um combinado: cada um dava o que tinha. Alzira acertou a data para chegar com tudo e todos. Nestor carregou nos braços os pertences poucos, ouvindo e seguindo a mulher. Ele se animou quando ela disse que o mundo podia acabar em água ou em fogo, e que sendo em água era melhor, dava pra secar; se fosse em fogo tudo seria consumido.

 

Assim, viram chegar a enchente cobrindo seu lugar, sua terra, sua plantação. Viram o chão sumir e as águas tomarem o lugar de tudo, cobrindo as casas, a igreja, as árvores.

 

Alzira suspirou da janela de seu pequeno restaurante; mas logo voltou à cozinha, aos peixes, às panelas, que já era hora de servir aos viajantes que passavam. Era bom, pensou, ver tanta gente seguindo a estrada para o resto do mundo.

 

Um dia, quem sabe, teria que ir também.  Mas ela seria como a água, que cabe em qualquer vaso, e se amolda ao seu leito, enquanto é rio, mas que se extravasa pelo mundo, enquanto é mar.

 

 

Um dia você também aprende. - Yara Mourão




 Um dia você também aprende.

Yara Mourão

 

Não há dúvida de que a vida é um aprendizado constante.

Mas há um final, e um dia você chega lá. Sem pódio, sem medalha. É que o prêmio a gente ganha bem antes, na semente da vida, na nascente do rio cuja força garante a cachoeira.

Quando seu caminho é iluminado, seu brilho se espalha e transcende, atinge profundezas, alturas e distâncias.

Quando a sombra se insinua e a dor nasce e a alma sangra, chegou a hora de seu coração se aquietar e seu espírito definir caminhos. Quase sempre sabemos os caminhos, ainda que os evitemos.

Mas há que aprender a amar. E a luz que o amor acenda não permita que se apague inutilmente. Essa é a tarefa que há de nos consumir por toda a trajetória.

Você tem que aprender depressa para ensinar a quem vem vindo: o pequeno, o perdido nos caminhos, o incrédulo, o velho, o descrente. Ensinar o essencial: a vida é só uma passagem, mágica e misteriosa, rápida ou curta, mas sempre uma aula que Deus nos dá.

UM DIA VOCÊ TAMBÉM APRENDE. - Antonia Marchesin Gonçalves

 



UM DIA VOCÊ TAMBÉM APRENDE.

Antonia Marchesin Gonçalves

                       

                        Tudo passa, é o conselho que você houve quando no desabafo de um problema, que naquele momento te aflige, o teu ouvinte te diz. Um dia você também aprende que os amigos não querem lamentos seus e sim o que você durante a vida em comum retribuirá em consideração pela amizade que recebes. Ao me encontrar com três amigas quando me perguntaram como eu estava, comentei sobre a pequena cirurgia que tive que fazer, na mesma hora uma dela se afastou dizendo que não queria saber de doença.

                        Fiquei surpresa e senti decepção com ela, pois a via como calma, sempre pronta a ouvir e dar os seus conselhos, com sorriso no rosto. Aprendi com essa atitude que não temos que julgar aquele momento de impaciência dela, pois a qualquer momento posso ter a mesma atitude ou ser julgada até por tentar ajudar e ser considerada intrometida.

                        O mundo não para, ouvir os teus lamentos requer paciência e tempo, coisa difícil no mundo atual das pessoas. Como eu disse, tudo passa e se aprende que as decepções fazem parte do crescimento pessoal do indivíduo. Quando ouvia minha mãe se lamentar, se queixando de determinada situação desconfortável, me via impaciente e dando qualquer resposta para que logo a conversa mudasse e chego à conclusão que a mais dos meus pais em mim do que pensava.

                        Aprendi que com a maturidade vem a paciência e sabedoria, através das suas experiências e que muitos não chegam alcançar, pois a evolução de suas de vida, esses sentimentos não faziam parte. Mas aprendi também que sofrer injustiças de quem você mais crê que valorizariam tuas qualidades e amizade, muitas vezes são os que mais te magoam e até com certa crueldade, pois o íntimo de cada um ninguém conhece.

                       

                        Aprendi que existem mãos amigas, às vezes daqueles que menos se espera e que sempre temos os dois lados a serem ouvidos. Tudo passa, temos que ter a certeza do nosso valor, que nos retorna o que nela plantamos, novas conquistas nos fortalecendo o agora e o futuro que nos espera.

 

 

ESCREVIVER - AULA DE 05 DEZEMBRO 23 - CONTO DE MISTÉRIO E SUSPENSE

 







CONTO DE MISTÉRIO E SUSPENSE

 

A narrativa que envolve mistério e suspense é particularmente interessante por seus detalhes. O enredo deste gênero pode tratar de um crime, de uma traição...ou de terror.


O formato da linguagem é fundamental para criar suspense. Há expressões apropriadas para este gênero literário. Como exemplo, os advérbios fazendo parte da narrativa para emprestar um ar de “rotina quebrada” chamando o leitor para a história:

 

Subitamente

Inesperadamente

Repentinamente

Sorrateiramente

Bruscamente

Assustadoramente

Imprevisto



Perceba que, em sua maioria, são os advérbios de modo que ilustram a quebra do cotidiano das histórias de suspense.

 

O Conto de Mistério e Suspense obedece algumas “regras” para ter cheiro, sabor, formato e impacto de suspense:

 

- Quase não há diálogo nesse gênero. E quando há, é porque está sendo usado como dispositivo para criar implicações, mistérios e inferências. Muitas vezes as palavras ou frases são enigmáticas, o que favorece esse gênero literário, e ajudam a tornar o diálogo misterioso. No entanto, não se deve exagerar, tornando cada frase tão obscura que o leitor fique totalmente perdido.

 

- Quando se deseja que o texto tenha aspecto de relato pessoal em tom de confissão, cumplicidade, usa-se a primeira pessoa “Eu”. Esse método, utilizado por grandes escritores como Edgar Alan Poe, promove um ar de credibilidade ao que se conta, como se o narrador tivesse feito parte dos fatos. Há também a narrativa em terceira pessoa (observador ou onisciente: que tudo viu, tudo sabe e expõe pensamentos e sentimentos das personagens).

 

- Destacam-se adjetivos e os verbos de ações inusitadas.  Todo o texto bem combinado com boas metáforas.

 

- O suspense é criado pela interrupção da narrativa num momento culminante.

 

- Este gênero é guiado pelas vozes aflitas (terror), sussurros, gritos, segredos, códigos, chaves, murmúrios...

 

- Bom que haja diversas pistas: umas falsas e outras verdadeiras.

 

- Atentar para que a estrutura do texto responda a todas essas questões:

 

O QUÊ? – O (s) fato (s) que determina (m) a história;

QUEM? - O personagem ou personagens;

COMO? - O enredo, o modo como se costuram os fatos;

ONDE? - O lugar ou lugares da ocorrência

QUANDO? - O momento ou momentos em que se passam os fatos;

POR QUÊ? - A causa do acontecimento.

 

- O ambiente pode ser inicialmente claro e limpo, mas de repente fica desconfortável. Ouvem-se ruídos estranhos. Os 5 sentidos são aguçados, e precisam ser empregados no texto: ouvir gotejamentos, sussurros, passos, um objeto que cai, o vento zunindo que desloca um papel. Há de se ter desconfiança, curiosidade, em suma, o suspense tem que estar presente no texto.

 

- Use palavras, vocabulário específico para criar suspense: adjetivos expressivos, exagerados; advérbios de modo, de lugar, de tempo que acrescentem circunstâncias especiais às ações.

 

- Crie um desfecho inusitado, surpreendente.

 

 

PARA FAZER AGORA:



- História de suspense/investigativo.

Cenário de suspense NUM HOTEL DE LUXO. Uma camareira presenciou um crime, e reconhece o criminoso. Como, hoje em dia, todo mundo anda com celular e faz vídeo ou fotos de tudo que vê...

 

LIÇÃO DE CASA: Em casa com mais tempo, melhore sua história, dê a ela frases mais apropriadas, avalie se o texto entrega o que promete – suspense – segredo – medo – desconfiança – perseguição. Use a sinestesia, os 5 sentidos, as metáforas... RELEIA O TEXTO - Envie seu conto (não se preocupe com o tamanho dele, pois não será possível criar um texto curto com esse apelo). Trabalhe o enredo para culminar em um desfecho que surpreenda.