ÚLTIMA CARTA. - Yara Mourão

 



ÚLTIMA CARTA.

Yara Mourão.

 

Jade, envolta em seu xale enegrecido, começava a fazer parte da paisagem. Sempre sentada sobre as pedras em frente ao posto do correio, do outro lado da rua, onde havia, ainda, algumas casas de pé.

Ali ela passava muitas horas, como uma sombra imóvel, na desesperança que a saudade traz. Lentamente, a espera a consumia.

 O garoto do correio ia chegar com os pacotes em algum momento. Às vezes era o menino magrinho, outras vezes o homem de uniforme. Levantavam poeira e cinzas do chão com suas bicicletas com os pacotes da correspondência.

Jade havia enviado muitas cartas a Jonathan; para lugares e endereços tão estranhos, tão desconhecidos. Nem sabia se ele as recebia. Ela relatava fatos cotidianos, dava notícia dos filhos, da casa ainda de pé. Enviava mensagens de fé, de que um dia aquela guerra acabaria e tudo seria bom como antes.

Meses atrás, viera uma resposta: Ah! Ele estava bem, tinha recebido mantimentos e roupas de frio. A ferida na perna estava cicatrizando, logo estaria na ativa de novo!

Isso foi no início do outono, ainda. Agora, o inverno já instalado, Jade temia pela falta de notícias. Ela mandou dúzias de cartas e nenhuma resposta chegou. Sabia que os grupos se dispersavam, mudavam de cidades até. Talvez não fosse fácil achar um posto que coletasse a correspondência.

Quando anoitecia, Jade voltava para casa a passos lentos, fechada em seu silêncio, espantando, como podia, os pensamentos tristes de seu coração. Se dormisse, sonhava com Jonathan indo para tão longe, numa terra iluminada e florida, cheia de belezas! Acordava banhada em suor, trêmula. Não podia crer em ilusões.

As horas morriam sobre as horas e pela manhã ela se apressava para ir ao posto.

Um dia, o menino chegou cansado. Pousou o pequeno pacote sobre o balcão do posto e saiu lentamente. Acenou para Jade, quase um adeus.

Ela correu para o posto. Ah! Finalmente!

— Será que chegou algo para mim? – Perguntou.

O velho buscou entre os envelopes sujos.

— Sra. Jade?

— Sim, disse ela com voz embargada.

— Aqui está; sem remetente.

Ela nem se importou. Isso era um detalhe dispensável nas circunstâncias. Abriu a carta. Leu de um lance porque eram só quatro linhas.

A primeira falava da saída no jipe.

A segunda falava da coragem de Jonathan.

A terceira falava da bomba no carro.

A última falava que todos morreram.

Jade guardou a carta junto do peito, se enrolou no xale e voltou para casa a passos lentos, pois as crianças precisavam de comer e a vida tinha de continuar, já esquecia até por quê.

 

O Veredicto. - Silvia Villac Vicente de Carvalho.

  




O Veredicto.

Silvia Villac Vicente de Carvalho.

 

 

 

Alice estava consternada com o telefonema que acabara de receber do contador. Afinal de contas, a gerente trabalhava com ela já havia sete anos e, além da relação profissional, a considerava como parte da família e sua melhor amiga. Aliás, mais do que isso, a tinha como uma irmã e sabia tudo de sua vida pessoal!

 

E ali se encontrava ela com aquele envelope que iria definir como seria a vida administrativa de sua clínica daqui para frente. Antes de abri-lo, começou a passar um filme em sua cabeça, desde o início de carreira, atendendo inúmeros convênios, sublocando uma sala em um consultório, até o dia em que conheceu a futura gerente que chegou como paciente, pessoa humilde que logo se tornou sua amiga e, mais tarde, passou a ser sua funcionária. Juntas passaram por tantos “perrengues”, enfrentaram a pandemia, usaram de toda a criatividade para atrair novos pacientes, e, quando a médica começou a ser reconhecida por sua excelência, não se esqueceu da amiga e funcionária de luta e a promoveu, investindo em cursos e lhe oferecendo o que mais de moderno havia em cuidados com a pele e tratamentos de beleza.

 

Mas era preciso encarar a realidade dos fatos. Ela havia solicitado a auditoria e o resultado estava ali, em suas mãos. Serviu-se de um café, sentou-se, respirou fundo e, com as mãos trêmulas, rasgou o envelope para ver o tamanho do rombo. Já fazia mais de três anos que a gerente estava desviando dinheiro e, embora não fosse muito boa com números, com os olhos incrédulos e marejados, conseguiu enxergar vários vermelhos na relação.

 

Um misto de decepção, desânimo, tristeza, mágoa e raiva tomou conta dela e se pôs a chorar, copiosamente. Como é possível ser traída dessa maneira? E veio à mente a “pichação” que estava há mais de uma semana no muro na esquina da clínica: “O mundo está doente. Socorro! ”.



MEU SONHO NO ENVELOPE - Antonia Marchesin Gonçalves

                   


MEU SONHO NO ENVELOPE

Antonia Marchesin Gonçalves

 

             O ônibus está atrasado. Os clientes não me deixavam fechar a lanchonete, tudo está atrasado. Não acredito, justo hoje, que é o dia do correio passar. A minha vida depende dessa última carta, será tudo ou nada. Cheguei em casa quando o carteiro estava saindo, fui direto para a caixa e lá estava ela com o timbre que eu esperava, o da marinha. Minha mão tremia, resolvi esperar, subir e só abrir sentada no sofá.

             Até o elevador está parando de andar em andar, essas crianças que apertam todos os botões deviam seus pais pagar uma multa. Quando se está com pressa, vira um inferno essa demora. Entrei e sentei no sofá com o coração disparado, a mão tremendo, levantei o envelope para luz da lâmpada, nada vi. Li de novo o meu nome, virava de um lado para outro com medo de abrir e ler o conteúdo contendo negativa ao meu pedido.

             Virando o envelope, comecei a lembrar desde quando estou esperando essa carta. Veio na memória o dia em que vi o primeiro desfile das forças armadas, fiquei deslumbrada com a altivez dos soldados, a precisão dos passos acompanhando a banda. De todos, o que mais me surpreendeu foi ver mulheres desfilando e, em especial, as da marinha. Com seus uniformes brancos, divisas azuis e douradas, os quepes brancos com detalhes também azuis e dourados e de saias impecáveis.

             Foi ali que decidi ser uma delas, contei para a minha mãe que me respondeu: precisa estudar muito, fazer vestibular e ser selecionada, a concorrência é grande. Não desanimei, mais uma razão para me motivar a alcançar o meu sonho, que me parecia importante. Aqui estou eu com o envelope na mão, com medo de abrir e não conter a resposta esperada.

             Fui pegar o abridor de envelope, não queria arriscar rasgar a correspondência. Com todo cuidado, ao abrir, tirei a carta dobrada. Meu coração disparou. Contei até três e abri, a vista embaçou e li finalmente a palavra “ACEITA", com compromisso de me apresentar em uma semana.

             Feliz, beijei a carta que trouxe a notícia da realização do meu sonho.

A favorita - Adriana Frosoni

 


A favorita

Adriana Frosoni

 

No tempo em que São Paulo ainda era uma cidade envolta em ruas de terra e casarões coloniais, aqui viviam o Coronel José de Toledo e suas oito irmãs. Ana era a mais jovem, temporã; nem chegou a conhecer a mãe, que não resistiu ao parto. O pai também faleceu poucos anos depois. Como suas irmãs, ela era recatada, estudiosa e passava os finais de semana na chácara da família, um refúgio de tranquilidade às margens do rio Tietê.

Diferente das demais irmãs, que pareciam contentar-se com a vida de solteiras, Ana ansiava por algo mais. O seu coração sonhava com o amor e o casamento, com um lar e filhos, muitos filhos, correndo pelos campos da chácara.

Conhecida por sua beleza e graciosidade, com olhos vivos e sorriso discreto, Ana deixava-se levar pela imaginação, sonhando com um cavalheiro que a resgatasse da monotonia de sua vida cotidiana, assim como nos romances que lia compulsivamente. Seus gestos eram delicados, seu vocabulário, refinado, mas sua vontade de encontrar o amor verdadeiro, era forte e determinada. 

Um dia, durante um passeio com as irmãs, Ana viu um jovem rapaz, filho de um comerciante local. Seus olhares se cruzaram e algo se acendeu dentro dela. O rapaz correspondeu, foi gentil e cavalheiro, e logo os dois trocavam olhares intensos e demorados, não passando desapercebido pelas irmãs. 

O tempo passou e o contato entre eles se tornou mais frequente. Parecia que o jovem adivinhava por onde Ana passaria ou em que loja entraria, e lá estava ele para oferecer ajuda ao subir na carruagem, ou ao apanhar o lenço de cambraia de linho que ela insistia em derrubar quando passava por ele.

Ana estava apaixonada, e o jovem também parecia nutrir sentimentos por ela. Até que finalmente o rapaz dirigiu-se ao irmão da moça, o Coronel José de Toledo, e pediu permissão para cortejá-la.

O coração dela transbordava de felicidade, sabia que finalmente encontrara o amor que tanto desejava. O Coronel a preferia solteira, como as outras; caso contrário, almejava pessoa de família mais renomada e de posição mais elevada na sociedade. Portanto, negou o pedido, tentando fazer o rapaz desaparecer ao negar também o dote que a moça teria, por direito. Estratagema já usado anteriormente, com sucesso, contra os pretendentes das outras irmãs. 

Mas, desta vez, era tarde demais; o rapaz não desistiu, nem tampouco Ana. Ele estava disposto a abdicar do dote; e ela, da posição na sociedade. Mesmo correndo todos os riscos, começaram a se encontrar às escondidas. Tinham longas conversas e faziam passeios a cavalo pela chácara. 

Rosa, a irmã mais velha, até mais que o coronel, tratava a todos com instinto materno. Para a caçula, ela tinha um olhar de proteção ainda maior. Foi por isso que percebeu que não seria possível impedir o jovem casal de seguir com o namoro e temia que comentários maldosos manchassem a honra de Ana. Foi quando tomou coragem e cobrou pessoalmente que o Coronel desse a permissão e o dote para a menina se casar.

Quando questionada duramente pelo irmão sobre qual o interesse dela nesse assunto, a matrona, ao invés de baixar a cabeça como de costume, jogou sobre ele toda a desilusão que ela mesma sentia por estar sozinha numa idade avançada, sentindo-se incapaz de despertar o interesse de alguém. Lembrou-o de que a honra da irmã lhe custaria bem mais do que um dote, seria um vexame sem tamanho ter o nome da família jogado na lama. Além de que faria muito bem a todos se crianças começassem a fazer parte da família e animar a chácara aos finais de semana.

Rosa era a única pessoa que tinha autoridade para colocar aquele ranzinza em seu devido lugar, pois já havia até trocado as fraldas dele. O golpe final foi quando ela sugeriu que ele mesmo deveria arrumar uma esposa para si e sossegar, pois os inúmeros casos que tinha pela redondeza eram conhecidos por toda a família.

Envergonhado, pois achava que tinha sido absolutamente discreto até então, prometeu pensar para encerrar logo aquela audiência desconfortável. Além de se considerar um excelente e zeloso irmão, ele pensava ser suficientemente discreto com seus desavergonhamentos. Com receio do que poderia acontecer se Ana resolvesse fugir com o filho do comerciante, o Coronel resolveu ceder antes que essa história manchasse a honra de todas as mulheres de sua casa. E assim o fez.

O casamento foi celebrado na chácara e as sete irmãs estavam felizes por verem Ana realizando seu sonho. A caçula, que era a alegria da família, a mais querida e protegida de todas, tornou-se a primeira e única das oito irmãs a se casar e ter filhos.

 

 

O PROBLEMA NÃO SOU EU... - Ledice Pereira

 




O PROBLEMA NÃO SOU EU...

Ledice Pereira

 

– Pra mim chega! – Gritou Rodolfo, o mais alto que pôde – Quem ele pensa que é, pra me tratar assim? Só porque é o dono da empresa acha que pode tripudiar em cima de mim.

 Amanhã, sem falta vou resolver isso de uma vez por todas.

O ódio estava acabando com Rodolfo. Duas e meia da manhã e não conseguia dormir. Andava pela casa, de um lado para o outro, sentindo pulsar a veia do pescoço.

Resolveu fazer um chá. Sentiu falta da mãe que lhe preparava a bebida quente toda vez que ele tinha essa inquietação.

— Que falta ela me faz – pensou – era a única pessoa que me compreendia. Fiquei só, neste casarão. Meus irmãos nem se lembram que eu existo. Cada um na sua. Ninguém quer saber se estou vivo ou não, se tenho problemas, se minha saúde está boa.

Estou vivendo o pior momento da minha vida! Um chefe deveria ser uma espécie de pai, acolhedor. Esse imbecil não tem a mínima sensibilidade. Quer que eu faça em um dia, o que levo uma semana para realizar. O problema não sou eu, é ele. Amanhã vou despejar tudo em cima daquele velhaco. Se gostar, gostou. Não serei mais capacho de ninguém.

Depois de dormir apenas três horas, Rodolfo levantou-se, tomou um banho, fez um café que bebeu apressado, engoliu os costumeiros comprimidos e dirigiu-se para o trabalho. Tinha muito que fazer. Precisava agradar o chefe. Não podia perder aquele emprego que custara tanto a arranjar...

Intimamente, sentia uma insatisfação que foi se agigantando. Era uma questão de vida ou morte. Virou uma obsessão, precisava fazer alguma coisa. Aquilo passou a martelar em sua cabeça. Não tinha mais paz, não dormia mais, não se alimentava. Tinha uma ideia fixa, uma ideia de vingança que se não realizasse ficaria desmoralizado para sempre entre os colegas, a família, os poucos amigos que lhe restavam.

Então ele se preparou. Comprou a arma. Matriculou-se num clube de tiro. Treinou como um louco.  Aguardaria a chegada do chefe. Não deixaria rastros. Torturaria o homem até que o velho lhe pedisse perdão. Estariam só os dois.  

Pela janela, viu quando o carro entrou no estacionamento do prédio. Ele costumava passar sempre no almoxarifado. Ficou ali de tocaia. Arma apontada para a porta. Quando o homem se aproximou da porta, foi atingido de raspão na perna. Com o choque estatelou-se no chão.

— Você ficou louco! – Gritou.

Rodolfo sentiu-se poderoso.

— Apenas para lembrar que você não é melhor do que ninguém. Quando você morrer vai pra um caixão como qualquer um. Sua fortuna ficará por aí.

Rodolfo continuava a apontar a arma, fazendo com que o homem, apesar da dor, nem se mexesse.

Estava tão concentrado que nem percebeu quando os seguranças, tendo visto o chefe chegar e estranhando a demora dele para subir à sua sala, resolveram checar o que estava ocorrendo no almoxarifado. Desarmaram Rodolfo, imobilizando-o. Acudiram o chefe e acionaram a delegacia próxima dali.

Rodolfo foi levado e detido por tentativa de homicídio. Pouco tempo depois, examinado por um psiquiatra, foi diagnosticado com um distúrbio de personalidade e encaminhado a um Hospital psiquiátrico no interior de São Paulo.

Lá, passou os últimos dias de sua vida, sem que nem mesmo os familiares o visitassem. Em conversa com os outros pacientes costumava afirmar:

— O problema não sou eu.     

 

 

As Pessoas se Mostram quando há Dinheiro envolvido - Silvia Maria Villac V. de Carvalho

 




As Pessoas se Mostram quando há Dinheiro envolvido

Silvia Maria Villac V. de Carvalho

 

— Ela pode ter certeza de que não vou fazer da maneira como ela quer! Sempre quer dar a palavra final e provar por A + B que está certa! A essas alturas da vida ninguém mais me passa a perna!

Renata estava furiosa com a irmã, Lucia, que havia decidido dividir toda a herança deixada pela mãe. Não conseguia compreender o porquê de ter que pagar aquela fortuna para alguém avaliar as propriedades e depois os impostos de transferência de cada um dos imóveis. E daí que elas tinham filhos que depois também teriam filhos? Isso era problema para eles resolverem no futuro e estava ótimo da maneira como estava, com a empresa familiar criada e o dinheiro dos aluguéis entrando mensalmente em sua conta bancária sem qualquer aborrecimento.

Ela era de difícil trato, sempre agressiva nas respostas e tinha muita dificuldade em se socializar. Estudara Serviço Social na PUC, mas se embrenhara pelo lado místico, se aprofundando nos estudos de tarô, mapa astral, cristais, reiki... E se saía bem nessa área, já que tinha um leque grande e diversificado de clientes. Ou seja, conseguia ajudar as pessoas, mas no campo pessoal era um total desastre. E depois que os pais faleceram, a situação piorou ainda mais. Mantinha pouquíssimo contato com a irmã e bloqueara as primas nas redes sociais. Tivera duas filhas em três relacionamentos e estava só. Nas raríssimas ocasiões em que se via “obrigada” a participar de algum evento familiar, conseguia estragar o ambiente fazendo um comentário desagradável completamente descontextualizado, deixando todos ao redor com aquela cara de “o que é isso, minha gente?”. Em resumo, era uma figura intratável, com mania de perseguição e desconfiada de tudo e de todos.

Lucia era uma pessoa ponderada, apesar de não renunciar às suas convicções. Como advogada, sabia que a divisão era o mais correto a fazer porque facilitaria a vida dos filhos no futuro. Como era possível Renata não compreender esse lado prático e enxergar que também seria bom para as próprias filhas dela?

Após muita discussão e argumentos, Renata se viu por vencida e concordou em chamar um profissional para avaliar todas as propriedades e, uma vez feito isso, uma nova rodada de intermináveis reuniões ocorreram para decidirem quem ficava com o que. Nesse ínterim, Lucia, ocasionalmente, lembrava à irmã que ela ainda não havia acertado sua parte do valor pago ao avaliador e, a cada vez, ela era evasiva, dava uma desculpa e dizia que pagaria quando recebesse os aluguéis do próximo mês. Com receio de que Renata pudesse “dar para trás”, Lucia acabou por desistir de cobrá-la e achou que ainda ia sair barato se pudesse resolver tudo a seu contento.

Quando chegaram as custas do cartório e as taxas dos impostos, Renata fez um escândalo, esbravejando com a irmã e dizendo que ela havia feito um arranjo com o tabelião e parte do dinheiro iria voltar para seu bolso, que os cálculos dos impostos não podiam estar corretos, que se ela soubesse que ficaria nesse montante jamais teria concordado, que a história mais uma vez estava se repetindo com ela sendo passada para trás, e por aí vai. Não houve acordo e Lucia se viu obrigada a arcar com todas as despesas para colocar um fim à questão de uma vez por todas.

A partir dessa data, as duas irmãs nunca mais se falaram.  Soube-se que Renata comprou uma cabine de 1ª classe em navio italiano para fazer um cruzeiro de 3 meses pela Europa. As más línguas dizem que essa viagem foi paga com o dinheiro que havia separado para as despesas da partilha. 

Será mesmo que ela tinha essa intenção de pagar?

BENTO, O PÉ DESCALÇO. - Antonia Marchesin Gonçalves

 

 




BENTO, O PÉ DESCALÇO.

Antonia Marchesin Gonçalves

 

 

             — Olha, o teu pé, Bento, está sangrando – disse Gregório.

 

— Isso não é nada, é só um arranhão, meu pé tem o couro grosso, respondeu Bento.

Bento é apelido do Benedito, fazendeiro da cidade de Pirajuí. Próspero, com duas fazendas, uma de gado de corte e outra de plantação de cana. É na fazenda de gado que ele tem a sua sede, grande, morando a esposa, filho e seus pais. É lá também que ele nasceu e cresceu, sendo na época um pequeno sítio.

             De aparência simples, com seu chapéu de palha, roupas surradas, cursou até a oitava série. A maior briga com seus pais, desde pequeno, era que calçasse os sapatos. Algumas vezes usava chinelos de dedo. Sempre descalço e esse hábito não mudou, nem a esposa o convencia. Só em casamentos e enterros, com muito sacrifício, usava calçados. Por isso o seu apelido, “Pé descalço”. A rodovia Marechal Rondon era o dia-a-dia dele, nas suas idas e vindas entre as duas fazendas. Na cidade, todos o respeitavam e admiravam, sabiam que podiam contar com ele em qualquer necessidade.

             Certo dia, após o café da manhã, estava ele na rodovia com sua camionete e avistou à frente um carro parado na pista e um segundo mais adiante, tombado de cabeça para baixo, todo danificado. Não teve dúvida, estacionou no acostamento e encontrou o idoso Gregório, seu amigo, desesperado, tentando quebrar o vidro do carro. Ao chegar perto, percebeu o motivo do desespero. No carro capotado havia um bebê de uns 2 anos, preso à cadeirinha no banco traseiro.  A criança chorava muito. Sua mãe estava desacordada no banco do motorista.

             Com os vidros já trincados, ele não teve dúvida, com o pé cascudo, chutou duas vezes o vidro, quebrando o suficiente para enfiar a mão e destravar o carro. Abriu a porta e tentou tirar o bebe, mas o cinto de segurança não destravava. Os segundos seguintes foram cruciais, então ele entrou no veículo mesmo tendo avistado gasolina escorrendo no chão.

             Com a faca que sempre trazia à cintura, conseguiu cortar o cinto e retirar o bebê e o entregou para Gregório, dizendo:

— Se afasta com ele, vou tentar desprender a mãe. Novamente, com a faca, cortou o cinto da mãe e com os pés conseguiu empurrar o banco e abrir a porta, agarrando a moça pelos braços, arrastou-a o mais longe do carro.

             Nisso, Gregório já havia acalmado a criança e chamado o socorro, chegando a tempo de ver o carro explodir. Todos socorridos e salvos. Bento só percebeu que tinha cortado um dos pés quando o médico da ambulância quis fazer curativo. Graças ao seu cascão de andar descalço, não foi nada profundo. A sua fama de herói correu pela cidade e vizinhança.         

            

 

 

Marlene, a ceguinha vencedora. - Fernando Braga

 



Marlene, a ceguinha vencedora.

Fernando Braga

 

         Hoje, dia 9 de maio de 2023, com meus 87anos, estou iniciando mais uma história interessante, verdadeira, real.

         Transcorria o ano de 1963, era quinta-feira da Semana Santa e decidi viajar para S.J. do Rio Preto, visitar meus pais e irmãos.

         Lá, tínhamos, há vários anos, uma excelente empregada doméstica, a Bety, que há 6 anos se casara com um caminhoneiro, o Cido.

         Após um ano nascera a Cidinha, e sua mãe, pedira para que eu e minha irmã Lena, batizá-la.

         Decorridos mais 5 anos, dera novamente à luz outra criança, que infelizmente nascera com um sério problema ocular, ou seja, Buftalmia (olhos de sapo), uma espécie de glaucoma primário congênito, que pode levar à cegueira e que necessita tratamento cirúrgico imediato.

        Os pais desta criança, aguardavam ansiosamente a minha chegada e de imediato, tive que ir ver a criança, ainda internada no Hospital e Maternidade NS de Lourdes.

        Após ver a criança, cujo aspecto ocular impressionava, telefonei para a Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina (EPM) em São Paulo e os médicos pediram que trouxesse a criança, de imediato.

        No dia seguinte, Sexta-Feira Santa, por volta das seis horas da manhã, após o preparo de meia dúzia de mamadeiras, eu e uma tia de São Paulo, que estava hospedada em minha casa, pegamos a criança e partimos para a capital. Após umas 5 horas de viagem de carro, fomos diretos para o pronto-socorro da oftalmologia do Hosp. São Paulo e lá deixamos a criança aos cuidados da enfermagem, para que fosse operada, no dia seguinte.

        Realmente isto aconteceu, e a criança teve alta após 10 dias em boas condições.

        Seus olhinhos mostravam melhor aspecto, embora ainda apresentasse exoftalmia. Os médicos me disseram que ela, provavelmente, teria baixa visão!

Peguei a criança no Hospital e com um grande amigo e parente, o Luiz Bertellini, após passarmos rapidamente pela casa de minha namorada, a Sylvinha, hoje, há 60 anos, minha querida esposa, seguimos o caminho de volta para o interior.

       Luizinho, o tempo todo, tomou conta da criança e lhe deu, aos poucos, várias mamadeiras, preparadas no Hospital.

       Durante 20 anos, sempre que nos encontrávamos, ele relembrava este fato, em seus mínimos detalhes. Esta criancinha recebeu o nome de Marlene!

        Meu pai, seu Zulmiro, compadecido com o sofrimento dos pais e méritos da Bety, ótima empregada, comprou-lhes uma pequena casa em um bairro recém-criado, a Vila Toninho. A empregada permaneceu outros dois anos em nossa casa, afastando-se, então, indo cuidar de suas filhas, que tanto precisavam dela. O Cido redobrou seu trabalho como caminhoneiro.

       Apenas muito ocasionalmente tive a oportunidade de rever as duas crianças, a Cidinha, minha afilhada e a Marlene, que realmente pouco enxergava, mas que parecia inteligente e viva. Posteriormente, ela me comunicou que quando pequenina conseguia ver vultos, movimentos e a claridade. Quando estava com uns quatro aninhos começou a ter dores muito fortes nos globos oculares.                             

        Nesta ocasião, seus pais levaram-na para tratamento oftalmológico no famoso Instituto Penido Burnier em Campinas, onde foi novamente operada. Ela diz ter feito duas operações nos olhinhos e que, na última, os pontos das córneas tiveram deiscência, seguida por infecção, o que a levou à cegueira total.  Só posteriormente, tive conhecimento destes fatos!

        Com sete aninhos, a Bety me procurou dizendo que a Marlene, embora cega, precisaria estudar, se alfabetizar, pois era muito inteligente. Havia se informado, que o melhor lugar para tal, era ficar internada no Instituto Pe. Chico, em São Paulo, pedindo encarecidamente, que mais uma vez, os ajudassem.

        Fui pessoalmente a este Instituto, visitei-o e fiquei entusiasmado com a grandiosidade da Instituição!

        Sendo um médico, já docente da EPM, tive certa facilidade para conseguir internação da Marlene. Mais uma vez viajei para Rio Preto, trazendo-a para a capital, desta vez com os seus pais. Eu e Sylvinha, já estávamos casados, e ela, encarregou-se totalmente e com entusiasmo, de preparar um enxovalzinho para Marlene, que ficaria internada, até sua formatura do ginásio.

      Realmente, Marlene ficou neste Instituto até os 16 anos, onde aprendeu a ler e escrever em Braile, fazendo todas as matérias componentes do curso primário e ginasial. Era inteligente! Seus pais vinham com pequena frequência visitá-la e sempre no caminhão do Cido, que rarissimamente veio à nossa casa, para nos visitar.

       Sua irmã Cidinha, nossa afilhada, mudou-se para São Paulo, e bem bonitinha, logo se casou.

        Marlene, após sair do Instituto como interna, continuou frequentando-o, estudando, morando uma temporada com sua irmã.

        Aos 18 anos, casou-se   com um colega do Pe. Chico, igualmente cego.  Vieram me procurar, em minha casa, para que eu fosse o fiador do aluguel, em um apto pequeno, em um bairro distante.

Consegui um emprego para ela no serviço de Radiologia do Hosp. São Paulo (HSP), na câmara escura, onde revelava, fixava e secava os filmes dos exames radiológicos efetuados.

        Eu fazia Neurocirurgia como especialidade. Quando eu ia ao RX para fazer um Pneumo-encéfalo ou uma Angiografia cerebral, ela ouvia ao longe minha voz, vinha correndo me encontrar, perguntado a todos, onde eu estava. Sua audição era super!

        Trabalhou por 19 anos no Hospital São Paulo!

        Tiveram três filhos, duas mulheres e um homem e evidentemente, sem qualquer déficit visual.

       Anos após, com o progresso e compra de máquinas que revelavam os filmes, ela foi dispensada do HSP.

       Procurei então colegas que trabalhavam no Laboratório Fleury e lá consegui novo emprego para a Marlene, onde permaneceu por 8 anos.

       Conseguiu, dada sua cegueira, uma aposentadoria precoce, após 22 anos de trabalho, que a permitiu estudar e criar seus três filhos.

       Muito ativa e inteligente, conseguiu fazer um curso universitário e tornar-se uma psicóloga, atendendo seus próprios pacientes.

       Perdi totalmente o contato com a Marlene! Que, não mais nos procurou para qualquer ajuda. O mesmo com sua irmã Cidinha, ou seus pais, que deveriam continuar morando na Vila Toninho, em São José do Rio Preto.

        Certa manhã, abril de 2023, estava eu sentado no sofá da sala de visita, lendo o jornal, quando o telefone fixo tocou. Nossa empregada atendeu e passou-o para minha esposa, que se aproximou e disse: - É para você, e é a Marlene!

— Que Marlene, retruquei!

         — A ceguinha! Lembra?

         — Depois de tantos anos? Que será que ela quer!

          Atendi o telefone e ela disse:

         — Que bom que o senhor ainda mantém o mesmo telefone fixo! Sonhei com o senhor e com dona Sylvia e resolvi telefonar a vocês, saber como estão de saúde, assim como seus filhos!

       — Gostaria imensamente de lhes fazer uma visita.

       — Estou fazendo 60 anos e faz 30, que nunca mais nos vimos.

         Após lhe dar nosso novo endereço, convidei-a para almoçar conosco, vir inclusive com seu marido e trazer, se possível, também sua irmã, a Cidinha.

         Ela imediatamente aceitou, mas não prometeu que seu marido atual e sua irmã viessem juntos! Combinamos que viesse à nossa casa no dia seguinte, uma sexta-feira.

        Comentou que havia trocado de marido, pois o antigo era ¨bon vivant¨, não queria trabalhar e ela tinha que sustentá-lo. Casara-se com outro cego e estava muito feliz!

        Chegou em nosso condomínio por volta das 11 horas.

Após se anunciar, fui buscá-la na entrada e a trouxe para

dentro de nossa casa. Conseguira vir de longe, de um bairro bem distante onde morava, tomando no início um Metrô, depois dois ônibus e andando longa distância, sempre se utilizando de uma vareta comprida de metal, própria dos cegos!

         Ficou extremamente contente em nos encontrar, abraçou e beijou minha esposa e sentamo-nos no sofá da sala. Muito alegre e sempre sorrindo, nos contou sua vida, seu trabalho como psicóloga, atendendo seus pacientes em uma pequena sala, alugada, próxima do pequeno apartamento onde viviam. Esta mesma sala, seu marido utilizava para fazer massoterapia, quando aparecia algum paciente. Seus três filhos haviam estudado e não davam mais trabalho, vivendo por conta própria. Ela confessou que vivia bem e feliz. Era bem religiosa, frequentando semanalmente a igreja católica. Disse ainda que estava terminando um livro que havia escrito em braile e que pretendia publicá-lo.  Perguntou se nós não tínhamos um pequeno gravador de som, que ela pudesse usar para gravar sua fala, traduzindo o livro do braile para o português. Compramos-lhe um gravador pequeno pela Internet, que seria entregue em sua casa. Eu lhe disse poder rever o que fosse escrito e se estivesse bom, entregar em uma Editora, ficando responsável pelas despesas. Ela ficou muito agradecida!

          Sentamo-nos à mesa para almoçar, após ela ter pedido para lavar as mãos.  Aceitou tomar um pouco de vinho, um refrigerante e comeu muito bem, começando pela salada que foi colocada no seu prato. Para tal utilizou seus dedinhos branquinhos, delicados para a alface, o garfo e a faca para o feijão e arroz, carne e batata.

Nos disse que sua mãe, com 94 anos, continuava a morar na Vila Toninho, sendo que sua terceira irmã morava junto, após seu pai, o Cido ter morrido há um ano de Covid, assim como o marido de sua irmã. Me forneceu de cabeça, o endereço da casa de sua mãe.

         Conversamos muito, ela se mostrando bem interessada em tudo, com uma excelente memória.

       Após o término do almoço e descanso de mais uma hora, decidiu ir embora. Chamei um Uber, que paguei e ainda lhe dei duzentos reais para eventual gasto. Disse estar muito, muito feliz em nos encontrar novamente, que manteria contato. Desculpou-se de seu marido e da Cidinha não poderem vir, pois estavam trabalhando.

       Duas semanas após, tive que voltar a S.J.do Rio Preto para negócios e decidi fazer uma visita para a Bety em Vila Toninho. Entrando em Vila Toninho observei o grande crescimento que havia ocorrido, agora com avenidas asfaltadas, centro próspero e movimentado.  Facilmente localizei a rua e a casa onde Bety morava. Fui recebido pela filha mais nova, que me conduziu à sala de estar onde Bety estava deitada no sofá. Entrei na sala e Bety levantou a cabeça assustada, perguntando:   

— Quem é o senhor?

      Sua filha imediatamente disse:

      — É o Dr. Fernando, mãe, que veio visitá-la.

        Ela foi auxiliada para sentar-se e sentei-me a seu lado. Ela me abraçou e todos choramos! Fiquei comovido em ver a Bety, viva, após mais de 50 anos sem a rever. Aqui, uma das fotos que tiramos!

  A Marlene logo ficou sabendo de minha visita e telefonou-me, agradecendo, o fato de ter ido ver sua mãe.      

No dia 7 de março de 2024, após trocarmos vários WhatsApp, combinamos com Marlene, que viesse nos ver e almoçar conosco, novamente!

 Desta vez, o seu marido a acompanhou. Fui buscá-los na portaria e subimos para o nosso apartamento. Lá estava a Sylvinha e também nossa cozinheira, a Marlucci.  Ela fez imediatamente a apresentação de seu marido, o Gerson, um rapaz de 50 anos, bem-apanhado, fisicamente forte, mas amaurótico, com ambas as córneas ausentes, sem as pupilas oculares.

         Após uma conversa geral, nos contou o seu drama, em que, com apenas 7 anos, brincando com seu irmão de 11, de bandido e mocinho, como nos filmes de faroeste, o irmão disparou um tiro de cartucheira, de seu pai, em sua face, atingindo-lhe ambos os olhos.     Levado às pressas para o Hospital passando mal, não morreu, mas perdendo totalmente a visão. Apesar desta tragédia provocada por seu irmão, acentuou, enfatizou, que não colocou qualquer culpa nele, e nem guardou qualquer mágoa. Disse que em seu cérebro, tem ainda vários chumbinhos.

        Disse trabalhar muito, fazendo massagens corporais, a massoterapia, indo 3 vezes por semana a São Bernardo do Campo, onde em uma clínica faz o seu trabalho, com bom desempenho. Pretendem eles, marido e mulher, alugar um espaço maior, onde ele pode trabalhar, alternadamente, com Marlene, ela atendendo seus casos de psicologia e ele fazendo as massagens.

        Não me pediram nenhuma ajuda, o que me surpreendeu um pouco, pois eu certamente iria ajudá-los. Ela me falou de sua irmã, a Cidinha, minha afilhada muito devotada ao trabalho, continua casada, mas sem filhos. Tem ela agora 65 anos!

        A Marlucci, nos serviu um almoço caprichado, com uma bela salada de legumes, feijão, arroz, seu frango frito e batatas cozidas.  Nos alimentamos bem, eles principalmente. Na sobremesa, o manjar branco com calda de ameixa-preta e creme de leite.   Bebemos juntos uma garrafa de vinho português, do Além-Tejo.

        Após umas duas horas prepararam-se para nos deixar.    Eu ia ajudá-los com um Uber, mas negaram minha ajuda, dizendo que tinham tempo e iriam de ônibus e depois pegariam um trem!  Dei a ela duas notas de 100, colocando-as em seu bolsinho da blusa!

        Não se esqueceu de agradecer novamente minha ida à casa de sua mãe na Vila Toninho em S.J. do Rio Preto!

        Todas as semanas, recebemos WhatsApp de Marlene, sempre em áudios animados, é evidente! Uma vozinha muito delicada!

        Desta vez, nada comentou de seu livro! Vamos ver o que falará em futuro breve.

        Foi realmente uma bela manhã e começo de tarde!

        Todos os que lerem este conto, espero que entendam minha mensagem.

        Trata-se de um caso com grande participação que tive desde o começo, 65 anos atrás, quando eu tinha apenas 23 anos e estava no quinto ano de Medicina.

           Voltei, aos 87, a participar novamente.  Isto é raro acontecer.

Me fez recordar, com vivacidade, quando era ainda bem jovem, começando a Medicina, lembrar de minha mãe querida, de meu pai, também muito, muito querido, da Bety, nossa jovem empregada, da Cidinha, nossa afilhada, e da Marlene! As mamadeiras dadas pelo meu grande amigo Luizinho Bertelline, que nunca se esqueceu deste fato, relembrando-o por muitos anos, sempre que nos encontrávamos. 

          Marlene, uma ceguinha!  Uma vencedora! 

          Vencedora em todos os sentidos, desde que começou seus estudos no Padre Chico, em seu aprendizado, o domínio do Braile.  Seus 18 anos, indo diariamente ao Hospital São Paulo trabalhando na Câmara escura da Radiologia e mais 8 no Laboratório Fleury. Chegou ao curso superior, onde se formou como Psicóloga, pagando por seus estudos.

          Formou uma linda família, com um filho e duas filhas, íntegros também, vencedores, certamente dado o” Exemplo” e a ajuda da Mãe!

          Para complementar e finalizar, quero colocar esta última mensagem, que hoje recebi de Marlene:

— O tempo não desfaz laços de afeto, não desfaz sentimentos verdadeiros, não apaga e nem ofusca o brilho de um momento intenso. O tempo não quebra o encanto de um belo sorriso, não destrói uma história linda, regada de sensações inexplicáveis e nem faz com que a distância cause esquecimento.

          O tempo, isto, sim, conduz o curso da vida com uma mão forte, nos ensinando e nos amadurecendo. Com o tempo fazemos as nossas escolhas com mais experiência, deixando de lado a inquietude e insegurança.

        No tempo, o ontem já passou e não volta jamais, o amanhã, não nos pertence, mas o hoje, o agora, existe para podermos aproveitar muito e fazer cada momento de a vida valer a pena!

Sem dúvida, ela criou uma espiritualidade!

      Esperamos por seu livro!

    

                                            Dr. Fernando Menezes Braga