As Pessoas se Mostram quando há Dinheiro envolvido - Silvia Maria Villac V. de Carvalho

 




As Pessoas se Mostram quando há Dinheiro envolvido

Silvia Maria Villac V. de Carvalho

 

— Ela pode ter certeza de que não vou fazer da maneira como ela quer! Sempre quer dar a palavra final e provar por A + B que está certa! A essas alturas da vida ninguém mais me passa a perna!

Renata estava furiosa com a irmã, Lucia, que havia decidido dividir toda a herança deixada pela mãe. Não conseguia compreender o porquê de ter que pagar aquela fortuna para alguém avaliar as propriedades e depois os impostos de transferência de cada um dos imóveis. E daí que elas tinham filhos que depois também teriam filhos? Isso era problema para eles resolverem no futuro e estava ótimo da maneira como estava, com a empresa familiar criada e o dinheiro dos aluguéis entrando mensalmente em sua conta bancária sem qualquer aborrecimento.

Ela era de difícil trato, sempre agressiva nas respostas e tinha muita dificuldade em se socializar. Estudara Serviço Social na PUC, mas se embrenhara pelo lado místico, se aprofundando nos estudos de tarô, mapa astral, cristais, reiki... E se saía bem nessa área, já que tinha um leque grande e diversificado de clientes. Ou seja, conseguia ajudar as pessoas, mas no campo pessoal era um total desastre. E depois que os pais faleceram, a situação piorou ainda mais. Mantinha pouquíssimo contato com a irmã e bloqueara as primas nas redes sociais. Tivera duas filhas em três relacionamentos e estava só. Nas raríssimas ocasiões em que se via “obrigada” a participar de algum evento familiar, conseguia estragar o ambiente fazendo um comentário desagradável completamente descontextualizado, deixando todos ao redor com aquela cara de “o que é isso, minha gente?”. Em resumo, era uma figura intratável, com mania de perseguição e desconfiada de tudo e de todos.

Lucia era uma pessoa ponderada, apesar de não renunciar às suas convicções. Como advogada, sabia que a divisão era o mais correto a fazer porque facilitaria a vida dos filhos no futuro. Como era possível Renata não compreender esse lado prático e enxergar que também seria bom para as próprias filhas dela?

Após muita discussão e argumentos, Renata se viu por vencida e concordou em chamar um profissional para avaliar todas as propriedades e, uma vez feito isso, uma nova rodada de intermináveis reuniões ocorreram para decidirem quem ficava com o que. Nesse ínterim, Lucia, ocasionalmente, lembrava à irmã que ela ainda não havia acertado sua parte do valor pago ao avaliador e, a cada vez, ela era evasiva, dava uma desculpa e dizia que pagaria quando recebesse os aluguéis do próximo mês. Com receio de que Renata pudesse “dar para trás”, Lucia acabou por desistir de cobrá-la e achou que ainda ia sair barato se pudesse resolver tudo a seu contento.

Quando chegaram as custas do cartório e as taxas dos impostos, Renata fez um escândalo, esbravejando com a irmã e dizendo que ela havia feito um arranjo com o tabelião e parte do dinheiro iria voltar para seu bolso, que os cálculos dos impostos não podiam estar corretos, que se ela soubesse que ficaria nesse montante jamais teria concordado, que a história mais uma vez estava se repetindo com ela sendo passada para trás, e por aí vai. Não houve acordo e Lucia se viu obrigada a arcar com todas as despesas para colocar um fim à questão de uma vez por todas.

A partir dessa data, as duas irmãs nunca mais se falaram.  Soube-se que Renata comprou uma cabine de 1ª classe em navio italiano para fazer um cruzeiro de 3 meses pela Europa. As más línguas dizem que essa viagem foi paga com o dinheiro que havia separado para as despesas da partilha. 

Será mesmo que ela tinha essa intenção de pagar?

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