A Goiabeira e o Mundo - Christiane Lopes




A Goiabeira e o Mundo
Christiane Lopes

No tempo da minha infância eu andava de pés descalços pelo arvoredo que parecia imenso. Lá não havia carro, não havia pessoas estranhas e nem comércio. O mundo de minha infância se resumia a casa onde vivíamos e aquele arvoredo.

Não tínhamos televisão e as visitas eram raras, assim os dias passavam guiados pelo nascer e pôr do sol. Tudo era terra, mato, árvores e animais domésticos – sem falar em algumas cobras venenosas que passavam por ali. Nossa vida era tão simples que parecia que iria durar para sempre. Eu e meu irmão brincávamos com sabugo de milho, eles viravam cabeças de gado e, às vezes, nos empenhávamos em fazer cercas e porteiras para que nossa “criação” não fugisse. Mas o que eu mais adorava era subir no último galho da  goiabeira e ficar inventando histórias, cantando e imaginando mundos impossíveis. No tempo da minha infância eu achava que o mundo era aquilo que eu via e na minha precoce curiosidade, a goiabeira me dava um olhar privilegiado: um olhar de pássaro que via tudo de cima e podia admirar os campos à distância. Assim eu ficava a ver o mundo  e minha imaginação voava longe...longe...até que caia a noite e minha mãe me chamava para entrar e o mundo voltava a ser só a casinha silenciosa na penumbra de um lampião de querosene....e lá fora no arvoredo, a goiabeira dormia tranquila sem minhas histórias.

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