O casamento - Christiane Lopes





O Casamento

Lá estava eu admirando os apaixonados noivinhos em cima do bolo quando percebi uma gritaria que destoava daquele cenário idílico. Virei de costas para os enfeites de biscuit e me deparei com os noivos em tamanho real: a noiva gritava histérica enquanto os convidados, espantados,  olhavam uma faca em suas mãos trêmulas. Aos poucos fui me inteirando do  insólito acontecimento: a noiva, enlouquecida, acabara de saber que o marido queria o divórcio. Isto poderia ser algo corriqueiro, não fosse o fato de que o casamento acabara de se realizar. A moça procurava, em sua loucura, descobrir os motivos do  marido, ou melhor, ex-marido.

- Como assim?! Separar?! Hoje?! Agora?! Já???

O marido, entre a sua reputação e a faca, tentava agarrar-se num discurso lógico para explicar-lhe o ilógico:

- Querida, essas coisas acontecem com qualquer casal. O casamento já não é mais pra toda vida. Você tem que entender que nós tivemos ótimos momentos juntos, mas acabou... Como tudo acaba...E eu conheci uma outra pessoa há um minuto e tenho o direito de refazer a minha vida... Como você. Podemos ser bons amigos! 

O padrinho tentou intervir, não sabendo se ficava do lado da noiva, alucinadamente lúcida, diante tamanha sacanagem ou do noivo, sobriamente inconsequente na sua fugacidade.

A mãe da noiva, que já estava preparando-se para ser avó,  desmaiou pensando na filha casada, separada,  grávida – e talvez, viúva -  tudo ao mesmo tempo, agora! O pai do noivo, meio bêbado, sem saber de nada perguntou:

- Vamos cortar o bolo? Quando se deu conta, na sua embriagues, que a noiva queria cortar o noivo e não o bolo, ficou sóbrio na hora.

Alguns mais econômicos acharam que era coerente aproveitar a festa de casamento para já comemorar o descasamento, afinal não é assim mesmo?  As coisas sempre acabam!  No geral as pessoas saíram todas cabisbaixas e desiludidas. O que falar no dia seguinte? O fato era tão absurdo na sua velocidade contemporânea que tirava o prazer da fofoca apaixonada. Como criar empatia, discutir e tomar partido num evento relâmpago? Não, essa história nem deu tempo de virar uma história!  Suspirou uma fofoqueira de plantão. A noiva não cometeu o desejado assassinato. Acabou sendo convencida pela cunhada, psicóloga e advogada, que era melhor assim, afinal, hoje em dia, , os casamentos não duram nada mesmo! O escrivão que viera para realizar o evento, aceitou anulá-lo pelo mesmo valor e o prejuízo não foi tanto. Eu fiquei pensando na velocidade do tempo, na correria do dia-a-dia, nas notícias dos jornais, nas revistas de fofocas e conclui que gosto mesmo é da ilusão do “E Foram Felizes para Sempre!”  Mesmo que no outro dia tudo acabe... Mas, por favor, vamos esperar pelo menos o dia seguinte. Peguei os noivinhos de cima do bolo e levei de lembrança.

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