Vai levar um bom tempo!
Fernando
Braga
Zé
Osvaldo formando-se em medicina, optou para fazer uma especialidade das mais
difíceis naquela ocasião, ou seja a neurocirurgia. Para tal procurou, na sua
própria escola médica, um grupo muito bom, chefiado por um professor experiente, de renome nacional e internacional
nesta especialidade.
Certa
ocasião, seu chefe convocou-o para ajudar em uma cirurgia em outro grande
hospital da cidade, onde um paciente particular estava internado há já dois
dias. Este paciente, um jovem, havia sofrido um acidente, no qual uma vértebra
da região torácica havia sido lesada, deslocada posteriormente e comprimido
fortemente a medula nesta região. O rapaz encontrava-se paraplégico, com uma
síndrome de secção total da medula, sem movimentos da cintura para baixo, sem
sensibilidade e outros sintomas próprios da chamada lesão completa ou total. A
recuperação era extremamente difícil, mas devia ser feita através de uma cirurgia
descompressiva, para que o paciente tivesse uma chance mínima de recuperação.
Viu o pai do rapaz conversando com seu chefe e dizendo que tudo, mas tudo mesmo,
procurasse fazer para dar chance a uma
recuperação de seu filho e que dinheiro não era
seria problema.
Esta
cirurgia, como era esperado, foi muito rápida e supunha-se que o professor
fosse iniciar o fechamento, mas, resolveu fazer um novo procedimento. Dissecou
um nervo intercostal e por baixo da pele
levou sua porção distal até a abertura da cirurgia e implantou, dentro da porção
distal da medula gravemente lesionada. Zé Osvaldo, já experiente, nunca havia
visto ou ouvira sobre este tipo de cirurgia, nem mesmo em publicações
internacionais. Certamente era uma invenção do chefe.
Mais
tarde acompanhando o professor dando explicações ao pai do garoto sobre a cirurgia
efetuada, falou pausadamente, sobre o mau estado da medula esmagada e enfatizou
sobre a nova técnica, ”única” que efetuou, com o argumento de que isto
aumentaria em muito as chances de recuperação, mas levaria um bom tempo!
Na
ocasião Zé Osvaldo se lembrou de uma antiga fábula em que um rei ouviu falar,
que em seu reino, havia um súdito que conseguia fazer um burro falar! Pediu que
seus guardas trouxessem a pessoa em sua presença e confirmasse se, realmente, seria capaz de fazer tal proeza. O homem
confirmou que era capaz de fazer qualquer burro falar. O rei muito surpreso
entregou-lhe um saquinho com moedas de ouro, trouxe um asno em sua presença e
pediu que fizesse o milagre. O homem, quase um ancião, concentrou-se, fez uma
série de passes, disse palavras ininteligíveis e finalizou dizendo:
— Pronto!
O
rei então disse:
— Vamos
ouvi-lo falar agora? Quero ver!
— Perdão
sua majestade, ele vai falar, com certeza absoluta, mas para isto, teremos que
esperar aproximadamente 10 anos!
— Tudo
isto?
— Tudo
isto! Confirmou o mágico.
—
Muito bem, nós vamos esperar, mas se dentro deste tempo ele não falar, vou te
pendurar em uma cruz, até morrer!
Já
fora do palácio, um amigo deste charlatão, que tudo ouvira, questionou:
— Meu
querido, você tem certeza que em dez anos o asno vai falar? Viu a ameaça que o
rei fez?
—
Certeza não tenho, mas estou tranquilo, porque em dez anos, o burro, eu, ou o
rei, um de nós, não estará mais neste mundo de Deus!
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