O significado de um gesto.
Maria Verônica Azevedo
Uma das
procissões mais importantes da Semana Santa: a Procissão do Encontro, simboliza
o encontro de Maria com Jesus a caminho do Calvário. As imagens de Nosso Senhor
dos Passos e de Nossa
Senhora das Dores saem cada uma de uma igreja e o “Sermão do Encontro” marca o
momento em que elas são reunidas.
Com
301 anos de tradição, a Procissão do Encontro, que acontece no final de março
antecipando a Semana Santa, é realizada com o objetivo de proporcionar a
reflexão em torno do sofrimento de Jesus Cristo no caminho até o Calvário. Segundo
a tradição católica, é uma caminhada onde se pratica a oração e, sobretudo, a
caridade.
No
local do encontro, acontece um discurso dedicado à narrativa bíblica, em que
Jesus segue a caminho do calvário e encontra-se com sua mãe.
Na cidade
de Santos, a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos realizava a festa no
quarto domingo da quaresma. Na sexta-feira a imagem de Nossa Senhora das Dores
era depositada na igreja de N.S. do Carmo, e a imagem de Senhor dos Passos
ficava na Catedral. No domingo, dia maior da festa, as duas imagens saiam
desses respectivos pontos e se encontravam na praça em frente à catedral, onde era
proferido o Sermão do Encontro lembrando o encontro de Jesus com Santa Maria.
A Procissão
do Depósito era uma preparação para a Procissão do Encontro. Naquela época,
antes da construção da atual Igreja da Paróquia dos Passos, durante o ano, as
duas imagens ficavam na Catedral da cidade. Na sexta-feira que antecedia a
Semana Santa, a imagem de Nossa Senhora era levada em procissão para ser
depositada na Igreja do Carmo. Era a Procissão do Depósito. A imagem de Senhor dos Passos, representada pela
figura de Jesus Cristo levando a cruz aos ombros, permanecia na Catedral. No
domingo, dia maior da festa, as duas imagens saiam desses respectivos pontos e
se encontram na praça em frente à catedral, onde era proferido o Sermão do
Encontro lembrando o encontro de Jesus com Maria Santíssima na via sacra .
Nós
nunca íamos à procissão do encontro, mas todos os anos a família toda
acompanhava a Procissão do Depósito. Nossa avó, devota de Maria Santíssima era
a matriarca da família. Ela fez uma promessa, não sabíamos com que motivação,
para que todos da família descendentes dela se encontrassem no dia da tal
procissão para acompanhá-la, fizesse o tempo que fizesse.
Aquilo
se tornou uma obrigação para todos nós.
Para
os mais velhos era uma obrigação maçante, mas para nós jovens era uma
oportunidade para rever os primos que moravam longe em outras cidades.
A
dita procissão era frequentada por todas as famílias que tinham alguma
importância local. Por mais que o momento pedisse contrição e discrição, o que
se via era um desfile de vaidades, com as senhoras vestidas com aprumo
ostentando suas sedas e melhores joias. Alguns até vinham rezando com o terço
entre os dedos, mas a maioria acompanhava o trajeto de braços dados em animado
bate-papo.
Os
mais novos, que não entendiam nada do que se passava, corriam de um canto a
outro fazendo perguntas inconvenientes sobre as vestimentas dos coroinhas e
sobre os candelabros que carregavam.
Havia
um grupo que caminhava ao lado do andor entoando cânticos e jovens mais atrás
que em voz baixa faziam paródias e davam risadas sem muito alarido.
A
procissão que era feita a noite, passava pelas ruas do centro da cidade
próximas à zona portuária.
Ao
passarmos por ali durante esta festividade, eram dignas de nota as colchas
coloridas estendidas nos parapeitos das janelas abertas dos sobrados
envelhecidos e mal conservados e, junto às portas, muitas mulheres ostentando
maquiagem pesada acenando veementemente para a imagem de Maria.
Que
significado teria aquele desfile com tanta pompa para as moradoras daquelas
ruas? Será que tinham fé? Será que rezavam... Será que sabiam de Santa Maria
Madalena?
Num
desses anos, ao passar por ali, um senhor muito bem vestido saiu da procissão e
se aproximou de um grupo de mulheres e as convidou para acompanharem a procissão.
Fez isso distribuindo santinhos impressos com a imagem de Nossa Senhora das
Dores.
Os
que estavam em volta, na procissão, abriram espaço para as mulheres. Não dava
para saber se o faziam por estranhamento ou por solidariedade.
Em
seus rostos, não era possível ler sentimentos que não fossem a expressão de
espanto.
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