Os fantasmas de Joãozinho
Angela
Barros
Todas os dias lá vem ela com suas nádegas
serpenteantes, mamas de vaca leiteira, dentes alvos que ao sorrir irradiam
raios de luz a iluminar cada cantinho do local, trazendo alegria para todos que
cruzam o seu caminho nos corredores daquele lugar.
Como uma gazela entra e sai dos pequenos
quartos distribuindo seu bom dia. Ao passar em frente da porta de número cento
e quatro, é enlaçada por duas mãozinhas, peguei você! João que é isso menino,
tá pensando que minhas pernas são balanço? Ah, ah, ah, balanço não! Mas, elas
são tão fofinhas, parecem as pernas da elefantinha Mimi daquela história que
você contou outro dia.
Joãozinho,
era cria do hospital. Quando nasceu, sua mãe adolescente o abandonou. Nascera
com atrofia nas duas pernas, mas com um jeitinho que cativou todos na
maternidade, por isso, os médicos e enfermeiras resolveram acolher o menino. Já
estava com três anos. Sem permissão para sair do local, seu mundo era o pequeno
quarto do hospital.
Tia
Samira, ontem a noite eu fiquei com muito medo. Entraram uns fantasmas aqui no
meu quarto. Fantasmas meu filho? Onde eles estão? Eles estão escondidos, só
aparecem quando está bem escuro. Fica aqui comigo essa noite, por favor! Está
certo, mais tarde eu volto para ver esses fantasmas.
Quando
a escuridão chega, pé ante pé, Samira entra no quarto de Joãozinho e encontra o
menino encolhido debaixo dos lençóis, que mudo de tão assustado aponta o dedo
para os fantasmas. Ela olha em volta e vê vultos gigantes passeando sem cerimônia
sobre a cama do pequeno.
Joãozinho
que fantasmas que nada, você está vendo as sombras dos rapazes que fazem rapel
no viaduto que fica na frente do hospital. Querido, quando aqui dentro fica
tudo escuro, a luz da rua ilumina os meninos e suas sombras são projetadas para dentro do seu
quarto. Rapel, o que é isso?
Venha,
sente na sua cadeira de rodas, vou mostrar para você o que na realidade são os
seus fantasmas.
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