A PROCISSÃO E A FESTA DE SÃO VITO
Oswaldo
Romano
Antes do cair da noite a praça já
recebia os fiéis. Seria realizada a esperada Procissão de São Vito que daria
início às festanças. Criada pelos descendentes da Colônia Italiana ali
radicada, essa festa tornou-se a maior e mais animada da cidade.
A Igreja é localizada na Rua Polignamo a
Mare, nome dado em homenagem a origem da colônia. Ali os chamados oriundos, da Puglia, sul da Itália,
formaram mais um dos importantes núcleos das colônias estrangeiras que
impulsionaram nosso país.
O
interesse de quem chegasse mais cedo, era ficar junto ao grande crucifixo carregado
pelo orgulhoso sacristão. Ele indicava o marco de onde um sacerdote levantava,
mostrando ao povo, a imagem de São Vito. Seguia-se uma inusitada tradição,
possivelmente inédita em São Paulo.
Moradores abonados da colônia, demonstrando
sucesso e riqueza, postavam-se nas esquinas onde o sacerdote promovia um leilão.
O ofertante do valor mais alto é quem levava o troféu, exibindo-se até a
próxima parada. Novos leilões vão se repetir nas esquinas até encontrar
novamente a igreja.
No
início do desenvolvimento do bairro formou-se um grande comércio de cerealistas
que disputavam a dedo a presença dos compradores varejistas.
Estes
atacadistas demonstrando o sucesso alcançado desde a chegada dos avós, nessas
reuniões apresentavam-se com as esposas. Novos abonados, novos ricos, queriam
mostrá-las o mais bem vestidas possível. Mas na luta para o progresso, sobrava
pouco tempo de fazê-las frequentarem as finas boutiques. Quase todas eram
companheiras dos seus maridos na venda, junto as intermináveis sacarias.
Mas,
sabiam que podiam. Diante desse desenho de vida, adquiriam os mais desusados
casacos, peles, joias e longos que mascates de outras colônias se infiltrando
lhes ofereciam.
As
procissões passaram a ser além de um ato de religiosidade, um desfile que ao
tirarem, o longo véu preto, as mais velhas, e as jovens os brancos, irradiavam
nos semblantes o orgulho de suas vestimentas.
O
Sinhore Vitório, que já ostentava o
título honorífico de Barão, foi o campeão da oferta no mencionado leilão da
imagem. Possuía uma pança protuberante, um pouco disfarçada pelo seu porte
alto.
Foi
homenageado e compareceu elegantemente vestido. A esposa querendo demonstrar a
importância e supremacia do seu marido, vestiu-o com um paletó confeccionado de
tecidos de sacos da venda, tingidos num azul claro que, acreditem! Virou moda.
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