O faroleiro feliz - Ises de Almeida Abrahamsohn


Resultado de imagem para faroleiro

O faroleiro feliz
Ises de Almeida Abrahamsohn

Maurice subiu os cento e oitenta degraus sem dificuldade. Por trinta anos subira diariamente aquela escadaria, com folga apenas nos  meses de férias. A rigor, já há vinte anos a sua presença no alto da torre não era mais necessária. A maioria dos faróis da costa da Bretanha tinha sido modernizada. O faroleiro só subia as escadas para a verificação e manutenção mensais. Agora era a sua vez. O equipamento do farol seria trocado e o acendimento seria automatizado. Ele, ainda bem disposto aos cinquenta e cinco anos, se tornaria obsoleto.

  ̶ Obsoleto, considerou Maurice, obsoleto, assim com os toca-discos, os filmes fotográficos, as datilógrafas e os cobradores de ônibus! Mas eu não! Não ficarei obsoleto e estou contente. Não via a hora de sair daqui! Para início, vou comemorar em grande estilo. Já escuto os passos de Mireille nas escadas... Deve estar lá pelo número cem. Agora deu uma paradinha para descansar. Ela tem quarenta anos e é muito ágil, mas é claro que não treina nas escadas como eu. Ontem eu trouxe cá para cima gelo, duas garrafas de brut da melhor qualidade e um bom patê de fígado da Dordonha. Mireille está trazendo duas dúzias de ostras e o pão.


̶  Olá Mireille! Você está linda, assim um pouco vermelha e sem fôlego. Temos até as cinco para nos amarmos e comer e beber como príncipes. Finalmente, ficarei livre do farol! Viva a liberdade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário