O milagre
do andor
Sérgio Dalla Vecchia
Domenico era um imigrante italiano que, como outros
tantos, chegou ao Brasil com pouquíssimo dinheiro, mas com muita garra para
vencer.
Começou como ajudante em um grande armazém de secos
e molhados localizado na área que compreendia a Rua Polignano a Mare, Av.
Mercúrio e Rua do Gasômetro, no bairro do Brás, São Paulo Capital.
Pelo esforço e capacidade de negociar, Domenico
logo tornou-se sócio no armazém e depois conseguiu comprar a parte da viúva do
sócio que infelizmente falecera precocemente.
Com esperteza também comprou o armazém ao lado,
depois outro e mais outros. A cada vitória agradecia a São Vito Mártir.
Tornara-se um homem muito rico e próspero! Casara-se
com Carolina, com quem tivera quatro filhos homens. Em reconhecimento a amada
esposa, Domenico a presenteava com vestidos caros da moda, joias caríssimas e
até um cadillac 1957.
O casal tinha hábitos simples, não tinha tempo para
festas e reuniões sociais.
A única exceção era a festa de São Vito Mártir, que
acontecia todo dia 15 de junho na Paróquia.
Lá sim era o momento mágico da transformação de
casal simples, para um Domenico engravatado e uma Carolina para lá de elegante
exibindo joias e vestidos exuberantes. Até o cadillac era estacionado em frente
da casa para deleite dos invejosos.
Fazia parte da festa um leilão para se comprar a
honra de carregar o andor de São Vito, durante trechos da procissão. Os lances
eram muito disputados, cada comerciante queria mostrar poder econômico.
Domenico sempre vencia o trecho do quarteirão da sua casa. Custava-lhe caro,
mas a paróquia agradecia.
No decorrer da procissão o casal mostrava-se muito
feliz e desinibido, cumprimentavam todos mostrando largos sorrisos, fatos não
comuns no cotidiano. Pareciam encantados com toda aquela ostentação!
Entretanto a magia da festa acabava, e no dia
seguinte a vida simples de trabalho recomeçava.
Porém, permaneciam o ano todo sob efeito catártico,
com a alma purificada, sonhando com a festa do ano vindouro.
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