COMO VIVER AO LADO DA FELICIDADE - Sérgio Dalla Vecchia

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COMO VIVER AO LADO DA FELICIDADE
Sérgio Dalla Vecchia

Era uma vez uma tribo de índios localizada no coração da selva amazônica.
O local era totalmente isolado da civilização. A cidade mais próxima ficava a dois mil quilômetros de distância.

A mata era fechada. Havia um grande rio junto a aldeia. Lá os índios pescavam, banhavam-se e era o único caminho existente para se tentar chegar a algum lugar.

A cultura desse povo era rudimentar, andavam totalmente nus. Não tinham inimigos e por conta disso possuíam poucas armas de defesa. Os arcos e flechas, e as lanças eram só utilizados pelos guerreiros nas caçadas de animais.
Havia rituais para iniciação de jovens guerreiros, casamentos, funerais e outros acontecimentos.  

Usavam a pintura como forma de expressão, tanto em seus corpos como na pedra, buscando descrever alguma cena do cotidiano.

Eram felizes e gozavam de ótima saúde.

Tudo ia bem até que o destemido guerreiro Peri, cansado da monotonia da aldeia, resolveu aventurar-se rio abaixo em busca do desconhecido.

Rodou o caudaloso rio o dia inteiro. Cansado acampou em uma das margens e adormeceu.

Qual foi sua surpresa quando despertou. Havia em sua volta vários homens barbudos vestidos com estranhas roupas.

Peri ainda assustado, tentou esboçar alguma reação, mas de pronto foi contido por um índio que acompanhava os homens desconhecidos.

Depois de muita mímica, foram se entendendo e Peri foi presenteado com um espelho, que refletiu pela primeira vez a sua imagem. O espanto e o encantamento causados nele, foram suficientes para que se tornasse amigo dos desconhecidos.

Ganhou também um facão e depois um embornal de couro. E assim Peri se envolveu com os homens e acabou levando-os para conhecerem a sua aldeia.

Lá chegando foram recebidos com muito espanto, desconfiança e muita curiosidade. Ganharam espelhos, facões e outras tantas bugigangas. Tudo era novidade para os índios e acabaram se entrosando e assim permanecendo na aldeia. Durante o convívio os homens brancos foram aos poucos oferecendo cachaça, cigarros e até rapé.

A convivência foi aumentando, já ocorrendo estupros nas jovens índias, bebedeiras e doenças venéreas e a maldita gripe. Os pobres índios não eram imunes à influenza e foram adoecendo até a morte.

O cacique Raoni com a sua experiência percebeu logo o que estava acontecendo e ficou furioso. Indignado, reuniu os guerreiros em sua oca e evocando os espíritos da floresta, chegou ao seguinte veredicto.

— Meus guerreiros, esses homens só nos trouxeram a desgraça, oferecendo e mostrando coisas que nunca havíamos visto ou experimentado. Fomos vencidos pela vaidade e ganância.

— Ainda há tempo de nos regenerarmos cumprindo o que os espíritos me ordenaram.

— Durante essa noite, matem todos e joguem seus corpos ás piranhas, de modo que não sobre nenhum vestígio desses malditos.

—Quando amanhecer tragam à minha presença o Peri, causador dessa desgraça toda.

Assim foi feito e Peri, depois de ser execrado em público teve seu crânio partido com a borduna do cacique.

Assim a aldeia voltou a ter paz e todos viveram com a pureza dos seus costumes e a energia positiva da natureza.


Dessa história poderemos concluir que o filósofo Platão há muitos anos já havia vislumbrado algo parecido, com o título de O MITO DA CAVERNA, onde deduzimos que aceitar o desconhecido é muito difícil para quem é feliz, pois ficando com o que tem a paz é certa. Então para que arriscar!

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