O
LACAIO
Ledice Pereira
Inácio
sentiu-se orgulhoso quando o Imperador o designou para trabalhar na casa da
Marquesa de Santos com o objetivo de vigiá-la.
Era
um segredo entre os dois e ninguém poderia saber da verdadeira finalidade.
Dom
Pedro diria a ela que Inácio era de toda a confiança e estava ali para servi-la
no que fosse preciso.
Domitila
sentiu-se protegida e agradeceu efusivamente ao amante.
Inácio
era esperto e estava atento a tudo.
Sabia
do ciúme do patrão e cuidava de cada passo de Domitila.
Aos
poucos obteve a confiança total da Marquesa que passou a ver nele um
confidente, ela que era, na verdade, uma mulher solitária.
A
proximidade entre os dois, entretanto, fez Inácio perceber-se apaixonado por
aquela mulher tão interessante que lhe despertava desejos incontroláveis.
A
cada visita do Imperador, Inácio se via mais enciumado. Punha-se de plantão na
frente da porta do quarto de onde podia ouvir os ruídos e suspiros dos amantes,
o que o deixava transtornado.
O
rapaz já não era o mesmo e tanto Domitila como Dom Pedro percebiam a mudança em
seu comportamento. Guardava para si o sentimento que o atormentava e que não
podia dividir com ninguém.
Sua
fixação por Domitila tornou suas noites insuportáveis. Custava a dormir.
Conhecia
Pedro desde a infância, quando a família real chegou ao Brasil e os dois
tornaram-se grandes amigos. Sentia
remorsos pela traição, ainda que platônica, àquele que considerava quase um
irmão.
Certa
noite, após tantas noites em claro, ele adormeceu tão logo se deitou, exausto
que estava. Pouco depois sentiu que a porta de seu quarto se abria lentamente. Preparou-se
para se defender de um gatuno, quando sentiu-se abraçado selvagemente. Reconheceria
aquele perfume em qualquer lugar do mundo. Deixou-se arrebatar pela emoção daqueles
momentos de muito prazer sem saber se teriam passado horas, minutos ou segundos.
A
claridade invadiu o quarto mostrando que o sol já ia alto. Inácio pôs-se de pé
assustado, vestindo-se rapidamente. Olhou ao redor e o quarto parecia estar
intacto. O leito permanecia tal qual estava quando ele se deitara. Não havia
sequer resquícios daquele perfume. Inácio pensou estar enlouquecendo.
Desculpou-se
com a Marquesa pelo atraso, coisa que nunca antes acontecera, deixando-a
intrigada. Não lhe passou despercebido o aspecto pálido do rapaz o que indicava
que algo não andava bem.
Chegou
a comentar com o Imperador, que inquiriu o rapaz. Este garantiu estar tudo bem.
Na
semana seguinte, numa cavalgada que fizeram os três, ele distanciou-se tanto,
incitando o cavalo a galopar tão velozmente que o casal foi encontrá-lo caído
com a cabeça mergulhada num riacho, já sem vida.
A
queda ocasionara fratura no pescoço provocando morte instantânea.
O
imperador, bastante condoído, sequer pôde imaginar o que teria provocado aquela
corrida para a morte.
Já
Domitila, chorosa, guardava para si o que imaginava ser a razão daquela
tragédia.
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