Elucubrações de um homem só - Ledice Pereira

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Elucubrações de um homem só
Ledice Pereira

Mais um dia aqui neste farol acho que nem sei mais conversar com alguém falo sozinho o dia todo são vinte e cinco anos e às vezes penso estar ficando louco.
Há dias que a força das águas é tanta que tenho a impressão de estar navegando por outros mares noutros a monotonia me leva a viajar em pensamento como se estivesse sonhando vejo-me ao longe atravessando as águas até alcançar outro continente.

Nem mesmo sei se isso é um sonho ou se é meu pensamento a me levar por esse mundo afora.

O pior é que só sei fazer isso em minha vida sem graça.

Desde garoto acompanhava e me orgulhava de meu pai e do seu trabalho de faroleiro. Quando ele se foi chamaram-me para trabalhar aqui. Eu era tão jovem!

A princípio eu gostava. Imaginava-me um navegante a conhecer outros universos. Mas um dia, já mais velho, enxerguei a realidade. Que deste lugar jamais sairia porque a mim não foi dada outra oportunidade.

Hoje, nos meus quarenta e poucos anos, sinto-me um velho solitário e ranzinza que não aprendeu a conviver com pessoas. Que mal sabe conversar  e não suporta ruídos de crianças, nem de animais e que a única música que conhece é o canto dos pelicanos e das gaivotas que insistem em voar por aqui arrebatando os peixes que, inocentemente, fazem malabarismos nas ondas do mar.

Preciso urgentemente sair daqui corro serio risco de enlouquecer.

Socorro!!!  

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