LABIRINTO DO AMOR
Silvia Helena De Ávila
Tinha ares de palácio o casarão para
onde a Marquesa de Santos fora mandada. Tão logo viu-se sozinha, sentiu-se
duramente traída pelo amante. Amante
este, dom Pedro, por quem cada vez mais ela se desdobrava na tentativa de
agradar. Agradar nos trajes costurados
pelas melhores estilistas da corte, na maneira delicada com que o recebia nos
seus aposentos e, principalmente, na arte da sedução. Sedução em que foi se especializando e para
isto o casarão contribuía sobremaneira. A imaginação da marquesa Domitila não
encontrava limites. Era nos inúmeros caminhos dos jardins da casa que ela se
recolhia. Recolhia flores para
macerá-las e fazer misturas que brincava de espalhar pelo chão dos corredores
desse jardim a fim de que d. Pedro a
encontrasse depois de seguir o intenso aroma.
Todos os dias descobria novas
combinações aromáticas e queria testá-las. Das experiências isoladas em
frascos, passou para testes no próprio corpo. A pretexto de divulgar sua nova
habilidade, encontros furtivos com outras pessoas foi o passo seguinte em que se viu envolvida.
Ao saber de seu interesse por sais de
banho e velas aromáticas e, principalmente da frequência de pessoas novas no
palácio, d. Pedro tratou de apresentá-la ao
perfumista da corte real,
Sebastião da Luz, homem taciturno, de poucas palavras que relutou
intensamente em ajudar a amante do imperador em suas experiências fantasiosas.
Passava, a contragosto, uma tarde por semana na companhia de Domitila, para
iniciá-la na arte das fragrâncias. Por vezes ela o liberou do ofício, de tal
modo era desagradável. Jamais pôde imaginar que ele tinha sido contratado por
d. Pedro para vigiá-la.
De quieto e mal humorado, Sebastião
foi mudando, deixou-se encantar pelo jeito alegre da marquesa. Queria vê-la
mais vezes, então passou a arranjar novas plantas que precisava mostrar a ela, de modo que suas idas ao
palácio ficaram frequentes. Todos os serviçais já desconfiavam das visitas
íntimas do perfumista. Por vezes os experimentos terminavam no quarto da
marquesa.
Certa vez, d. Pedro, chegando de
surpresa, fez o renomado alquimista
pular a janela, sair correndo pelos fundos, percorrendo exatamente os
labirintos do jardim onde tantas vezes estivera com a amante colhendo folhas e
flores. O imperador confiava plenamente em Sebastião, de tal modo que nem o cheiro que ele exalava, o aroma
escolhido por ele e a marquesa para ser o
perfume-símbolo do amor que os unia, fez com que o imperador jamais
desconfiasse de nada.
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