Sem consideração
Paulo
A. Abrahamsohn
Vou
para cá, vou para lá, para cá para lá. O dia inteiro é assim.
Ela
não tem nenhuma consideração comigo.
Não
imagina que neste para cá, para lá, eu às vezes fico tonta, quase desmaiando,
quase desfalecendo.
Este
para cá, para lá, nem é o pior. Pior é ficar me batendo, me martelando o tempo
todo. E eu sei que cada batida é um instante a menos em minha vida.
Ela
não percebe que a cada batida nossa separação fica mais próxima. E justamente
agora quando eu estou até começando a adivinhar seus pensamentos. Já sei as
palavras em que ela está pensando. Mas esta ingrata não percebe como eu ajudo,
como sou importante.
Ela
sabe que quando eu estiver totalmente gasta serei jogada na cesta de lixo sem
nenhuma consideração. Nem sei se posso ir para o lixo de reciclagem ou não.
E
aí, esta máquina de datilografia vai colocar outro carretel com a fita. Vai
maltratar a fita com as suas teclas como maltratou a mim e a muitas outras. E
vai me esquecer totalmente.
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