CONVERSA COM O ESPELHO
Antonia
Marchesin Gonçalves
O espelho do meu banheiro é o meu
confessor. Creio nas imagens que ele reflete, creio nas mensagens que ele dita
ao me ver diante dele. Um espelho que me aconselha, que me envaidece, me
inspira. Que idiotice! pensaria quem ouvisse. Como pode você falar com o espelho? Pois
é assim que sinto, antes de deitar ao remover a maquiagem do olho, enfrento o
que ele espelha friamente, o cansaço do dia, os traços da idade que parecem
realçar àquela hora da noite. Também pudera, que dia estressante eu tive. Em
outros momentos ele também procura ser meu cúmplice quando me mostra o outro
lado de mim. Está alegrinha, hoje tomou umas e outras, hein?
E quando no desespero, sozinha,
me olho e reflete o choro sem parar, tentando tirar forças de dentro, respiro
fundo e o reflexo me diz, você consegue não esmoreça. Ao acordar me vejo e ele
me diz, está amassadinha, dormiu bem pesado, hein? Saída do banho ao me secar,
ele reflete a satisfação da água vigorosa e quente, que fez a circulação do meu
corpo vibrar, me diz, está vermelhinha.
Mas a hora mais demorada onde eu me vejo
analisando minhas decisões, como, o que deveria ter feito ou falado, é a hora
de me maquiar, aí ele me espelha se ficou bem, se preciso mais lápis nos olhos,
mais cor nas bochechas ou um batom com uma cor mais intensa.
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