A BOLACHA - Antonia Marchesin Gonçalves


                              

 A  BOLACHA
Antonia Marchesin Gonçalves


                Nasci de uma mistura de ingredientes, fui sacudida dentro de uma batedeira e assim tomei outro formato, nem muito líquida e nem muito sólida.  Ao tomar a consistência cremosa, já começava a me achar gostosa.

                Todas unidas às várias moléculas de ingredientes diferentes, fomos sendo despejadas numa bandeja grande para descansar. Após o descanso fomos todas para o forno, que delícia de calorzinho até chegamos a um sono relaxante, fazendo com que ficássemos bronzeadas,  gorduchas e crocantes, creck, crek , no ponto.

                Foi triste quando fomos arrancadas das bandejas, bem que tentamos não desgrudar umas das outras, era difícil a separação. Fomos sendo acondicionadas em pacotes, todas juntas, apertadas, empacotadas e encaixotadas. para o mercado. Quando percebemos, estávamos no mercado, e novamente separadas fomos, e vendidas. Para novos destinos.

                Eu, quieta em minha caixa com minhas irmãs, alí fiquei, até chegar um garoto esfomeado que subiu na cadeira para nos alcançar. Dalí por diante foi um pânico geral! Ele começou a nos devorar, uma por uma. Fui sendo deglutida e me transformando novamente numa massa só, envolvida por ácidos do estomago que me digeria, azedos e de cor amarela, nojento.

                No dia seguinte fomos despejadas com outras transformações num líquido nada cheiroso e dissolvidas. Fui uma boa bolacha.
               

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