MÉNAGE À TROIS
Oswaldo
U. Lopes
Era um autêntico ménage à trois: a
garrafa de vinho, a rolha e o anel apara-gotas.
Se a rolha saia, entrava o anel, se
sobrava vinho, a rolha voltava e o apara-gotas ia descansar.
Cada um sabia a hora de sumir e de voltar,
tudo a seu tempo, numa cadência certa e programada.
Pode haver outros personagens, mas são
apenas figurantes na história. Por exemplo, o saca-rolha, verdade seja dita,
indispensável, pois sem ele não havia encontro nem romance, porém passageiro. Ele é como um prólogo, abre o espetáculo, mas
dele não participa.
Se o vinho é de qualidade, é possível
que apareçam, uma linda base de apoio ou um bonito guardanapo que envolve
voluptuosamente a garrafa. Refinados,
mas ainda figurantes.
O básico mesmo são os três amantes. Por
vezes a rolha não quer abandonar o adorado vinho e teima em não sair. Entra em
ação aquele instrumento com duas hastes longas que envolvem a rolha que chorosa
acaba se desprendendo. É útil, sobretudo para as mais antigas que tenham estado
em contato com o vinho por anos a fio e com ele trocado longevas caricias.
O apara-gotas é de longe o mais sóbrio.
Entra quando a rolha sai e contenta-se com umas tantas gotas lambidas no
escorrido.
A cultura, a tradição e o tal serviço
fino, inventaram mil e uma traquitanas que envolvem o prazer do vinho: bomba de
pressão para tirar a rolha, invólucro para manter a temperatura desejada,
termômetro para acertar o ponto de servir etc.
O básico continua o mesmo: rolha que
sai, apara-gotas que entra e vinho que escorre. Como em todo ménage à trois que
dá certo o final é alma leve e alegria geral.
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