A MAQUIAGEM DA ALEGRIA - Sérgio Dalla Vecchia



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A MAQUIAGEM DA ALEGRIA
Sérgio Dalla Vecchia


Em um discreto circo da periferia, Pimpão era a alegria da garotada nas matinês de Domingo.

Tapas na cara, pontapés no traseiro, pauladas na cabeça, tombos dos mais diversos e o gran finale, com uma correria desenfreada pelo meio da plateia, no ritmo alegro da bandinha, orquestrada pelas gargalhadas das crianças.

Finda a apresentação, Pimpão diante do espelho no camarim, sofre uma metamorfose, enquanto a maquilagem do rosto sorridente, da grande boca vermelha vai sendo removido. Surge então, a fisionomia triste de um pai, com lágrimas da memória, por ter perdido um filho há pouco tempo.

O filho, ainda menino, fazia parte da plateia em todas as apresentações e o aplaudia com muita alegria. Queria ser palhaço como o pai.

Ocorreu que há alguns meses, durante um espetáculo, houve uma tentativa frustrada de fuga de um dos leões e surgiu  pânico entre os expectadores.

As pessoas em desespero debandaram-se em disparada. Durante a correria, alguns foram derrubados, principalmente os menores. Seu filho foi um deles. Na queda, bateu a cabeça fortemente na quina da arquibancada e perdeu os sentidos instantaneamente.

O resgate chegou e o levou para a Santa Casa da cidade.

Os médicos fizeram de tudo para salvá-lo, mas a lesão ocorreu em uma parte vulnerável do cérebro. Daí, o coma e a morte precoce.

Assim em cada apresentação Pimpão se esmera nas palhaçadas especialmente para seu filho, que para ele, estará sempre na plateia o aplaudindo de pé.


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