MALANDRO É MALANDRO, E MANÉ É MANÉ - Ledice Pereira







MALANDRO É MALANDRO, E MANÉ É MANÉ
Ledice Pereira




Joca se gabava entre os colegas de passar a perna em todo mundo.

Ficava com o troco da padaria, dizendo pra mãe que não tinham lhe dado troco nenhum.

Escondia o maço de cigarro, mas deixava no bolso os vestígios do fumo.

Fugia, pela janela do quarto, depois que a mãe julgava que já estivesse dormindo, só pra assistir aos jogos que rolavam ali perto.

Achava-se o esperto.

Não gostava de estudar embora em matemática, até se virasse bem. Tinha bom raciocínio.  Entretanto, costumava arranjar um Cristo que lhe passasse cola de História, Ciências e Língua Portuguesa. Para isso, geralmente, usava de alguma chantagem.

Fim de ano chegando, período de provas se aproximando. O professor de História, tendo percebido a jogada do garoto, resolveu armar-lhe uma ratoeira. 

Combinou com os demais professores de distribuir as provas e a folha de respostas, sem comentar que as mesmas continham questões diferentes para cada grupo de aluno.

Joca costumava rir de Pedrinho, um garoto tímido e muito estudioso que, em geral, tirava as melhores notas da classe.

Sabendo que o ponto fraco do menino era o medo que tinha de piscina, ameaçava jogá-lo de roupa e tudo, caso não o ajudasse nas provas.

Com essa armadilha, Joca acabou saindo-se muito mal. Tirou notas abaixo de três, amargando dois meses de recuperação em tempo integral. Além do carão que teve que passar perante os pais que não haviam percebido (ou não queriam perceber) o caráter do fingido, aplicando-lhe um bom castigo.

Até a garota, que ele vinha tentando conquistar, virou-lhe as costas.

O garoto, que usava de tantos subterfúgios, a duras penas percebeu que quem malandro é, vira um tremendo Mané.  

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