AMOR DERRETIDO
Sérgio Dalla Vecchia
Papelito
Envolventes era um apaixonado. Não desgrudava da namorada Sorvetova Picolé.
Dava gosto de ver a sintonia do casal, ele protetor e ela fresquinha. Ele a envolvia carinhosamente
com seu colorido casaco impermeável, onde ela aconchegada, sentia-se protegida.
Sorvetova
precisava de cuidados, era portadora de uma síndrome rara, que a impedia de
conviver em temperaturas tropicais, caso contrário seu corpo derreteria, daí a
dedicação do Papelito.
O
romance se iniciou numa fábrica de sorvetes, quando Sorvetova desfilava na
esteira transportadora, vestindo um baunilha irresistível. Foi quando passou junto
de Papelito, que imediatamente foi empurrado em direção a ela, pelo seu amigo
Robô, e de repente se viu abraçado naquele corpo carente.
Não
houve tempo para conversarem, logo foram empacotados em caixa de papelão,
juntamente com outros casais e levados à uma lanchonete, onde um freezer os
aguardava.
A
vida no freezer até que era boa, sem barulho, estresse e muito menos trânsito,
até que surgiu o pânico. Foi quando um braço peludo abriu o freezer e invadiu o
local, rasgou com a mão bruscamente a caixa de papelão, retirou um os casais e o
levou não se sabe para onde. Talvez até para o beleléu!
Desse
momento em diante, a vida se tornou uma tortura. Toda vez que a porta se abria,
os casais apavorados rezavam para não serem os próximos escolhidos. Quanto mais
a caixa esvaziava, Papelito e Sorvetova se desesperavam aguardando a vez.
O
medo esquentava o gelado casal e o desânimo aflorou.
Enfim
chegou o dia!
A
mão peluda invadiu, logo agarrou Sorvetova pela perna com o Papelito grudado.
No caminho foram carregados ora pela perna, ora pelo corpo até que foram ter
nas mãos de um menino.
O
guloso salivava pela Sorvetova, e imediatamente retirou o Papelito, desnudando
aquele atraente corpo cremoso.
Jogou
Papelito violentamente na lata de lixo, enquanto abocanhou um pedaço da
indefesa Sorvetova. O prazer do menino era enorme sugando aquela doce porção,
enquanto o que restou da mordida foi se esvaindo pelos dedos da mão do menino,
lambuzando o braço, pernas até atingir o chão, já totalmente liquefeito.
O
banquete só terminou, quando as lambidas não encontram mais nada para saborear,
do derretido corpo da pobre Sorvetova.
Assim
o apaixonado Papelito, no lixo, nada pode fazer em defesa da amada. Só restou a
esperança de ser reciclado e encontrar outra Sorvetova, mais jovem com outro
sabor, de preferência morango!
Que imag8nação, Sergio! Dessa vez você se superou rsrsrs.
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