MALANDRO PRA NINGUÉM BOTAR DEFEITO
Oswaldo
U. Lopes
Zuca era malandro num tempo em que a
malandragem já era e o destino do dito cujo, como já anunciava Chico Buarque,
era ter carteira assinada e contribuir para o INSS. Ou isto, ou pegar um
freezer, quer dizer, entrar em fria.
Os colegas, todos chegados a ouvir funk, ou o mais moderno punk, com fones nos ouvidos e balançando a cabeça, não se
davam conta das armações do Zuca, sobretudo as desculpas.
Havia apenas uma ocasião, dessas que não
faz o ladrão, mas o covarde, em que todos na sala de aula, tiravam os fones e
permaneciam atentos.
Era na aula do Prof. Atílio, terrível
mestre de língua e literatura portuguesa que gostava de dar provas sem aviso
prévio ou que quando inquerido sobre o que iria cair no exame, concluía voluptuoso:
— Lágrimas.
O tal do Atílio já jogara pela janela um
par de fones de ouvidos, inocentemente usados em aula. O resultado era silêncio
e tensão crescente.
Era um bom combate, Zuca chegando
atrasado e Seu Atílio inquerindo a razão e o mestre das desculpas explicando:
—
Foi o enterro do meu tio.
—
Hoje faleceu minha avó.
—
Velório do meu primo.
Até que num dia fatal, ante novo atraso,
seu Atílio fuzilou tonitruante e pausadamente:
—
Então, seu Zuca, quem morreu desta vez?
—
Pelo tom de sua voz, professor, foi minha mãe.
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