O palhaço - Maria Verônica Azevedo




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O palhaço
Maria Verônica Azevedo



        A lona do circo foi montada num lugar pouco apropriado.

        Não tinha um descampado. Estava lá no meio da vegetação. Mal dava para se ver de longe.

        A fila para entrar forçava as pessoas a passar embaixo do chorão que atrapalhava a visão do vão da entrada. Com isso, aconteciam encontrões.

        O palhaço fazia as honras. Esperava o público na entrada.

        A cada tropeço dos estabanados, ele se desmanchava em caretas e imitações de choro.

        Quando a sirene tocou, o palhaço abandonou a entrada. Foi para o centro do picadeiro. Ia começar a função.

        O público estava nervoso, mas o palhaço logo fez a aflição se desmanchar em gargalhadas. Aos poucos ele foi diminuindo as brincadeiras até ficar parado no meio do picadeiro imóvel como uma estátua. As luzes começaram a piscar variando suas cores sem parar. Uma música forte e animada forçou todos a pararem de conversar e focar a atenção no picadeiro. Fez-se o silêncio.

        Então surgiu um elefante com passos lentos trazendo em suas costas uma bailarina a princípio sentada. Quando o animal parou no meio do picadeiro, ela, num movimento gracioso num segundo estava de pé sobre ele, acenando para o público.

Foi uma alegria geral. Mas assim que ela começou a fazer suas acrobacias sustentando o corpo com uma mão só sobre o dorso do Elefante, a plateia ficou em suspenso. Para aumentar a tensão, a banda de música começou a tocar provocando suspense. A moça ia dar um salto no ar e cair de novo no mesmo lugar. Uma criança assustada deu um grito estridente. Com isso o elefante se desconcentrou. Deu um passo a frente. A bailarina que estava no meio do salto, caiu de qualquer jeito batendo na traseira do elefante e depois no picadeiro. O palhaço em desespero correu para acudir. Foi ele quem levantou a bailarina nos braços e olhou para o público chorando.

Do meio da plateia surgiu um casal afobado que foi abrindo espaço entre as pessoas que gritavam... Eram dois médicos que queriam acudir. Ajoelharam ao lado da moça ferida. Com um exame rápido viram que ela estava viva, porém bem machucada. Com um chamado pelo celular, o médico acionou o socorro. Pouco depois se ouviu a sirene. A ambulância se aproximou da lona do circo. Com uma maca a equipe de socorro resgatou a bailarina e a levou dali para o hospital. O palhaço foi junto.

No hospital as pessoas não entendiam porque o palhaço estava em estado de choque. Será que ele era parente da bailarina? Mas não. Ele era um médico cirurgião conceituado que abandonara a profissão depois que uma criança não tinha resistido a uma cirurgia feita por ele. Ela era a filha da bailarina. Esta era a razão da angústia do palhaço.

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